COVID-19

Após uso de kit covid, pacientes vão para fila de transplante de fígado e mortes são registradas, diz jornal

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o uso do chamado 'kit covid', que reúne medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, levou cinco pacientes à fila do transplante de fígado e está sendo apontado como causa de três mortes

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JC

Publicado em 23/03/2021 às 18:55
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A utilização do chamado 'kit covid', que reúne medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, levou cinco pacientes à fila do transplante de fígado em São Paulo e está sendo apontada como a causa de ao menos três mortes por hepatite causada por remédios, de acordo com médicos ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Médicos observam hemorragias, insuficiência renal e arritmias entre pessoas que fizeram uso desse combo de medicamentos, que inclui hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e anticoagulantes. Segundo o Estadão, o aumento desses casos, relatados pelos profissionais de saúde, coincide com o agravamento da pandemia no Brasil.

Mesmo sem indícios de que os remédios funcionem contra a covid-19, médicos continuam prescrevendo receitas com as medicações do kit covid, propagandeadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em diversas ocasiões.

Ivermectina é um dos medicamentos que foram utilizados pelos cinco pacientes que entraram na fila de transplante de fígado, segundo o jornal. Quatro deles foram atendidos no Hospital das Clínicas da USP e o outro no Hospital das Clínicas da Unicamp. Eles chegam com pele amarelada e com histórico de uso de ivermectina e antibióticos.

"Quando fazemos os exames no fígado, vemos lesões compatíveis com hepatite medicamentosa. Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino”, disse ao Estadão Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP e professor da universidade.

O especialista contou ao jornal que, dos quatro pacientes colocados na fila do transplante no HC-USP, dois tiveram doença aguda e morreram antes da operação.

"É uma combinação de altas dosagens com a interação de vários medicamentos. A substância desencadeia um processo em que a célula ataca outros células, levando a fibroses, que causam a destruição dos dutos biliares", relatou ao jornal Ilka Boin, professora da Unidade de Transplantes Hepáticos do Hospital das Clínicas da Unicamp, onde um paciente espera por transplante.

Além dos dois óbitos de pacientes do HC-USP, outra morte por doença hepática aguda foi registrada em uma unidade particular de Porto Alegre, informou a neurologista Verena Subtil Viuniski ao Estadão. Exames mostraram que o paciente desenvolveu encefalopatia hepática, quando o cérebro é deteriorado por toxinas que o fígado não conseguiu filtrar.

"As enzimas do fígado estavam 30 vezes mais altas do que o normal. Dez dias antes, ele tinha tido covid e tomado remédios do kit", disse a médica. 


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