SEMANA DO MEIO AMBIENTE

Artesão luta para manter praia limpa no Cabo de Santo Agostinho

Estevão Santos deixou a profissão de mecânico para se engajar na preservação da Praia de Itapuama

Claudia Parente
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Claudia Parente
Publicado em 07/06/2015 às 8:05
Diego Nigro/ JC Imagem
Estevão Santos deixou a profissão de mecânico para se engajar na preservação da Praia de Itapuama - FOTO: Diego Nigro/ JC Imagem
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Depois do feriadão de 7 de setembro de 2008, a Praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, ficou tão atulhada de lixo que um cidadão comum, morador da orla, resolveu arregaçar as mangas não somente para coletar a sujeira dos outros. Queria evitar que o efeito de novos fins de semana prolongados fossem tão danosos ao mar quanto aquele. Assim começou a luta do artesão e surfista Estevão Santos da Paixão – 37 anos completados justamente nessa Semana do Meio Ambiente – para garantir o direito às próximas gerações de nadar em ondas limpas.

“Na segunda-feira após o feriadão percebi que a prefeitura não fez um trabalho eficiente de limpeza na praia”, lembra Estevão. Nessa época, ele já fazia parte da Associação Mangue Ferido, de Pontezinha, também no Cabo. “Aí, fui provocado pela República do Surfe (grupo que frequentava a Praia de Itapuama) a levar o trabalho de conscientização que a gente já fazia em Pontezinha para a praia. Eu aceitei o desafio.” 

No feriadão seguinte, em 12 de outubro, Estevão e os amigos já estavam a postos. Fizeram um café da manhã na praia, depois saíram em caminhada, distribuindo saquinhos entre os banhistas. A partir daí, o trabalho não parou mais. Todo mês de outubro há uma grande mobilização em Itapuama, que também atinge as Praias do Paiva e de Pedra de Xaréu. “Há três anos, resolvemos ampliar o movimento e passamos a fazer a caminhada duas vezes por ano: na Semana do Meio Ambiente (em junho) e no Dia das Crianças (12 de outubro), já que o nosso trabalho tem em vista a conscientização das gerações futuras”, explica. 

Mas Estevão não cuida da praia apenas nessas duas ocasiões. A limpeza faz parte da rotina, afinal o mar está no terreiro de casa. Há cinco anos, ele mora num trailer parado em frente às ruínas de um hotel nunca concluído em companhia do cachorro Rio, com quem sai frequentemente, de saco na mão, recolhendo o lixo deixado pelos banhistas. 

O trailer foi só o que deu para comprar com o dinheiro da indenização paga quando a casinha que morava à beira-mar foi demolida para execução do projeto de requalificação da orla de Itapuama. O espaço exíguo – onde só cabe uma cama, refrigerador, ventilador, artigos de uso pessoal e muitos papéis –, além de servir de moradia, é usado como local de reunião do Movimento Onda Limpa (célula do Mangue Ferido em Itapuama).

Por pouco, Estevão não ficou sem teto. Em janeiro, recebeu notificação da prefeitura, avisando que devia deixar a área, apontada como pública. Depois de muita luta e a intervenção de amigos, conseguiu permanecer e agora está criando um novo movimento para estimular a separação do lixo. “Vamos trabalhar com empreendedores, banhistas e moradores para conscientizá-los da necessidade da coleta seletiva”, adianta.

A ideia é distribuir sacos de lixo para comerciantes e moradores na sexta, sábado e domingo. “Na segunda, passamos recolhendo o lixo, que não será entregue à prefeitura. Vamos armazenar no hotel (em ruínas) e repassar para uma empresa de reciclagem. A renda adquirida será para manter a associação e garantir nossa sobrevivência”, diz, lembrando que deixou a profissão de mecânico para se dedicar à causa ambiental. “Ao acordar de frente para o mar, penso no quanto usufruo disso tudo. Mas quero fazer isso sem agredir a natureza”, conclui. 

 

Leia mais na edição do JC deste domingo (7)

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