Impacto da taxação do aço é incerto no Brasil, mas deve elevar a inflação nos EUA, diz diretor da CISBRA
Com possíveis efeitos negativos sobre o Brasil, as tarifas dos EUA podem também pressionar o mercado americano, elevando os custos internos

Em entrevista ao programa Passando a Limpo desta quarta-feira (12), na Rádio Jornal, o diretor da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (CISBRA), Arno Gleisner, falou sobre os impactos da sobretaxa aplicada sobre a importação de aço pelos Estados Unidos, que têm o Brasil como um dos principais fornecedores.
Nesta segunda-feira (10), o presidente Donald Trump assinou ordens executivas que impõem tarifas de 25% sobre todo o aço e alumínio importados pelo país.
Em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, ficando atrás apenas do Canadá. Foram comprados US$ 4,677 bilhões (cerca de R$ 27 bilhões) em produtos brasileiros do grupo “Aço e Ferro”, segundo dados da Administração de Comércio Internacional do governo americano.
Impactos sobre o Brasil
Gleisner afirma que, a princípio, as medidas de Trump não afetam as exportações brasileiras, porque as tarifas também foram aplicadas aos fornecedores concorrentes. Ou seja, “não há uma vantagem ou desvantagem competitiva”.
No cenário atual, no entanto, o que poderia impactar negativamente as exportações do Brasil seria se a indústria americana tomasse o lugar dos fornecedores externos. Mas segundo o diretor da CISBRA, isso é pouco provável, “porque não se faz um investimento em prazo curto e médio que possa substituir importações americanas em um produto como o aço”.
Ele diz que os impactos também mudam caso outros países que fornecem aço para os EUA, como México e Canadá, consigam negociar uma redução de tarifas de forma unilateral.
“Se os outros países realmente conseguirem uma negociação que diminua a aplicação de taxas unilateralmente, ou seja, digamos que apenas o Canadá ou apenas o México tenha uma redução de taxa e o Brasil não, aí sim seria preocupante, mas não é a situação presente e nem a situação que foi colocada”, avalia Gleisner.
Nesta terça (11), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo Lula está acompanhando a situação para saber a "minúcia" das medidas impostas por Trump e que ainda não sabe qual é a disposição do governo americano para negociar.
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Mais uma bravata de Trump?
Gleisner considera que os impactos das novas tarifas serão mais negativos para os próprios americanos do que para o Brasil, porque a medida adotada por Trump pode elevar a inflação dos EUA em função de um produto que não é facilmente substituído, como o aço.
“Isso poderia elevar a inflação e não haveria uma redução do consumo, porque esse mercado não é tão elástico, não se trata de um produto de consumo que imediatamente poderia ser substituído por outro. Então, no caso do aço, realmente o aumento de custos traria inflação e problemas para o mercado americano, não para o mercado brasileiro”, afirma.
Nesse contexto, o diretor da CISBRA acha que o mercado americano vai pressionar o governo devido ao encarecimento do aço e de toda sua cadeia produtiva, o que poderia levar Trump a retroceder na taxação.
“Principalmente, em função dos efeitos inflacionários e também daqueles segmentos consumidores que necessitam do aço como insumo, como construção civil, indústria automobilística e outros”, avalia Gleisner.