Falso: Simone Tebet não deixou médica ser humilhada na CPI da Covid
É falso que a senadora Simone Tebet (MDB), candidata à presidência da República, tenha deixado a médica Nise Yamaguchi ser humilhada durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid em junho de 2021
Conteúdo investigado: Tuíte do perfil Família Direita Brasil acusa a senadora Simone Tebet de não evitar que a médica Nise Yamaguchi fosse humilhada na CPI da Covid. No debate da TV Bandeirantes, Tebet negou ter participado da sessão.
Onde foi publicado: Twitter.
Conclusão do Comprova: É falso que a senadora Simone Tebet (MDB), candidata à presidência da República, tenha deixado a médica Nise Yamaguchi ser humilhada durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid em junho de 2021, como sugere tuíte. A afirmação foi feita inicialmente pelo presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), durante debate na TV Bandeirantes, no domingo (28), e repercutida por apoiadores nas redes sociais.
Tebet não era membro titular da CPI e não estava presente no dia da sessão, 1° de junho de 2021. Como não havia nenhuma mulher entre os 11 titulares e sete suplentes do colegiado, a bancada feminina do Senado, então liderada por Tebet, se organizou em um revezamento para participar das sessões.
No dia do depoimento de Yamaguchi, que foi ouvida pela CPI por ter defendido tratamentos ineficazes contra a covid e por suspeita de integrar um “gabinete paralelo” do governo, participaram, ao longo da sessão, cinco senadoras. Durante o depoimento, a médica foi frequentemente interrompida pelos senadores. Como dito pela candidata à presidência no debate, a senadora Leila Barros (PDT-DF) pediu respeito a Yamaguchi e que ela tivesse a possibilidade de expor seus argumentos. A assessoria da pedetista confirmou ao Comprova que ela conversou com Tebet, durante a sessão, sobre as constantes interrupções sofridas pela médica durante sua fala e que decidiu ir ao plenário interceder em favor de Yamaguchi, mesmo não concordando com o posicionamento da médica.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original.
Alcance da publicação: O post no Twitter teve 4,5 mil interações até 29 de agosto. Ele foi apagado após o contato do Comprova com o autor.
O que diz o autor da publicação: Ao Comprova, ele informou que só reproduziu a fala do presidente e não emitiu “opinião sobre o fato”. “Agora, com o esclarecimento de vocês, iremos remover a postagem”, disse.
Como verificamos: Primeiramente, procuramos o trecho do debate em que Bolsonaro faz a afirmação sobre Tebet. Na sequência, procuramos por notícias do dia do depoimento de Nise Yamaguchi para saber se ela realmente foi humilhada e se alguém interveio em sua defesa. Além disso, procuramos informações no site do Senado sobre quais eram as mulheres presentes no dia do depoimento da médica e como é a escolha dos membros que vão compor a CPI.
Também entramos em contato com as assessorias de imprensa de Simone Tebet, que não respondeu, e de Leila Barros, que confirmou que o diálogo entre as duas aconteceu. Por fim, entramos em contato com o autor da postagem, que disse que só reproduziu a fala do presidente e apagou o post.
É falso que a candidata à presidência da República Simone Tebet (MDB) tenha deixado a médica Nise Yamaguchi ser humilhada durante depoimento na CPI da Covid no ano passado.
Tebet, que é senadora pelo Mato Grosso do Sul, não estava no dia do depoimento e não era titular da comissão. A bancada feminina, na época liderada por Tebet, se revezava nas sessões para sempre ter uma mulher presente. No dia, a senadora Leila Barros (PDT-DF), também conhecida como Leila do Vôlei, defendeu a médica.
Bolsonaro disse que Tebet deixou médica ser humilhada
Durante o debate entre os presidenciáveis, promovido pela TV Bandeirantes, Folha de S. Paulo e pelo UOL, no domingo (28/8), Bolsonaro acusou a candidata Simone Tebet de ter sido conivente com humilhações sofridas pelas médicas Nise Yamaguchi e Mayra Pinheiro durante depoimento delas na CPI da Covid no ano passado.
A acusação foi feita em resposta a uma pergunta da emedebista, que questionou Bolsonaro a razão pela qual ele teria “tanta raiva das mulheres”. O momento pode ser visto a partir da seguinte minutagem desse vídeo: 5m30.
