JUSTIÇA

Caso boate Kiss: depoimentos prosseguem no sétimo dia de júri

O julgamento já é o mais longo da história do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, ultrapassando o júri do caso do menino Bernardo, em 2018, que durou cinco dias

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Agência Brasil

Publicado em 07/12/2021 às 17:25 | Atualizado em 10/12/2021 às 20:03
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O operador de áudio da Banda Gurizada Fandangueira à época do incêndio na boate Kiss, Venâncio da Silva Anschau, 40 anos de idade, foi uma das pessoas que prestaram depoimento nesta terça-feira (7). O julgamento já é o mais longo da história do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, ultrapassando o júri do caso do menino Bernardo, ocorrido na Comarca de Três Passos, em 2018, que durou cinco dias.

Segundo Anschau, o grupo já havia se apresentado na Boate Kiss fazendo uso de artefatos pirotécnicos. Conforme Anschau, na noite do incêndio, a banda subiu ao palco por volta das 2h30 e ele estava na mesa de som no momento em que foram acionados os fogos de artifício, que ficavam nas laterais do chão do palco. Apesar da proximidade, não percebeu o momento em que o fogo começou.

"De repente, a banda parou de tocar". O sonorizador viu os integrantes do grupo com garrafas de água.

O operador disse que desabilitou o som no momento em que viu uma pessoa subir no palco e viu, posteriormente, que a pessoa tentava usar um extintor de incêndio.

"Depois, já na delegacia, perguntei a Marcelo [que também havia tentado usar o equipamento] o que aconteceu; e ele disse que não sabia, que batia nele e não saía nada".

O depoente esclareceu que no microfone não foi feito nenhum anúncio ao público do que ocorria. "Eu não sabia o que estava acontecendo. Errei ao bloquear o som", disse chorando.

Na fuga, Venâncio disse a pessoas próximas para saírem do local e informou para um dos seguranças: "está abrindo fogo lá atrás".

Anschau ficou internado no hospital, por exposição à fumaça, e disse que nunca conversou com ninguém sobre a tragédia e chegou a fazer tratamento médico por causa das sequelas pulmonares.

Outra pessoa ouvida nesta terça-feira foi a arquiteta Nivia da Silva Braido. Ela foi ouvida na condição de informante, por ter tido um relacionamento no passado com um ex-advogado da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.

Em 2012, ela foi procurada por um dos réus, Elissandro Callegaro Spohr (Kiko) para colocar um papel de parede em um dos ambientes da Boate Kiss e disse que perguntou quem era o responsável técnico pelos trabalhos e alertou sobre o risco de ausência de um responsável técnico.

"Qualquer mudança de layout, reforma, mesmo uma obra residencial, é necessário um profissional que garanta a segurança da obra, tanto durante quanto a garantia pós-execução", disse em depoimento.

Ela também ouviu que Kiko estava trabalhando a questão para resolver o problema de vazamento acústico por exigência do Ministério Público.

Ela disse ainda que era frequentadora da boate antes da reforma e viu, em visitas posteriores, que algumas das suas sugestões foram adotadas na casa noturna, como a colocação de mais uma porta de saída, mas não observou se havia saídas de emergência ou extintores de incêndio.

Ainda serão ouvidos hoje o ex-chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros de Santa Maria Gerson da Rosa Pereira, arrolado pela defesa de Elissandro Spohr.

Nilvo José Dornelles, testemunha indicada por Marcelo de Jesus dos Santos, também será inquirida hoje.

Ontem (6), foram ouvidos Márcio André de Jesus dos Santos, Stenio Rodrigues Fernandes, Willian Renato Machado e Nathália Daronch.

Entenda

A tragédia, que matou 242 pessoas e deixou 636 feridas, começou no palco, onde se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira, e logo se alastrou, provocando muita fumaça tóxica. Um dos integrantes disparou um artefato pirotécnico, atingindo parte do teto do prédio, que pegou fogo.

A tragédia, que matou principalmente jovens, marcou a cidade de Santa Maria e abalou todo o país, pelo grande número de mortos e pelas imagens fortes. A boate tinha apenas uma porta de saída desobstruída. Bombeiros e populares tentavam, de todo jeito, abrir passagens quebrando os muros da casa, mas a demora no socorro acabou sendo trágica para os frequentadores.

A maioria acabou morrendo pela inalação de fumaça tóxica, do isolamento acústico do teto, formado por uma espuma inflamável, incompatível com as normas de segurança modernas.

Após a tragédia, normas para prevenção de incêndio em estabelecimentos similares foram alteradas para garantir maior segurança em todo o Brasil.

Desde o incêndio, as famílias dos jovens mortos formaram uma associação e, todos os anos, no dia 27 de janeiro, relembram a tragédia, a maior do estado do Rio Grande do Sul e uma das maiores do Brasil.

* Com informações do TJRS

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