Mais de 400 mil gaúchos estão fora de casa e Estado volta a ter chuva forte
O aumento na quantidade de afetados pelas enchentes ocorre em um momento de elevação do nível da Lagoa dos Patos e queda de temperatura no Estado
Mais de 400 mil gaúchos estão fora de casa afetados pela maior tragédia climática do Estado. Nesta sexta, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul divulgou que 337.346 pessoas estão desalojadas e outras 70.772 em abrigos. O aumento na quantidade de afetados pelas enchentes ocorre em um momento de elevação do nível da Lagoa dos Patos e queda de temperatura no Estado. O balanço oficial até ontem era de 113 pessoas mortas e 134 desaparecidas.
A Defesa Civil emitiu na noite desta quinta-feira um alerta com a orientação para quem mora em regiões próximas à lagoa, ou em áreas com histórico de alagamentos ou inundações, para que saiam de suas casas com antecedência e busquem um local seguro. No município de Rio Grande, por exemplo, vários bairros estão inundados. As principais ruas do entorno do centro histórico estão bloqueadas.
Na capital, a água voltou a subir no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, atingindo diversos aviões que estão parados na pista. As operações continuam suspensas por tempo indeterminado. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra que o nível da enchente já supera o registrado anteriormente. A água já atinge bagageiros e turbinas de pequenas aeronaves.
De acordo com medição da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul, o nível atual do Lago Guaíba estava em 4,72 metros às 10h. Assim, permanece muito acima dos 3 metros da cota de inundação, quando as águas começam a causar danos à cidade. Segundo pesquisadores, a cheia do Guaíba - a maior já registrada - deve persistir por tempo indeterminado na região metropolitana de Porto Alegre. De acordo com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as recentes chuvas levaram 14,2 trilhões de litros de água ao Guaíba (quase metade do reservatório de Itaipu).
PASSARELA SAI DO CAMINHO
A prefeitura de Porto Alegre fez ontem a demolição da passarela junto ao Túnel da Conceição, utilizada por pedestres para chegar à rodoviária. A medida foi para viabilizar a criação de um "corredor humanitário", a fim de permitir a passagem de caminhões, tanques e outros veículos de grande porte entre a capital do Rio Grande do Sul e a vizinha Canoas, duas das cidades mais afetadas pela enchente e a chuva extrema no Estado
"A comida tem de chegar, a ambulância tem de passar, o Exército tem de passar. Vai ser um corredor que salva vidas", declarou o prefeito, Sebastião Melo (MDB). O acesso alternativo começou a ser utilizado ainda ontem.
A medida envolve a criação de uma pista única de acesso provisória, com a colocação de pedras rachão e brita em cerca de 300 metros da Avenida Castelo Branco, que está parcialmente encoberta pela inundação. O novo caminho, dia a prefeitura, será uma rota logística de veículos de apoio à crise ambiental e humanitária, inclusive para o acesso a hospitais e circulação de alimentos e remédios.
A implementação do corredor humanitário começou na quarta-feira. Como terá um único sentido, a pista provisória vai funcionar de forma alternada, com orientações de agentes de trânsito. A princípio, não será destinada à circulação de automóveis da população em geral.
FRIO E SEM ESCOAMENTO
O nível da Lagoa dos Patos vem aumentando nos últimos dias e chegou a 1,84 m às 16h de quinta-feira em Rio Grande, de acordo com os registros do Serviço Geológico do Brasil. Trata-se do ponto de maior preocupação no momento.
Em conjunto, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também emitiram uma nota técnica na qual alertam sobre os riscos geo-hidrológicos, sobretudo na região da Lagoa dos Patos, que recebe as águas dos rios e do Guaíba.
Conforme esses órgãos, o avanço de uma frente por Santa Catarina e a entrada de um ar mais frio pelo Rio Grande do Sul provocaram queda de temperatura no Estado e uma virada dos ventos "desfavorecendo o escoamento da água da lagoa em direção ao oceano". "Desta forma, a preparação dos municípios para inundação gradual na região de Pelotas, Rio Grande e arredores deve ser redobrada."
Ainda segundo o Inmet, as temperaturas mínimas variam de 4°C a 8°C nas regiões mais ao Sul do Estado. Nas demais áreas, as temperaturas mínimas variaram de 10°C a 15°C. O frio é considerado um problema adicional em meio à tragédia climática por causa do risco de hipotermia às pessoas que não foram resgatadas e aos desabrigados.