Para responder a pergunta, Bolsonaro diz: “Me acusa sem prova nenhuma. […] Por que essa forma barata de me acusar, como se eu não gostasse de mulheres? […] Duas mulheres foram na CPI da Covid: a senhora Nise Yamaguchi e a senhora Mayra [Pinheiro], lá do Ceará. Foram maltratadas, foram esculhambadas, foram humilhadas. Onde estava vossa excelência? Que era da comissão da covid. Estava escondidinha, apoiando Renan Calheiros, Omar Aziz, apoiando essas pessoas”.
A senadora então responde que não estava presente no dia e que acionou a senadora Leila Barros (na época do PSB, hoje no PDT-DF), presente na sessão, e que ela interveio a favor de Nise. “Nós tínhamos um rodízio, podíamos no início ficar uma mulher. Assim que ouvi a doutora Nise sendo agredida, ela foi vítima de violência política sim, não concordo com as ideias dela, mas ela foi vítima de violência. Liguei para a senadora Leila, que era a que estava no rodízio e, mesmo sendo da oposição do atual presidente, defendeu a doutora Nise exigindo que ela fosse respeitada”, disse.
No dia, Leila Barros realmente interveio a favor de Nise e pediu respeito à testemunha. Após quase três horas de depoimento, a senadora pediu (momento pode ser visto entre 2:48:40 e 2:49:59) que os senadores deixassem Yamaguchi falar, após ela ter sido interrompida pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI. “Ela não está conseguindo concluir um raciocínio. Vocês sabem o lado que estou, mas quem está acompanhando, a gente percebe que tem uma ansiedade muito grande pelas respostas da depoente. Eu peço só a vocês que a gente tenha um grau de tranquilidade”, disse.
O presidente da CPI então afirmou que as interrupções se deviam ao fato de ela não estar respondendo às perguntas e ressaltou que Leila tinha acabado de chegar. A senadora explica que estava acompanhando o depoimento do gabinete e completa: “Ela está sendo interrompida”.
Segundo Simone Tebet, ela pediu para Leila ir até a sessão. A assessoria da pedetista confirmou que a conversa aconteceu. “Como uma das 16 parlamentares eleitas para o Senado, Leila do Vôlei é uma forte defensora dos direitos e da participação feminina nos espaços de poder, independentemente do campo ideológico. Leila acompanhou o depoimento da Dra. Nise Yamaguchi desde a abertura da sessão e conversou com a senadora Simone Tebet acerca das constantes interrupções na fala da convidada quando estava a caminho do Plenário da CPI da Pandemia. Leila do Vôlei, Simone Tebet e todas as senadoras eleitas desempenham mandatos independentes e agem por vontade própria na defesa dos direitos das mulheres”, diz a nota.
Tebet não estava na sessão
De acordo com o registro de presença da CPI, Tebet não estava presente no dia do depoimento da médica Nise Yamagushi. Ao contrário da fala do presidente Bolsonaro, Tebet não era titular da CPI da Covid. Todos os 11 membros titulares e sete suplentes da comissão eram homens. A bancada feminina, criada em 2021, não tinha prerrogativa de sugerir nomes para o colegiado. Por isso, o grupo se organizou em um rodízio para que sempre tivesse uma representante nas sessões. Tebet foi a primeira líder da bancada feminina e ficou no cargo até fevereiro deste ano.
Além de Leila Barros, no dia do depoimento de Yamaguchi, estiveram presentes na sessão, conforme registro de presença, as senadoras Eliziane Gama (Cidadania-MA), Rose de Freitas (MDB-ES), Zenaide Maia (Pros-RN) e Soraya Thronicke (União Brasil-MS), que também é candidata à presidência da República e participou do debate do último domingo (28).
Depoimento de médica é marcado por interrupções
Nise Yamagushi depôs na CPI da Covid como convidada no dia 1º de junho de 2021. O depoimento durou cerca de nove horas. Próxima ao presidente Jair Bolsonaro, ela defendeu por diversas vezes tratamentos sem eficácia comprovada contra a doença, a exemplo da cloroquina. A médica também é apontada como integrante do chamado “gabinete paralelo”, que assessorou informalmente o presidente Bolsonaro durante a pandemia.
De acordo com levantamento feito pela CNN, Nise foi interrompida 43 vezes no intervalo de 1h30 na primeira parte da sessão em que participou.
Em um momento, o senador Otto Alencar (PSD-BA), que também é médico, chegou a falar que Nise não sabia nada de infectologia e que ela “não estudou”. “A senhora não soube explicar o que é o vírus (…). A senhora não sabe nada de infectologia, nem estudou, doutora. A senhora foi aleatória mesmo, superficial. O covid-19 é da família dos betacoronavírus”, disse Alencar.
