O Brasil já tem 19 pequenas mutações do novo coronavírus (covid-19). É o que apontam pesquisas conduzidas pelo Instituto Adolfo Lutz, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Essas "linhagens" diferentes do vírus podem fazer com que uma mesma pessoa possa adoecer mais de uma vez de covid-19.
Na última semana, São Paulo confirmou o seu primeiro caso de reinfecção, de uma mulher de 41 anos, moradora do município de Fernandópolis. A paciente teve a primeira confirmação para a doença em junho. Cento e quarenta e cinco dias depois, recebeu novo diagnóstico positivo. A mulher teria adquirido uma nova forma da doença, de linhagem distinta. São Paulo tem mais 37 casos semelhantes em investigação; já no País são 58 pacientes investigados.
Em entrevista à Folha de São Paulo, o infectologista Wladimir Queiroz, do Instituto Emílio Ribas, afirmou que a confirmação de uma reinfecção é feita "após a comparação do sequenciamento genético do vírus na primeira e na segunda vez. Esse material é obtido nas amostras colhidas nos exames RT-PCR --em que é coletada secreção do nariz e da garganta do paciente por meio de uma haste flexível."
Ele diz que suspeitas de reinfecção "não foram comprovadas justamente porque não tinham a primeira amostra do vírus para fazer o sequenciamento genético", e que não há como afirmar se uma nova infecção pode ser mais grave do que a primeira ou não.
Também em entrevista à Folha, o diretor de Respostas Rápidas do Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz, Adriano Abbud, explicou os todos os organismos sofrem mutações e que isso não interferirá no plano de vacinação contra a doença. "As mutações são muito pequenas, como diferenças nos genes dos vírus. Porém, não é uma diferença que vai alterar a proteína de ligação, que vai impedir com que a vacina atue. Não funciona assim. É óbvio, a gente não pode escrever isso em pedra, mas a chance é muito pequena de essas alterações interferirem em como a vacina vai atuar nos imunizados", afirma.