PROPOSTA DE GLO

Especialista vê admissão de culpa do governo e uso do Exército para 'bico'

A recepção política da proposta, que não tirou responsabilidades e atribuições do governo estadual

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Publicado em 02/11/2023 às 0:13
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Já em relação aos militares, mais uma vez deve se manter o discurso público de estar "sempre pronto" - FOTO: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Especialistas em segurança pública têm restrições à nova proposta do governo de combate às organizações criminosas "A competência (da fiscalização) em portos e aeroportos é da Polícia Federal, então (a Operação de Garantia da Lei e da Ordem) é um reconhecimento pelo governo federal de que uma de suas instituições não vem atuando bem, vem deixando a desejar. Nessa situação, uma GLO é bem-vinda, e se o trabalho for realizado de forma séria vai trazer bons resultados. Sou favorável, desde que não seja só ação de visibilidade, mas de fiscalização efetiva", diz o ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e mestre em Antropologia Paulo Storani.

"Mesmo que se esteja usando (as Forças Armadas) nos espaços como aeroportos, o que está se fazendo é produzir soldados de chumbo, colocar sentinelas para fazer suplemento de recursos ostensivos. É preciso avançar em integração, articulação, delimitação de competências entre Forças Armadas e polícias, para que tenha de fato resultado, que não seja apenas saturação de presença ostensiva. Produzir saturação usando as Forças Armadas é precarização, é colocar as Forças Armadas para fazer bico", afirmou Jacqueline Muniz, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e gestora pública em segurança.

Para ela, o uso recorrente da GLO no Rio deve ser motivo de preocupação. "Desde a ECO-92 (reunião internacional que antecedeu as Cúpulas do Clima das Nações Unidas), entra e sai governo federal e põe-se o Exército para fazer bico na segurança no Rio. O seu uso publicitário e gastador é recorrente porque a antiga cidade-estado concentra instalações militares e é sede do Comando Militar do Leste."

POLÍTICOS

Já a recepção política da proposta, que não tirou responsabilidades e atribuições do governo estadual, teve boa recepção, sobretudo no Rio de Janeiro. O governador Cláudio Castro (PL) ligou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para agradecer a ajuda. A medida foi elogiada até pelo senador de oposição, Flávio Bolsonaro (PL), ao site Metrópoles, destacando que o presidente fez o que havia sido solicitado pelo governador. "O Rio precisa desse cinturão para combater o tráfico de drogas e armas." Esse pensamento é o mesmo dos comandos das polícias, que passariam para controle externo, em caso de intervenção.

Por outro lado, como mostrou a Coluna do Estadão, a medida causou desconforto entre petistas, contrários à ação do Exército na segurança pública. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi às redes sociais defender as medidas, mas sem citar o reforço militar. "Segurança pública e combate ao crime é compromisso que Lula está cumprindo com iniciativas fortes, sem pirotecnia."

MILITARES

Já em relação aos militares, mais uma vez deve se manter o discurso público de estar "sempre pronto" para agir pelo País. Mas também entre eles o uso da GLO é controverso. Como mostrou o Estadão em março, no livro Forças Armadas na Segurança Pública: A visão militar, organizado pelos pesquisadores Celso Castro, Adriana Marques, Verônica Azzi e Igor Acácio, o comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro de Paiva, afirma que, se o Brasil tivesse um aparelho policial - tanto a parte ostensiva como a parte investigativa - funcionando bem, haveria poucas ações de Garantia de Lei e Ordem. "A ação de GLO tem de ser interpretada como uma exceção. Só que o Estado não interpreta como uma exceção, interpreta como uma complementação. Na ausência do aparelho policial, na ineficiência do aparelho policial, você (Forças Armadas) vai lá e atua."

Para Tomás, conforme a publicação, o modelo de GLO é inseguro e não produz um efeito duradouro. Ele o considerava "inseguro para a população, se a tropa não estiver muito condicionada".

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