Após o depoimento, a médica disse que foi humilhada na sessão e chegou a processar os senadores Omar Aziz e Otto Alencar por danos morais.
“Por diversas vezes, tive minhas falas e raciocínios interrompidos. Ignoraram meus argumentos e atribuíram a mim palavras que não pronunciei. Não foi por falta de conhecimento que deixei de reagir, mas, sim, por educação. Não iria alterar a minha essência para atender a nítidos interesses políticos”, afirmou a médica.
Em 28 de agosto, Nise também se manifestou pelas redes sociais. Sem citar diretamente o episódio e sem afirmar que foi defendida, ela disse que “mulheres que querem votos de mulheres têm que ter coerência” e “não podem se omitir de defender aquelas que são atacadas publicamente”.
Quem é Nise Yamagushi?
Nise Yamaguchi, 62 anos, é médica imunologista e oncologista e, defensora da cloroquina e da sua derivada, a hidroxicloroquina, em pacientes com covid-19, mesmo após pesquisas demonstrarem que o medicamento, usado normalmente contra lúpus, malária e artrite reumatoide, não funciona contra a doença.
Há mais de 35 anos na medicina, Yamaguchi lidera o Instituto Avanços em Medicina, localizado na cidade de São Paulo, especializado em tratamento de câncer. Ela é mestre em imunologia e doutora em pneumologia pela Universidade de São Paulo (USP). A médica também integra a Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), Americana (ASCC) e Europeia (ESMO) de Oncologia, além de ser conferencista e palestrante internacional, colaborando na elaboração de diversos livros sobre medicina.
Muito próxima de Bolsonaro, ela chegou a ser cotada como um dos nomes para substituir Luiz Henrique Mandetta, no Ministério da Saúde.
Em várias ocasiões, Nise chegou a afirmar que existem estudos que apontam os benefícios da cloroquina e que existe uma “guerra de narrativas” em torno da substância.
Em seu currículo, a médica cita o trabalho no Hospital Albert Einstein, participando de desenvolvimento científico e reuniões clínicas. Contudo, em julho de 2021, Yamaguchi foi afastada do hospital após fazer declarações sobre o nazismo em uma entrevista à TV Brasil.
“O medo é prejudicial para tudo. Em primeiro lugar, te paralisa, te deixa massa de manobra. Qualquer pessoa, você pega… Você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela massa de rebanho de judeus famintos se não submetessem diariamente a humilhações, humilhações e humilhações, tirando deles todas as iniciativas?”, afirmou a médica.
Nise chegou a dizer que foi afastada da instituição por defender a cloroquina, mas o Hospital Albert Einstein divulgou nota para reafirmar que a causa do afastamento foi por sua fala sobre o nazismo. “Foi uma analogia infeliz e uma manifestação insólita por parte da médica”, disse o hospital na época.
Atualmente, Yamaguchi não tem vínculo formal com a instituição. Contudo, voltou a integrar o corpo clínico aberto, como são chamados os profissionais que usam as instalações do hospital.
O depoimento da médica na CPI da Covid atendeu ao pedido do senador Eduardo Girão (Podemos-CE). No requerimento, o parlamentar destacou que em depoimento à CPI, o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse que, numa reunião com o Governo Federal, a pesquisadora defendeu alterar a bula da cloroquina. Durante as nove horas de depoimento, a médica citou dados incorretos e fez declarações falsas sobre as vacinas da covid-19.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A postagem verificada faz uma afirmação falsa sobre a candidata à presidência da República Simone Tebet. O conteúdo é danoso ao processo democrático, porque a população tem direito de saber a verdade e basear suas escolhas em informações confiáveis.
Outras checagens sobre o tema: O Correio Braziliense também explicou que a senadora Leila Barros, integrante da bancada feminina do Senado, interveio a favor de Nise Yamaguchi na CPI da Covid.
Em checagens recentes, o Comprova também mostrou que é enganosa postagem no Twitter sugerindo apoio de João Amoêdo a Lula, que vídeo que mostra Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec do dia 15 de agosto de 2022 é falso e que senador ironizou resultado de instituto para desacreditar pesquisas eleitorais.
Também verificamos que a vacina da covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live e que morte de seis médicos canadenses não tem relação com a vacina contra a covid.