Saneamento básico: Brasil aumenta 18% do valor da conta de água, na contramão de tendência mundial

Enquanto país aumenta conta de água com nova tributação, setor tem tratamento tributário diferenciado em nações que já possuem o serviço

Publicado em 22/11/2024 às 10:34
Google News

A diretora-executiva da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon Sindcon), Christianne Dias, alertou sobre o aumento, em média, de 18% na conta de água para a população brasileira em 2025, com a reforma tributária.

Para ela, enquanto o Brasil aumenta o valor, o setor de saneamento básico tem tratamento diferenciado em países que já possuem o serviço, como os da União Europeia (UE).

O atual regime de tributação sobre o saneamento no Brasil é de 9,74% sobre a receita bruta - mas cerca de 100 milhões de pessoas não têm acesso a tratamento de esgoto.

Com o regime proposto pela reforma, o setor pagará, sem regime diferenciado, o valor integral da alíquota do novo IVA dual (estimado entre 26% e 28%).

O alerta da diretora-executiva da Abcon Sindcon veio durante reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, em Brasília, sobre a regulamentação da reforma tributária, que aconteceu na última quinta-feira (21).

“Estamos falando de um impacto de 18% na conta de água, um aumento que atinge todos os brasileiros, inclusive os mais vulneráveis”, pontuou Dias. A representante das operadores de saneamento, ressaltou, ainda, que "saneamento está diretamente ligado à saúde pública. A falta do serviço acarreta várias doenças e eleva os gastos com internações no SUS”.

Saneamento básico e distribuição de água em Pernambuco

Segundo um estudo do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE), apenas 30,8% da população pernambucana têm acesso aos serviços de coleta de esgoto, enquanto 83,56% contam com abastecimento de água tratada.

Esses números estão abaixo das médias nacionais, que são de 84% para água tratada e 55,81% para coleta de esgoto.

No Recife, o fornecimento de água atinge 96,43% da população, mas a coleta de esgoto alcança apenas 44,99% dos habitantes.

BOBBY FABISAK/ACERVO JC IMAGENS
Apesar de Porto de Galinhas ser considerada uma das praias mais belas do litoral do Brasil, existe uma periferia enorme no seu entorno, onde famílias vivem em moradias precárias, sem saneamento básico. - BOBBY FABISAK/ACERVO JC IMAGENS

Esses índices refletem, em parte, os investimentos da parceria público-privada da Compesa, firmada em 2013, cuja meta é universalizar o saneamento na cidade até 2030. Os avanços ainda são limitados.

O estudo também apontou que, entre as localidades avaliadas, apenas 21 municípios (12%) oferecem água tratada para 100% da população.

Os piores cenários de abastecimento de água foram registrados nos municípios de:

  • Santa Cruz da Baixa Verde: 1,5% de cobertura
  • Paranatama: 12,02%
  • Jupi: 15,61%
  • Jataúba: 20,12%
  • Casinhas: 22,31%

Esses dados evidenciam os desafios enfrentados por Pernambuco para melhorar a cobertura e a qualidade dos serviços de saneamento básico para a população.

De acordo com a ONG Instituto Água e Saneamento, excluindo cidades em que não há dados sobre saneamento, destacam-se os baixos níveis das seguintes cidades pernambucanas:

  • Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste do estado - Não há atendimento
  • Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife (RMR) - 98,77% da população sem esgoto
  • São João, no Agreste do estado - 98,53% da população sem esgoto

Saneamento em países da UE

Os países da União Europeia têm um regime tributário diferente do Brasil para a atividade de tratamento de água e esgoto, em função de seus benefícios sociais e para a saúde.

Alguns chegam a ter redução na alíquota de mais de 80%.

Na Europa, onde o acesso ao saneamento é praticamente universalizado, a redução de alíquota de imposto para o setor gira entre 50% a 82%.

Na França, por exemplo, onde 90% da população já possui esgotamento sanitário, a redução é de 50%: em vez dos 20% da alíquota-padrão do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), a população paga apenas 10% de imposto sobre o serviço de saneamento.

Países como Luxemburgo (82% de desconto e 96% de população atendida) e Bélgica (71% de desconto e 95% de população atendida) avançam em seus regimes diferenciados.

Tags

Autor