Desabamento do Edifício Andréa no Ceará, completa 2 anos nesta sexta-feira (15)
Com nove pessoas mortas e sete feridas, o Edifício Andrea desabou no dia 15 de outubro de 2019; relembre histórias de recomeços e o desafio de quem trabalhou em busca de salvar vidas
A tragédia do Edifício Andréa, localizado na rua Tibúrcio Cavalcante, no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza, completa dois anos nesta sexta-feira (15). O ocorrido deixou nove pessoas mortas e outras sete pessoas feridas. A data é lembrada com muita dor para aqueles que perderam familiares na tragédia, mas também representa um novo recomeço de vida para aqueles que conseguiram sobreviver. A matéria é do jornal O Povo para Rede Nordeste.
Um novo recomeço existiu para Clotário Sousa Nogueira, de 79 anos, e Ana Maria Ramos Nogueiras, de 75 anos, que sobreviveram à tragédia após uma ida ao banco, cerca de dez minutos antes do desabamento. O casal morava no edifício há quase 40 anos e dividiam o apartamento de dois andares com a filha, o genro e a neta, que também não estavam em casa no momento do incidente.
Cibele Nogueira, uma outra filha do casal, contou que não era comum os pais saírem de casa pela manhã, pois seu pai, Clotário, resolvia questões do banco sozinho, mas insistiu para que a esposa fosse naquele dia.
“Eles saíram pela força de Deus, não era algo da rotina deles. Meu pai tinha esquecido a carteira na casa deles em Horizonte. Só quem podia sacar o dinheiro era a minha mãe, então ele insistiu que ela fosse junto”, relata Cibele, que também morou no Edifício Andréa com os pais desde os 15 anos.
Cibele é nutricionista no Hospital e Maternidade Venâncio Raimundo de Souza, no município de Horizonte, e contou que foi avisada sobre o desabamento do prédio enquanto trabalhava e tinha certeza, pelo horário do ocorrido, que seus pais estavam em casa e tinham morrido. A notícia foi dada por um tio de Cibele, que ligou chorando para avisar que o edifício tinha desabado.
“Eu tinha recebido uma foto no WhatsApp de um prédio que tinha caído, mas não prestei atenção. Quando meu tio me ligou, eu entendi que tinha sido o prédio dos meus pais. Com isso, eu logo pensei que eles estivessem lá, já que não costumam sair durante o dia. Como era de manhã, eu tinha certeza que estavam em casa”, contou Cibele.
Depois de ser avisada, Cibele ligou para a irmã que morava com os pais, mas não foi atendida. Ela também tentou entrar em contato com os pais, mas não obteve sucesso. Com a falha na comunicação, ela aumentava a certeza de que seus familiares poderiam estar entre os escombros do prédio. Em estado de choque e incapaz de dirigir, ela precisou de ajuda para que alguém a trouxesse de Horizonte para Fortaleza.
“Quando eu já estava saindo de Horizonte há 20 minutos, com a certeza de que eles estavam mortos, a minha irmã me ligou dizendo que a nossa mãe tinha ligado do banco para informar que eles estavam no banco e que tinham conseguido sair do prédio cerca de dez minutos antes dele desabar”, relembra Cibele.
Para a nutricionista, nenhum de seus familiares estar em casa no momento do desabamento foi um grande milagre. Hoje, Cibele diz que é impossível esquecer da data, pois ela marca como uma segunda chance de vida que foi dada aos seus pais, irmã, genro e sobrinha.
Atualmente, a filha, o genro e a neta do casal não moram mais com eles. Cibele relatou que os pais aprenderam a lidar com a situação como um recomeço e que estão se adaptando a viver em um local mais simples, comparando-se à cobertura em que moravam no Andréa. “Eles estão bem e felizes, se readaptando com uma nova vida, apesar dos pesares. Graças a Deus que sobreviveram todos”, finaliza Cibele.
Profissionais que possibilitaram uma segunda chance para sete vidas
Durante a operação, sete pessoas foram encontradas com vida após o desabamento que durou cinco dias, com turnos, equipes e locais diferentes para que mais pessoas pudessem ser salvas. Outras sete vidas tiveram uma segunda chance graças ao trabalho árduo de profissionais que se dedicaram dia após dia ao resgate de mais vítimas do edifício.
A Tenente Carolina Holanda, especialista em busca e resgate em estruturas colapsadas e em atendimento pré-hospitalar, comandou uma das equipes de resgate que operou durante os cinco dias de trabalho. Ela relatou que foi preciso fazer uma projeção da quantidade de pessoas que estavam no local do desabamento.
“Foi feita toda uma projeção da quantidade de vítimas no local, bem como onde elas poderiam estar com a queda do edifício através de informações dos familiares e de uma projeção gráfica feita por engenheiros que trabalham no Corpo de Bombeiros Militar do Ceará”, explicou Carolina.
Para ela, uma das partes mais difíceis do processo de resgate é a expectativa gerada nos profissionais durante as buscas, devido ao desejo de encontrarem o maior número possível de pessoas vivas. Quando não encontradas, a parte mais desafiadora passa a ser o acesso a elas de forma que preserve tanto a integridade das vítimas quanto dos resgatistas.
Em relação às pessoas já encontradas sem vida, a tenente conta que era emitido um aviso ao comando da operação, que logo repassava a informação para a equipe de apoio psicológico, que exerciam a dura função de notificar a família da vítima e prestar todo o suporte necessário.
A tenente conta ter muitas memórias dos dias de resgate, mas a que marcou de maneira profunda, assim como os demais profissionais no local que presenciaram, foi quando ao chegar no local, uma equipe já havia iniciado o trabalho e estava fazendo a retirada de uma pessoa com vida. “Esse momento é incrível para todos que participaram da operação”, relembra Carolina.
“O sentimento é de fazer sua parte para um mundo melhor, de dever cumprido e de gratidão por ter essa oportunidade”, conclui a tenente.