Pandemia
Porto Alegre tem fila para registro de óbitos em meio ao avanço do coronavírus
O cartório da Central de Atendimento Funerário, que antes realizava cerca de 60 atendimentos aos sábados, tinha agora 148 solicitações
A alta de casos e mortes por covid-19 no Rio Grande do Sul já se reflete nas ruas. Uma fila de pessoas em busca de certidões de óbitos foi formada entre a noite de sábado, 13, e a madrugada de domingo, 14, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, onde fica o cartório da Central de Atendimento Funerário. O local, que antes realizava cerca de 60 atendimentos aos sábados, tinha agora 148 solicitações.
De acordo com a assessoria de imprensa da central, a aglomeração - que chegou a resultar em discussões e até intervenção da guarda municipal - foi uma consequência da alta nos atendimentos e da burocracia natural para a emissão de documentos.
A liberação dos corpos para sepultamento, cremação ou translado, ocorreu sem contratempos. O cartório, porém, foi aberto excepcionalmente neste domingo para conseguir atender à demanda.
Na última semana, a central funerária atendeu mais de 100 pessoas por dia, com pico no sábado. A capital gaúcha vive um momento dramático no combate à covid-19.
A ocupação de UTIs está acima de 100% há mais de 10 dias. De acordo com o último boletim divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) na quinta-feira, 11, 187 pessoas aguardavam por um leito, tanto na rede pública quanto privada.
Segundo dados da prefeitura, até o meio dia do sábado, 266 pessoas aguardam por vagas em pronto atendimento e emergências.
Espelho estadual
A situação de Porto Alegre reflete a crise de todo Rio Grande do Sul, que há mais de duas semanas está em bandeira preta em todos os municípios. Até o último sábado, o Estado registra no total 14.885 mortos e 36.896 casos de covid-19.
Além da falta de leitos, o governo estadual começa a ter problemas para garantir respiradores aos pacientes que precisam ser entubados. De acordo com o levantamento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), a taxa de uso do equipamento é de 84,9%.
Embora no quadro geral ainda não exista a falta dos respiradores, a distribuição pelos municípios já deixa alguns pacientes sem o equipamento. Para tentar garantir o atendimento, governantes municipais buscam empréstimos em cidades vizinhas.
Neste domingo, a SES anunciou a compra e locação de equipamentos, que serão enviados para diversos municípios do Estado. De acordo com a secretaria, o material permitirá a abertura de 183 leitos adultos de UTI nos próximos 15 dias.
O governo também conta com 10 respiradores doados pela empresa JBS e mais 50 anunciados pelo Ministério da Saúde na quinta-feira.
Entre os municípios que irão abrir leitos estão Santo Antônio da Patrulha, Palmeira das Missões, Esteio, Alvorada e Cachoeirinha.
A diretora do Departamento de Gestão da Atenção Especializada da SES, Lisiane Fagundes, alerta que mesmo com os novos equipamentos, a população precisa seguir os protocolos de isolamento e distanciamento. "Com esse esforço, conseguiremos aumentar ainda mais a rede SUS no Estado para tentar atender todos os pacientes que precisam, neste momento que é o mais crítico da pandemia. Mas reforçamos que a população precisa colaborar, seguindo rigorosamente os protocolos sanitários e evitando sair de casa, para que possamos frear os contágios."
Desde o princípio da pandemia, o governo estadual apostou fortemente na abertura de leitos de UTI como uma das medidas para combater a doença. O Estado passou de 933 leitos para 2.214 em um ano.
Mesmo assim, a velocidade de proliferação do coronavírus e a flexibilizações no isolamento desde novembro levaram o sistema de saúde ao limite.
Embora o ritmo de vacinação do Rio Grande do Sul esteja entre os 10 melhores do País, com um total de 803,6 mil doses aplicadas, ele ainda não é o ideal para atender a população rapidamente.
Números da Central de Atendimento Funerário de Porto Alegre:
Dia 8 - 113
Dia 9 - 123
Dia 10 - 106
Dia 11 - 124
Dia 12 - 115
Dia 13 - 148