Caruaru

Checamos: Caruaru tem a maior feira ao ar livre do mundo?

Não foi preciso nem sair do país para encontrar concorrentes. Ao buscar por "maior feira ao ar livre" no Google, outros dois complexos brasileiros que também reivindicam para si o título aparecem entre os primeiros resultados

Débora Oliveira
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Débora Oliveira
Publicado em 17/11/2020 às 10:46 | Atualizado em 10/12/2020 às 15:16
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Prefeitura de Caruaru tentou controlar acessos, onde temperatura de feirantes e clientes era aferida - FOTO: DIVULGAÇÃO

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Matéria produzida pelo projeto Confere.ai em parceria com o Jornal do Commercio. - confere.ai

Seguindo a série de checagens sobre a megalomania pernambucana, hoje o Confere.ai estacionou no parque 18 de Maio, área central da feira de Caruaru para saber se ela é ou não a maior feira ao ar livre do mundo.

Não foi preciso nem sair do país para encontrar concorrentes. Ao buscar por “maior feira ao ar livre” no Google, outros dois complexos brasileiros que também reivindicam para si o título aparecem entre os primeiros resultados. Um deles é situado em Belém do Pará, o mercado Ver-o-Peso, rodeado de uma extensa área de barracas; o outro funciona no largo da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte: a Feira de Artes, Artesanato e Produtores de Variedades (mais conhecida como Feira Hippie).

Como checamos

Para descobrir qual delas é a maior, tentamos medir a área na qual as feiras estão localizadas. Solicitamos aos órgãos que as administram os limites oficiais dos locais onde funcionam os estandes e barracas. Com essa informação em mãos, delimitamos os pontos que circundam os equipamentos utilizando a ferramenta Google Earth e calculamos uma área.

Logo foi possível perceber que o cálculo estaria muito distante da metragem real das feiras, pois dentro da área onde todos os equipamentos funcionam, também há espaços que não fazem parte dos complexos. Neste caso, comparamos os números das medições feitas por órgãos oficiais.

O complexo de vendas de Caruaru é formado pelas Feira do Gado, Feira de Artesanato, Feira Livre, Feira da Sulanca e Feira dos Importados. Além dessas feiras, que se subdividem em outras feiras, há o Mercado de Farinha, o Mercado de Carne, a Casa de Cultura José Condé e o Museu do Cordel Olegário Fernandes. Sua principal concentração é no parque 18 de Maio. Ao todo, a feira compreende uma área de 154,4 mil metros quadrados, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Os dados se aproximam da metragem estimada pela Secretaria de Cultura e Turismo de Caruaru, que é de 134,3 mil metros quadrados no total e, aproximadamente, 7,6 mil m² de áreas cobertas.


Ver-o-Peso, por sua vez, possui dois mercados cobertos: o de Ferro (Peixe) e o Francisco Bolonha (Carne) além das áreas ao ar livre que compreendem a feira do Açaí, as Praças do Pescador e do Relógio e a Doca do Ver-o-Peso, de acordo com o registro do Iphan. A área inteira do complexo não supera a de Caruaru. Dados da Secretaria Municipal de Economia de Belém (Secom) e do Iphan calculam de 20 a 25 mil metros quadrados, respectivamente.

A terceira concorrente a maior feira ao ar livre do Brasil, a belo-horizontina Feira Hippie, é a única que não é registrada ou tombada pelo Iphan. A partir do mapa divulgado pela Gerência Regional de Execução de Feiras – Centro-Sul (GREFE-CS) de Belo Horizonte, podemos calcular uma extensão de 956m utilizando o Google Maps, já que a feira é concentrada em parte da Avenida Afonso Pena. O órgão informou que não dispõe de dados sobre a área e que seria necessário um esforço interno extra para calcular. Além disso, é importante lembrar que este dado é atualizado com uma frequência maior, pois as barracas só são montadas aos domingos sob concessão de espaço. Na pandemia, por exemplo, houve uma ampliação. Agora as barracas são montadas desde a avenida Carandaí até a Praça Sete de Setembro, espaço compreendido pelo mapa que utilizamos.

Apesar de ser a única totalmente ao ar livre das três concorrentes, se a compararmos com a área não coberta, Caruaru ainda é maior, com seus 126,6 mil metros quadrados contra 44,3 da Feira Hippie, pela nossa medição no Google Earth, seguindo os limites do mapa divulgado pela GREFE-CS.

Outro destaque é o crescimento desordenado da feira caruaruense, que se ampliou em quase cinco vezes nos últimos anos, segundo o Iphan. Dessa forma, os feirantes chegam a ocupar ruas adjacentes à praça e vias públicas que também não foram consideradas na metragem. Na alta estação de vendas chegam a somar 10 mil novos vendedores.

Se não considerarmos a extensão como o único argumento para defender uma ou outra, podemos olhar para a quantidade de feirantes. Neste caso, Caruaru permanece no pódio, com 11,6 mil feirantes. A Feira Hippie reúne cerca de 1,7 mil expositores e a Ver-o-Peso soma 1,2 mil permissionários cadastrados na Prefeitura de Belém.

No fim das contas...

De acordo com Moisés Sarraf, Assessor do Iphan, o título de “maior feira livre” não é concedido pelo órgão a nenhuma localidade. A crença fica por conta do bairrismo e imaginário de um local. “O que acontece é de em alguma publicação as feiras serem referenciadas como ‘conhecida por ser a maior feira’ etc.”

Um detalhe feliz para os megalomaníacos: a feira de Caruaru é a mais antiga das três. Segundo o dossiê do Iphan, as primeiras vendas começaram a funcionar logo depois da inauguração da Capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, em 5 de outubro de 1782 até se espalhar pelos arredores da cidade e em maio de 1992 ser transferida para o parque central.

A de Belém veio logo depois, com a construção do Mercado da Carne em 1901, o primeiro inaugurado em Ver-o-Peso. O conjunto arquitetônico paraense foi reconhecido pelo Iphan, em 1977. Por fim, em 1969, a Feira Hippie começou a funcionar. Criada por um grupo de artistas e artesãos, na Praça da Liberdade, foi oficializada em 1972 pela prefeitura até ser transferida para a Avenida Afonso Pena, em 1991.

Cheque você também

Um dos princípios da checagem de fatos, utilizados nesta matéria, é sempre recorrer a mais de uma fonte oficial para confirmar uma informação. Para descobrir se outras afirmações populares se sustentam, lembre-se de procurar os dados em fontes oficiais como os sites e bases das prefeituras, órgãos governamentais, universidades, pesquisas científicas e outros.

Se quiser verificar a quantidade de características de desinformação em boatos sobre política, saúde e outros temas de relevância para a sociedade, você pude usar o Confere.ai, a primeira ferramenta de checagem automática do Nordeste. Basta copiar e colar um link e jogar no campo de busca da plataforma, que ela te responderá com um medidor de desinformação. Assim, você evitar repassar mentiras por aí.

Tutorial Confere.ai

 

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