RACISMO

Dia da Consciência Negra: conheça sete expressões racistas para excluir do vocabulário

Doutorando em Literaturas Africanas explica conotações preconceituosas oriundas do racismo estrutural da língua

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JC

Publicado em 20/11/2021 às 6:00 | Atualizado em 20/11/2021 às 10:05
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Há muito o que se comemorar neste 20 de novembro, Dia da Nacional da Consciência Negra, já que a data celebra a resistência dos afrobrasileiros. Mesmo assim, com mais de 300 anos de escravatura, o racismo estrutural continua sendo uma realidade no país que precisa ser discutida, pois acarreta até hoje em consequências no imaginário social. Uma delas se apresenta na língua portuguesa, ainda repleta de expressões que associam o povo negro a conotações pejorativas.

Esses termos ainda podem passar despercebidos no dia a dia, mas contam muito sobre a história de um país marcado pela escravidão. "As pessoas usam certos termos, convivem com atitudes racistas e nem percebem. Em um país em que mais de 50% da população é negra, isso é muito grave", aponta Paulo Sergio Gonçalves, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Estácio e doutorando em Literaturas Africanas.

O professor explica que não basta entender que existem expressões racistas, mas que é preciso combatê-las para conseguir quebrar a lógica do racismo estrutural na sociedade brasileira. E para combater este problema, o docente indica que o primeiro passo é disseminar o conhecimento de forma ampla em todos os espaços, desde o ensino nas escolas, nas faculdades, nas pautas da mídia, nas políticas públicas, entre outros.

Termos como "Meia tigela", "a dar com pau" e "fazer nas coxas" são algumas das expressões que carregam o contexto histórico de toda a opressão sofrida pelo povo negro, antes e depois da abolição da escravatura. E para gerar luz sobre o assunto, Gonçalves cita sete colocações de cunho racista e explica suas origens. Confira abaixo:

1 - Mulata

A palavra "mulata" faz referência ao animal "mula", que seria o filhote do cruzamento de um cavalo com uma jumenta ou de um jumento com uma égua. No Brasil Colônia, o adjetivo "mulata" era usado para se referir às mulheres negras, ou oriundas de um relacionamento mestiço. Gonçalves explica que o termo não é mais aceitável e é considerado pejorativo, o ideal seria apenas falar "mulheres negras", quando necessário fazer referência à cor ou etnia.

2 - Denegrir

"O português é a língua do colonizador, que é cheia de termos racistas", explica o professor. Ele aponta que o significado do verbo "denegrir" é utilizado como sinônimo de "difamar", porém a etimologia da palavra significa "tornar negro". A expressão faz uma relação entre a negritude e algo maldoso ou negativo.

3 - Fazer nas coxas

Essa é mais uma expressão herdada do Brasil Colônia. O professor explica que há divergências do surgimento desse termo, acredita-se que ele vem da técnica utilizada pelos escravizados para fazer telhas. Por serem artesanais e seguirem os formatos dos corpos, as peças não se encaixavam bem umas nas outras, sendo consideradas mal feitas.

4 - Doméstica

A palavra "doméstica" se refere às mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas, já que os negros eram vistos como pessoas selvagens. "Eu cresci ouvindo as minhas irmãs sendo chamadas de domésticas. Este era um termo muito popularizado no Brasil dos anos 80", relembra o docente.

5 - Meia tigela

A expressão "meia tigela" também é uma herança do período escravocrata. Naquela época, os negros que não conseguiam cumprir as metas de trabalho, recebiam apenas metade da porção de comida e eram apelidados de "meia tigela". O termo se refere a algo sem valor, medíocre.

6 - A dar com pau

Essa expressão refere-se aos navios negreiros, onde os negros que não obedeciam recebiam uma alimentação dosada por uma colher de pau. O termo significa "pouco" ou que alguma pessoa não é digna de consideração.

7 - Inhaca

"Inhaca" é o nome de uma ilha de Moçambique, país da África Oriental. Desde a época colonial o termo é usado para falar de algo com cheiro forte, desagradável. A expressão reforça preconceitos ao associar a ilha, onde a população é majoritariamente negra, a algo desagradável e nojento.

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