Quadro de Di Cavalcanti rasgado por bolsonaristas em Brasília vale R$ 8 milhões; veja o que mais foi destruído
Avaliação preliminar feita pela equipe responsável aponta os seguintes estragos em peças icônicas do acervo do Palácio do Planalto
O quadro "As mulatas", obra de Di Cavalcanti que foi rasgada por bolsonaristas no Palácio do Planalto, é avaliada em R$ 8 milhões - podendo custar até cinco vezes mais em leilão. A obra foi uma das várias vandalizadas durante ataque golpista aos edifícios dos Três Poderes em Brasília nesse domingo (8).
Segundo o governo, ainda não é possível ter um levantamento minucioso de todas as pinturas, esculturas e peças de mobiliário destruídas, mas a avaliação preliminar feita pela equipe responsável aponta os seguintes estragos em peças icônicas do acervo.
O diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, diz que será possível realizar a recuperação da maioria das obras vandalizadas, mas estima como “muito difícil” a restauração do Relógio de Balthazar Martinot.
"O valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa. O conjunto do acervo é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK. É este o seu valor histórico", comenta Carvalho.
"Do ponto de vista artístico, o Planalto certamente reúne um dos mais importantes acervos do país, especialmente do Modernismo Brasileiro."
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Nesta segunda-feira (9), a ministra da Cultura, Margareth Menezes, informou ter recebido uma ligação Marlova Noleto, diretora e representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), colocando-se à disposição para contribuir com a reforma e recuperação das sedes dos Três Poderes e de tudo que foi depredado.
"Convoquei para a tarde de hoje (9) uma reunião com Maurício Goulart e demais técnicos do Iphan e já contamos também com a colaboração de um grupo de especialistas e restauradores de arte de todo o país", disse.
"É urgente avaliarmos os danos e começarmos a recuperação e restauro de todo patrimônio que foi brutal e absurdamente arrasado. Um quadro de Di Cavalcanti destruído a facadas revela tamanha ignorância e violência desses atos abomináveis", continuou a ministra.
Por fim, a chefe da pasta afirmou: "Brasília é patrimônio histórico material e imaterial do Brasil e vamos trabalhar unidos para a reconstrução de tudo que foi violado."
É estarrecedor tudo que estamos vivendo desde os ataques terroristas deste domingo (8) em Brasília. Recebi um telefonema de Marlova Noleto, diretora e representante da UNESCO no Brasil +
— Margareth Menezes (@MagaAfroPop) January 9, 2023
Veja quais obras foram vandalizadas
No andar térreo:
- Obra "Bandeira do Brasil", de Jorge Eduardo, de 1995: a pintura, que reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao palácio e serviu de cenário para pronunciamentos dos presidentes da República, foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o andar, após vândalos abrirem os hidrantes ali instalados.
- Galeria dos ex-presidentes: totalmente destruída, com todas as fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e quebradas.
No 2º andar:
O corredor que dá acesso às salas dos ministérios que funcionam no Planalto foi brutalmente vandalizado. Há muitos quadros rasurados ou quebrados, especialmente fotografias.
Contudo, o governo afirmou que o estado de diversas obras não pôde ainda ser avaliado, pois é necessário aguardar a perícia e a limpeza dos espaços para só daí ter acesso às obras.
No 3º andar:
- Obra "As mulatas", de Di Cavalcanti: a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos, de diferentes tamanho. A obra é uma das mais importantes da produção de Di Cavalcanti. Seu valor está estimado em R$ 8 milhões, mas peças desta magnitude costumam alcançar valores até 5 vezes maior em leilões.
- Obra "O Flautista", de Bruno Giorgi: a escultura em bronze foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão. Está avaliado em R$ 250 mil.
- Escultura de parede em madeira de Frans Krajcberg: quebrada em diversos pontos. A obra se utiliza de galhos de madeira, que foram quebrados e jogados longe. A peça está estimada em R$ 300 mil.
- Mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck: exposta no salão, a mesa foi usada como barricada pelos terroristas. Avaliação do estado geral ainda será feita.
- Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues: o móvel abriga as informações do presidente em exercício. Teve o vidro quebrado.
- Relógio de Balthazar Martinot: o relógio de pêndulo do Século XVII foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta peça é considerado fora de padrão.
Na Câmara dos Deputados, no edifício do Congresso Nacional, o vitral "Araguaia", de Marianne Peretti, foi depredado. A obra fica no Salão Verde e é um dos principais símbolos do espaço. A base da escultura "Bailarina", do artista Victor Brecheret, que também estava na Câmara, não foi encontrada.
No Supremo Tribunal Federal (STF), uma réplica da Constituição de 1988 foi furtada por golpistas de onde estava exposta, no Salão Branco da Suprema Corte. O STF informou que o exemplar original está guardado no museu do órgão.
É urgente avaliarmos os danos e começarmos a recuperação e restauro de todo patrimônio que foi brutal e absurdamente arrasado. Um quadro de Di Cavalcanti destruído a facadas revela tamanha ignorância e violência desses atos abomináveis.