EDUCAÇÃO

Desafio é garantir escola para todos

Apesar da lei, acesso à educação para crianças com necessidades especiais nem sempre é possível. A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência começa nesta segunda-feira

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 24/08/2015 às 14:42
Foto: Inaldo Lins/ PCR/ Divulgação
Apesar da lei, acesso à educação para crianças com necessidades especiais nem sempre é possível. A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência começa nesta segunda-feira - FOTO: Foto: Inaldo Lins/ PCR/ Divulgação
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A legislação brasileira garante que pessoas com necessidades especiais têm direito a frequentar a escola, seja pública ou privada. Mas na prática nem sempre isso acontece. Muitas famílias conquistam a vaga do filho por meios judiciais. Só conseguem na Justiça o que deveria ser de direito. Fazer valer a lei, fortalecendo a educação como instrumento de desenvolvimento e socialização, é um desafio para educadores, governantes, famílias e sociedade. E uma das bandeiras da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, cujo tema, este ano, é Inclusão se conquista com autonomia.

Todo mês de janeiro é frustrante para a técnica em eventos Pollyana Dias, 36 anos. Mãe de Pedro Henrique, um rapaz de 18 anos que tem uma síndrome rara (Cri-du-chat) que afeta as partes cognitiva e motora, ela diz que poucas escolas estão preparadas para atender pessoas como ele. “Já foram muitas tentativas de colocá-lo para estudar em colégios públicos e privados, mas infelizmente, sem sucesso. Até há disponibilidade em algumas escolas, mas não dá certo porque faltam pessoas preparadas, não há capacitação. Janeiro para mim é traumatizante”, diz Pollyana, que fundou em 2013 a Aliança de Mães e Famílias Raras (Amar).

Diretora da Escola Municipal Severina Lira, no bairro da Tamarineira, Zona Norte do Recife, Andréa Ferreira concorda que a formação de professores para atuar com educação especial é uma das dificuldades. “A estrutura física também. Porque não é só colocar o aluno com necessidade especial na sala de aula. É preciso adaptar fisicamente a escola, ter equipe, montar um planejamento para incluí-lo”, destaca Andréa. A unidade tem 250 estudantes, sendo 25 (10%) com deficiência.

A escola conta com uma sala de recursos e três professoras especializadas em educação especial para atender os alunos especiais no contraturno. “O que fazemos deveria acontecer em toda escola. Não dá para ficar no discurso de que não é possível fazer a inclusão”, afirma Andréa.

Desde outubro do ano passado alunos e ex-alunos surdos participam do Projeto Som da Pele, desenvolvido pelo professor e músico Irton Silva, conhecido como Batman Griô. Em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc) de Casa Amarela, ele está ensinando os estudantes a tocarem instrumentos de percussão. Batman criou um sistema de luzes coloridas chamado de metrônomo que traduz uma frase rítmica para os jovens surdos.

“Quero seguir a carreira de músico. Estou gostando da oficina”, afirma Gabriel Dionísio, 15, ex-aluno da Escola Severina Lira. Ele conversou com a reportagem por meio de um intérprete de Libras. “Não imaginava participar de um grupo de música. Está me fazendo muito bem”, diz Maria Eduarda Silva, 16, aluna do ensino fundamental.

Para Batman, que trabalha com alunos surdos há mais de cinco anos, é preciso aumentar o número de intérpretes nas escolas. “A inclusão não acontece plenamente porque nem sempre há pessoal para ajudar os estudantes surdos a compreenderem as aulas. Deveria haver uma reforma pedagógica, com conteúdos pensados para surdos e ouvintes e não adaptado para os surdos”, observa Batman. A rede estadual de ensino tem matriculados 6.829 alunos com necessidades especiais. Nas escolas municipais do Recife são 2.675 estudantes.

CONCURSO

Ontem a Prefeitura do Recife realizou concurso para Agente de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Especial. Foram 26.300 candidatos para 500 vagas. Os aprovados vão trabalhar no apoio aos estudantes com deficiência. Atuarão a partir do ano letivo de 2016.

O número insuficiente de estagiários para acompanhar esses estudantes tem provocado a descontinuidade de aulas. Foi o que aconteceu com Arthur Filipe Bezerra, 7, um garoto autista que estuda na Escola Municipal Potiguar Matos, no bairro de San Martin, Zona Oeste da capital. Há uma semana ele não vai para o colégio porque o contrato da estagiária acabou. Uma nova pessoa só começará a atuar na próxima semana. Enquanto isso, Arhur terá apenas atividades duas vezes por semana no contraturno.

“Gosto do trabalho realizado na escola. Mas essa interrupção das aulas é muito ruim para Arthur. Ano passado, por causa desse mesmo problema, ele só começou a estudar em agosto”, lamenta Cláudia Ferreira, 45, mãe do garoto.

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