Justiça obriga PCR a oferecer vagas em creches

Juíza Hélia Viegas determinou que prefeitura ofereça vagas para todas as crianças de até cinco anos que solicitarem matrícula na rede municipal
Margarida Azevedo
Publicado em 08/10/2016 às 6:17
Juíza Hélia Viegas determinou que prefeitura ofereça vagas para todas as crianças de até cinco anos que solicitarem matrícula na rede municipal Foto: Foto: Fernando da Hora / JC Imagem


Por decisão da Justiça, nenhuma criança de até cinco anos do Recife pode deixar de frequentar creches e escolas da rede municipal porque faltam vagas. A juíza Hélia Viegas Silva, da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Recife, obrigou a prefeitura a disponibilizar vagas para todas as crianças que solicitarem matrícula na educação infantil. Caso não haja espaço nas unidades municipais a gestão terá que custear a vaga em instituições privadas.

A sentença, proferida semana passada, foi resultado de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio da Promotoria de Justiça de Educação, em janeiro do ano passado. A juíza exige que a vaga seja ofertada numa unidade próxima ao local de residência da criança. Não sendo possível, o município terá que arcar com transporte escolar gratuito.

A Justiça determinou ainda que a prefeitura apresente documentos que comprovem, no prazo de 30 dias, a matrícula de todas as 307 crianças listadas na ação civil pública, assim como assegure a reserva de vagas em creches e pré-escola para o ano de 2017 para as referidas crianças, com a indicação das unidades de ensino que vão receber cada uma delas. Atualmente, 16.917 alunos fazem parte da rede municipal do Recife, sendo 7.208 de creches e creches-escolas. Ao todo, são 51 creches, 28 creches-escolas e 156 escolas com turmas de educação infantil.  

“O município de Recife vem abstendo-se do dever constitucional de assegurar a educação infantil gratuita a todas as crianças que dela necessitem, refletindo, assim, um descaso com um direito prioritário, posto ser a educação infantil a primeira etapa do processo de educação básica dentro do contexto de desenvolvimento integral do ser humano”, enfatizou, na sentença, a juíza Hélia Viegas Silva. Em outro trecho, a magistrada ressaltou que as crianças “não podem ficar à mercê das burocracias da administração pública.”

Se a decisão judicial for descumprida a prefeitura vai pagar multa diária no valor de R$ 5 mil, incidente, cumulativamente, sobre o patrimônio do município do Recife e sobre o patrimônio pessoal do prefeito Geraldo Julio, na qualidade de responsável pelo fiel cumprimento da sentença.

REUNIÃO


Terça-feira, a promotora de Educação do Recife, Eleonora Rodrigues, terá reunião com conselheiros tutelares da capital para tratar do assunto. A cidade tem oito conselhos tutelares distribuídos nas seis Regiões Político-Administrativas (RPAs).

“Pretendo traçar estratégias com os conselheiros para que a decisão judicial seja divulgada e cumprida”, ressaltou Eleonora. Quando ingressou com a ação, no início do ano passado, ela tinha o nome de 114 crianças que não haviam conseguido se matricular na rede municipal e que, por isso, acionaram o Ministério Público.

Moradora de Dois Unidos, bairro da Zona Norte do Recife, a manicure Talita Ferreira, 23 anos, busca vaga numa creche para o filho Kauan, 1 ano e 7 meses, há cerca de seis meses. Já esteve em pelo menos quatro unidades e em todas a resposta foi a mesma: não há vaga. “Preciso trabalhar porque meu marido ganha um salário mínimo e não dá para pagar nossas despesas”, afirma Talita, mãe de outras duas crianças, de 4 e 7 anos.

O secretário de Educação do Recife, Jorge Vieira, informou que já foram disponibilizadas as 307 vagas para as crianças listadas na ação civil. “Existe uma demanda reprimida. O procedimento não é negar a vaga. Procuramos atender todos as crianças. Mas é claro que vez ou outra pode haver dificuldade”, justificou Jorge. Na atual gestão foram entregues 10 novas creches e quatro estão em construção. Ele estima que até 2024 será necessário abrir 3 mil vagas em creches na rede municipal para atender o que determina o Plano Nacional de Educação.

Jorge Vieira afirmou que a prefeitura vai recorrer da decisão judicial por discordar de dois pontos: a obrigatoriedade de oferecer o transporte e o pagamento de vaga em unidade particular.

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