Causa indígena
Quem são o jornalista inglês e o indigenista brasileiro que desapareceram na Amazônia após ameaças
Fato de o indigenista Bruno Araújo Pereira ser um exímio conhecedor da região e a falta de contatos após um dos deslocamentos é vista com bastante preocupação, porque dificilmente ele se perderia na região. Polícia Federal partcipa das buscas
Com Estadão Conteúdo
O jornalista inglês Dom Phillips, do jornal britânico The Guardian, e o indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), desapareceram na região do Vale do Javari, na Amazônia, desde domingo (5).
Pereira sofria ameaças constantes de invasores e garimpeiros que atuavam em terras indígenas. O indigenista é um exímio conhecedor da região e a falta de contatos após um dos deslocamentos é vista com bastante preocupação.
Na Funai desde 2010, Pereira foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por cinco anos. Foi demitido em 2019 por combater a mineração ilegal em Terras Indígenas. A exoneração de servidor aconteceu no momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um projeto para liberar garimpos nas reservas. O indigenista está licenciado da Funai e atualmente faz parte do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente (Opi).
A confirmação do desaparecimento foi feita em um comunicado emitido pela União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi).
Segundo o informe, Phillips e Bruno Pereira estavam numa expedição para visitar a equipe de Vigilância Indígena localizada próxima à base da Funai no Rio Ituí. O jornalista faria entrevistas com indígenas da região. Ambos chegaram ao local na noite de sexta-feira (3).
No domingo (5), retornavam para Atalaia do Norte e pararam na comunidade ribeirinha São Rafael, em uma visita pré-agenda, para que Bruno Pereira fizesse uma reunião com um líder comunitário para discutir a vigilância do território, alvo de constantes invasões.
Após o encontro, eles continuaram a viagem em direção a Atalaia. O percurso levaria cerca de duas horas. A previsão de chegada era para entre 8 horas e 9 horas de domingo.No início da tarde de domingo, uma equipe da Univaja partiu para fazer buscas à dupla, sem sucesso. No fim da tarde, outra equipe partiu da cidade de Tabatinga (AM), mas também retornou sem informações sobre o indigenista e sobre o jornalista.
"Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, o Ministério Público Federal em Tabatinga, o Conselho Nacional de Direitos Humanos e o Indigenous Peoples Rights International", ressalta a nota.
DUPLA JÁ SE CONHECIA
Dom Phillips e Bruno Pereira já haviam percorrido a região em 2018, quando o repórter inglês escreveu sobre tribos isoladas da Amazônia para o The Guardian. O Vale do Javari tem a maior concentração de povos isolados no mundo.
Em uma publicação feita nesta segunda, um porta-voz do jornal manifestou preocupação com o desaparecimento. "O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível", frisou.
Colaborador do veículo britânico The Gardian, o jornalista Dom Phillips se mudou para o Brasil em 2007 e mora em Salvador. Phillips está trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson. Além do Guardian, Phillips já publicou trabalhos no Financial Times, New York Times, Washington Post e em agências internacionais de notícias.
Eles viajavam, segundo a nota das entidades, em uma embarcação nova e tinham combustível suficiente para a expedição. Eles estavam em uma embarcação nova, de 40 cavalos, e 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem.
"Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, o Ministério Público Federal em Tabatinga, o Conselho Nacional de Direitos Humanos e o Indigenous Peoples Rights International", ressalta a nota.