VIOLÊNCIA

Estudantes são proibidos por facções criminosas de frequentar escola no Ceará

Com o retorno presencial das aulas, os alunos são ameaçados por criminosos no caminho da escola, tornando a ausência dos estudantes cada vez mais frequente devido aos riscos enfrentados

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Do jornal O Povo para a Rede Nordeste

Publicado em 25/11/2021 às 22:55
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Após o fechamento das escolas devido à pandemia de de Covid-19, cerca de 94,7% das instituições de ensino médio da rede pública estadual já começaram a retornar suas atividades presenciais. Além das dificuldades enfrentadas para se adaptar a uma nova realidade presencial, os alunos e professores da escola Liceu da Messejana, localizada em Fortaleza, enfrentam outro impacto: os territórios dominados por diferentes facções criminosas. A matéria é do jornal O Povo para a Rede Nordeste.

“Com o retorno presencial, durante uma semana, eu consegui ir à escola normalmente, mas depois fiquei com medo e parei de ir. Meus pais já haviam me avisado sobre essa proibição das facções de frequentar a escola, mas eu não acreditei muito, sabe? Depois dessa primeira semana, as pessoas dessa facção começaram a parar a gente no caminho e nos mandavam voltar para casa”, relatou um estudante da instituição.

Além das ameaças e do controle de territórios pelas facções, os estudantes temem ser assaltados ou seguidos. “A escola está situada perto do Gonzaguinha (Hospital Distrital Gonzaga Mota), quando você atravessa a avenida, você já encontra uma facção rival. Os estudantes não podem fazer essa ligação de atravessar a avenida", explica um outro estudante.

Aos poucos, a quantidade de alunos ausentes foi aumentando cada vez mais devido aos riscos, sendo preciso criar uma rede de cuidado mútuo na escola para entender detalhes do que estava acontecendo. "Um amigo estava indo para aula e no caminho perguntaram para onde ele iria. Ele respondeu que ia à escola. Depois da resposta, mandaram ele voltar para casa. Teve outro que foi ainda pior, ele me contou que foi abordado por gente de facção, que disseram que se ele fosse à escola, os caras matariam ele”, contou outro estudante

Com a transição do remoto para o presencial, alguns alunos ainda puderam continuar no ensino remoto, diante das restrições impostas pelas facções. Vale ressaltar que, conforme a Secretaria da Educação (Seduc), o Estado está em “transição para priorizar atividades presenciais”.

O POVO buscou conversar com moradores locais e outros estudantes, mas a respostas mais recorrentes eram: “Não posso falar sobre isso!”, “Não quero contribuir, sinto muito”, “Não me sinto à vontade para falar”.

Por segurança, O POVO não divulga quaisquer informações pessoais dos alunos ouvidos nesta matéria.

Falha na iluminação pública

De acordo com os relatos ouvidos pelo O POVO, o entorno da escola sobre com iluminação pública ineficiente, o que contribui para a ocorrência de crimes na região. "São 18 horas e a gente só observa a insegurança aqui. Olha essa praça toda escura. Não tem iluminação! Não tem segurança que possa ajudar a gente. Nós ficamos à mercê dos criminosos", afirma uma fonte.

Para Ricardo Moura, jornalista, sociólogo e colunista do O POVO, em relação à falha na iluminação pública, é importante observar que áreas com menos infraestrutura são mais degradadas e viram espaços nos quais a violência se instala.

"Nós sabemos que as ruas de bairros periféricos são muito escuras, e isso dificulta a proteção das pessoas. Elas se sentem mais inseguras, as pessoas podem cometer algumas transgressões de forma a ficar mais à vontade, então isso é um problema crônico que a gente observa, não só em Messejana, mas em toda a Cidade", afirma Ricardo.

Em relação a iluminação pública do local, a Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) informou que não recebeu nenhuma solicitação de manutenção de iluminação. "Mesmo assim, uma equipe técnica irá ao local para avaliar a situação e providenciar a manutenção. Em casos de pontos apagados, a orientação é que a população telefone gratuitamente para o número 156", informou a nota.

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