Operação Javari

'Material orgânico aparentemente humano' é encontrado em buscas por desparecidos na Amazônia

A Polícia Federal no Amazonas informou que equipes de busca localizaram no Rio Itaquaí, próximo ao porto de Atalaia do Norte, "material orgânico aparentemente humano"

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Amanda Azevedo

Publicado em 10/06/2022 às 18:52 | Atualizado em 10/06/2022 às 23:43
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Da Estadão Conteúdo e AFP

A Polícia Federal no Amazonas informou, na tarde desta sexta-feira (10), que equipes de busca que integram a Operação Javari - que tenta localizar o indigenista Bruno Pereira, 41 anos, e o jornalista Dom Phillips, 57 anos, desaparecidos na Amazônia - encontraram no Rio Itaquaí, próximo ao porto de Atalaia do Norte, "material orgânico aparentemente humano", o qual foi encaminhado para perícia no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal.

Phillips, colaborador do jornal britânico The Guardian, e Pereira, indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai), navegavam juntos pelo Vale do Javari, uma região remota no extremo oeste do estado do Amazonas, fazendo entrevistas para um livro sobre preservação ambiental.

Os dois foram vistos pela última vez no domingo de manhã, na comunidade São Gabriel, não muito longe de seu destino, Atalaia do Norte.

O Instituto Nacional de Criminalística da PF também vai periciar as amostras de sangue encontradas na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, 41, cuja prisão temporária foi decretada pela Justiça Estadual nesta quinta-feira (9).

Os investigadores ainda informaram que nesta sexta (10) houve a coleta de materiais genéticos de referência do jornalista britânico Dom Phillips, em Salvador, e do indigenista Bruno Pereira, no Recife.

"Os materiais coletados serão utilizados na análise comparativa com o sangue encontrado na embarcação", indicou a PF em nota.

 

Testemunhas contaram ter visto o pescador Amarildo passando em uma lancha em alta velocidade na mesma direção de Phillips e Pereira, depois de terem sido vistos pela última vez. A polícia diz que o homem foi preso porque portava munições de calibre não permitido e drogas.

A Polícia Federal admitiu na quarta-feira não descartar "nenhuma linha de investigação", inclusive a de homicídio, em uma região considerada "perigosa".

Segundo ativistas indígenas locais, Pereira sofria ameaças frequentes por sua luta contra as invasões em terras indígenas.

Situada na fronteira com o Peru e a Colômbia, a região abriga uma terra indígena protegida de 8,5 milhões de hectares, e sofre com a presença de narcotraficantes, pescadores, madeireiros e garimpeiros ilegais em busca de seus recursos naturais.

A corporação indicou que, desde a última atualização na tarde desta quinta-feira (9) sobre a Operação Javari, as equipes do Comitê de crise, coordenado pela PF, seguiram com a busca fluvial e com reconhecimento aéreo na região do Rio Itaquaí, último local onde Bruno Pereira e Dom Phillips foram vistos.

STF manda o governo adotar medidas necessárias para achar desaparecidos na Amazônia 

Horas antes das novas informações serem divulgadas pela PF, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o governo adote imediatamente "todas as providências necessárias", usando "todos os meios e forças cabíveis", para localizar o indigenista e o jornalista.

O despacho ordena ainda que sejam identificados e punidos os responsáveis pelo desaparecimento e cobra, do governo, em até cinco dias, a apresentação de um relatório com todas as providências adotadas e informações obtidas no caso. Foi fixada multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.

"Sem uma atuação efetiva e determinada do Estado brasileiro, a Amazônia vai cair, progressivamente, em situação de anomia, de terra sem lei. É preciso reordenar as prioridades do país nessa matéria", registrou o ministro no documento.

A decisão foi proferida a pedido da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que acionou a corte máxima por meio da ação que tratou do plano de contenção da pandemia da covid-19 em terras indígenas. A Apib argumentou que o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Philips ocorreu em área de barreira sanitária determinada no bojo de tal processo, "que tinha por objeto proteger a entrada da Terra Indígena do Vale do Javari".

Segundo a entidade, Bruno Pereira e Dom Philips "desempenhavam, no local, atividades de fortalecimento de proteção territorial contra invasores, em apoio à organização indígena local, dada a insuficiência da atuação estatal, a despeito das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal".

Nações Unidas

O Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas qualificou como "extremamente lenta" a resposta de Brasília sobre os desaparecimentos.

A instância expressou preocupação com o desaparecimento dos dois, bem como pelos ataques contra ativistas e jornalistas no Brasil.

Na Cúpula das Américas, em Los Angeles, Bolsonaro disse que 

Segundo a entidade, Bruno Pereira e Dom Philips "desempenhavam, no local, atividades de fortalecimento de proteção territorial contra invasores, em apoio à organização indígena local, dada a insuficiência da atuação estatal, a despeito das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal".

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