Ministro Flávio Dino diz que 'STF não vai deixar de decidir porque desagrada’

Em evento do Comunitas, o ministro do STF fala sobre atuais decisões do CCJ e garante que revisarão constitucionalidade dos projetos

Publicado em 11/10/2024 às 13:21

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, disse nesta sexta-feira, 11, que a Corte "não deixará de decidir o que deve ser decidido" por eventual receio de que as decisões desagradem agentes públicos ou privados.

A declaração ocorre após o avanço nesta semana de um pacote de medidas legislativas que atingem o STF na Câmara dos Deputados em meio à insatisfação dos parlamentares com a suspensão da execução das emendas de relator, de comissão e das emendas Pix, determinada pelo próprio Dino.

Outras decisões recentes do STF também geraram desagrado a deputados, principalmente da oposição, que é crítica ao Supremo desde a atuação da Corte no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), passando pelos atos do 8 de Janeiro e a descriminalização do porte de maconha para consumo pessoal em até 40 gramas.

Papel do STF

"O nosso papel é exatamente ter independência, aplicar a lei e fazer o certo, independentemente de eventuais consequências políticas", disse Dino após uma palestra em um evento promovido pela Comunitas, entidade da sociedade civil, em São Paulo.

"Uma lógica, eventualmente, de retaliação, de dissenso, de conflito, não é compatível com os interesses do Brasil e com a nossa Constituição", afirmou o ministro.

De acordo com Dino, é preciso ter calma para distinguir o que é crítica e aprimoramento legítimo do Judiciário, mas "afastar espíritos de destruição institucional".

Aprovação da PEC pelo CCJ

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal do Brasil (CCJ) aprovou na quarta-feira, 9, duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) e dois projetos de lei para restringir o poder do STF.
Segundo Dino, o STF analisará a constitucionalidade das medidas, caso elas sejam aprovadas pelo Congresso.
As iniciativas limitam poderes dos magistrados de tomarem decisões isoladas, autorizam o Parlamento a anular julgamentos do Supremo e criam um novo rito para processos de impeachment de ministros da Corte.

O que disse o Ministro do STF

Dino manteve na quinta-feira, 10, o bloqueio das emendas de comissão e de relator até que o Legislativo e o Executivo apresentem medidas efetivas para identificar a autoria das emendas e dar transparência e rastreabilidade aos repasses.

"O Supremo tem, sob a minha relatoria, esperado que, por parte dos poderes políticos, haja novas regras. Assim que elas existirem, forem aprovadas e sejam compatíveis com aquilo que é a Constituição federal, é claro que nós desejamos que o Orçamento seja prontamente executado, mas ele não pode ser executado erradamente. Essa é a razão da suspensão", disse Flávio Dino.

Em sua palestra no evento, o ministro defendeu a atuação do STF nos últimos anos, afirmou que o equilíbrio entre os Poderes é "dinâmico" e que o espaço de cada um deles é definido pelas "demandas da sociedade" em cada época. Na visão do magistrado, há uma "falsa batalha entre autocontenção e ativismo".

Ele ainda fez a defesa de decisões do Supremo que foram criticadas sob essa ótica, como o próprio bloqueio das emendas, o aumento das atribuições das Guardas Civis municipais e a descriminalização do porte de maconha.

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