PRESERVAÇÃO

Papagaios domesticados voltam à natureza

Projeto do Ibama pretende repovoar áreas onde aves estavam praticamente extintas, como a Chapada do Araripe

Claudia Parente
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Claudia Parente
Publicado em 11/01/2015 às 7:03
Claudia Parente
Projeto do Ibama pretende repovoar áreas onde aves estavam praticamente extintas, como a Chapada do Araripe - FOTO: Claudia Parente
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Ave muito popular por possuir o dom da fala, o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) foi adotado por muita gente como animal de estimação e acabou desaparecendo de áreas de mata nativa, como a Chapada do Araripe, no Sertão pernambucano. Para repovoar essa região com a espécie, o Ibama está reintroduzindo na natureza aves apreendidas, que viviam em cativeiro. Os primeiros resultados mostram que o louro, como é conhecido, apesar de domesticado, não esqueceu as origens.

O projeto Papagaio da caatinga, idealizado pelo biólogo Yuri Valença, começou em 2010. “Como essa espécie estava ameaçada de extinção na caatinga e os órgãos fiscalizadores faziam muitas apreensões, propus ao Ibama reabilitar as aves para reintrodução na natureza”, conta, informando que o projeto contou com o apoio do Ministério Público, Polícia Militar de PE e Prefeitura de Exu.

A partir daí, os papagaios domesticados começaram a passar por um ‘treinamento’ em cativeiro para aprender a se defender de predadores naturais e procurar alimentos. Até agora, 132 aves já voltaram a viver em liberdade. O caminho para essa conquista é povoado de histórias dramáticas, mas temperadas com um toque de humor, fornecido pela natureza singular dos protagonistas.

Um dos responsáveis pelo projeto, o analista ambiental do Ibama Antonio Alencar explica que, antes da soltura das aves, o órgão fez um trabalho educativo nas comunidades, informando da chegada dos bichos e reforçando a importância de preservar a espécie. “Se não fosse assim, eles acabariam na gaiola de novo”, disse, acrescentando que o projeto permitiu ao Ibama se aproximar da população rural. “Houve grande avanço na relação com a comunidade. As pessoas estão mais conscientes. Já teve gente que ligou do Ceará (Estado vizinho) querendo entregar o papagaio.”
Mas nem sempre foi assim.

Antonio conta que levou quase um ano para resgatar o papagaio de uma senhora idosa. “Ela ficou muito aperreada. Disse que era sozinha no mundo e só tinha a ave por companhia”, lembra. “Dei um mês de prazo, esperando que se acostumasse com a ideia. Mas quando voltei, ela teve uma crise nervosa e foi parar no hospital.”

Depois da segunda tentativa frustrada de resgate, Antonio passou quatro meses sem visitar a idosa, até ser informado que ela havia morrido de um câncer no pulmão. “Fiquei feliz por não ter pego a ave antes”, comentou, acrescentando que o papagaio foi levado para outra casa, onde o analista teve que agir de forma enérgica até conseguir resgatá-lo. “Não dava para passar por tudo de novo”, diz.

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