Oito metralhadoras furtadas do Arsenal de Guerra do Exército, em Barueri, na Grande São Paulo, foram recuperadas ontem na entrada da comunidade Gardênia Azul, bairro da zona oeste do Rio, pela Polícia Civil fluminense. São quatro metralhadoras .50 e quatro calibre 7,62 mm. Outras 13 armas seguem desaparecidas.
Segundo o secretário estadual de Polícia Civil do Rio, delegado Marcus Amim, as oito metralhadoras foram levadas de São Paulo ao Rio para serem negociadas com o Comando Vermelho, maior facção criminosa do Rio. Ao chegar à capital fluminense, as armas foram levadas para o complexo da Penha, na zona norte, depois foram transferidas para a Rocinha, na zona sul, e finalmente transportadas para a Gardênia Azul, onde acabaram localizadas e apreendidas pela polícia dentro de um carro estacionado. Ninguém foi preso.
VERSÃO DA POLÍCIA
A polícia diz ter identificado os traficantes que compraram as armas, a mando do Comando Vermelho, que enfrenta disputa com milicianos na zona oeste do Rio. Mas eles não foram localizados. "Já havia notícia, pela inteligência do Exército, de que parte (das armas) tinha vindo para a guerra da zona oeste entre tráfico e milícia. Intensificamos as investigações e conseguimos dados de inteligência e localizar as armas", contou o secretário.
A Polícia Civil sabia do paradeiro das armas desde que elas estavam na Rocinha, mas preferiu seguir monitorando para apreendê-las em outro local. "A gente ponderou entrar na Rocinha, realizar uma operação lá, mas conseguimos dados de que elas seriam transportadas e preferimos pegar essas armas ao final do transporte e não no meio, porque isso poderia gerar um confronto (da polícia com os criminosos)."
MILITARES INVESTIGADOS
Dezenas de militares são investigados por falhas administrativas, disse o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste. Suspeita-se da participação de um cabo e quatro civis no furto. Foi instaurado um Inquérito Policial Militar, que corre em sigilo.
O diretor do Arsenal de Guerra de Barueri, tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa, será exonerado por decisão do comandante do Exército, general Tomás Paiva.
Segundo o general Gama, as armas furtadas estavam danificadas, sem condições de uso para o Exército. "Não valia a pena economicamente fazer a sua recuperação", disse.
Ao todo 160 militares seguem aquartelados em Barueri. "Quem for temporário com envolvimento (no furto) será expulso. E os de carreira serão submetidos a processo administrativo, criminal e disciplinar", afirmou o general. Segundo ele, o crime ocorreu entre 6 e 8 de setembro.
Militares que tinham encargos de fiscalização e controle poderão ser responsabilizados na esfera administrativa e disciplinar por eventuais irregularidades. Há oficiais que receberam o formulário de apuração de transgressão disciplinar. Eles têm 72 horas para apresentar defesa. "Houve troca de cadeado e do lacre. Vamos revisar nosso processo de conferência. E quem falhou na conferência também será responsabilizado", disse Gama.
A Gardênia Azul tradicionalmente foi um espaço ocupado pela milícia, que recentemente se aliou ao Comando Vermelho na região. Lá, foi encontrado na semana retrasada o corpo de um dos suspeitos de envolvimento no ataque em que três médicos foram mortos na Barra da Tijuca. A Gardênia Azul fica ao lado da Cidade de Deus, favela que é reduto do Comando Vermelho.