EDUCAÇÃO

Desafios para o próximo reitor da UFPE num cenário de corte de verbas

Alunos, professores e técnicos vão escolher, este mês, os próximos reitor e vice. Mas nomeação depende do governo federal

Margarida Azevedo
Cadastrado por
Margarida Azevedo
Publicado em 05/05/2019 às 7:00
Foto: Felipe Ribeiro / JC Imagem
UFPE tem cerca de 33 mil estudantes de graduação e 10 mil alunos na pós-graduação - FOTO: Foto: Felipe Ribeiro / JC Imagem
Leitura:

Em outubro, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) terá novos reitor e vice-reitor, quando acaba a gestão de Anísio Brasileiro e Florisbela Campos, que hoje ocupam, respectivamente, esses cargos. Cinco chapas disputam as vagas. A consulta acadêmica - o processo não é chamado de eleição pois a nomeação depende do governo federal - será realizada em dois turnos, nos dias 29 de maio e 12 de junho. Quem assumir o comando da décima melhor instituição de ensino superior do Brasil, segundo o Ranking Universitário Folha (RUF) 2018 e a maior do Norte e Nordeste, terá o desafio de administrar ensino, pesquisa e extensão com um orçamento defasado devido a cortes de 30% das verbas federais, anunciados semana passada pelo Ministério da Educação. Com R$ 55,8 milhões a menos na conta deste ano, a manutenção da universidade e a produção científica estão em
xeque, o que vai exigir articulação, criatividade e jogo de cintura dos novos gestores.

As dificuldades para fazer pesquisas na UFPE são sentidas antes mesmo dessa retirada de recursos. Problemas como equipamentos quebrados, ar-condicionado e elevadores sem funcionar, falta d’água e quedas de energia são relatados por alunos e professores. Muitas vezes não há insumos básicos para o desenvolvimento de importantes estudos, o que obriga docentes a desembolsarem dinheiro do próprio bolso, caso queiram continuar as investigações científicas. É o caso da professora Janaína Versiani, professora do Departamento de Química Fundamental, ligado ao Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN). Ela estima que há cerca de um ano gasta entre R$ 500 e R$ 1 mil por mês para comprar solventes usados em pesquisas de projetos de pós-graduação que focam no desenvolvimento de moléculas de medicamentos.

“Acho que falta, na UFPE, transparência nos gastos. Eu me viro botando meu dinheiro, no laboratório, para não parar as pesquisas. Também não estou recebendo novos alunos pois não tenho verba. Pago com recurso do meu bolso para manter as pesquisas. Caso contrário, vou mandar todo mundo pra casa”, afirma Janaína, que coordena o Laboratório de Síntese Orgânica e Medicinal. O ar-condicionado do laboratório quebrou no início do ano. Ela pagou o conserto (R$ 500). Um ultrasom pifou semana passada. Tem cupins nas portas dos armários. Quedas de energia, constantes no câmpus Recife - problema já identificado pela reitoria, que tem projeto pronto para implantação de um subestação, orçada em R$ 30 milhões, mas não possui verba - prejudicam experimentos pois danificam os equipamentos.

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Segundo a Pró-reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças, o investimento da União por aluno, anualmente, mostra que de 2014 para 2018 houve um decréscimo de 25,1%, passando de R$ 24.023,57 para R$ 17.999,20. Outro dado que mostra o tamanho da dificuldade financeira é que o orçamento de custeio (para pagar despesas como prestação de serviços, aquisição de materiais de consumo, bolsas e benefícios aos estudantes, por exemplo) para 2017 correspondeu a, aproximadamente, 80% dos recursos alocados em 2014. Em relação aos recursos da capital (para obras, construções, compra de equipamentos, entre outras ações), a situação é também crítica, pois o orçamento de 2017 foi 62,5% menor que o de 2014.

Alunos afirmam que outra prioridade da próxima gestão da UFPE deve ser ampliar a assistência estudantil. O Restaurante Universitário, no câmpus Recife, só está recebendo discentes que são isentos do pagamento da refeição. “Passo o dia na universidade. Chego às 8h e só saio entre 18h e 20h. Almoçava e jantava no RU e pagava R$ 6. Agora estou trazendo marmita de casa porque não tenho condições de gastar R$ 10 cobrados por um almoço nas lanchonetes”, afirma Breno Valença, aluno do curso de farmácia.

DEBATE

Dos 10 candidatos, três participaram da última disputa, realizada em maio de 2015. A atual vice-reitora, Florisbela Campos, agora concorre ao cargo de reitora. O professor Edilson Fernandes, que na consulta acadêmica de quatro anos atrás foi para o segundo turno com Anísio, volta a pleitear a reitoria. E o professor Daniel Rodrigues, do Centro de Educação, também retorna como candidato a reitor, numa chapa coletiva, formada por oito pessoas. Nos próximos dias 7, 14 e 22 haverá debates com as chapas, organizados pela Associação de Docentes da UFPE.

Como o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) não liberou 81 urnas eletrônicas solicitadas, a UFPE usará o Sistema Integrado de Gestão de Eleições (SIGEleição), criado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e que simula esses equipamentos. A medida foi tomada para evitar o uso de cédulas manuais, que deixaria o processo mais vulnerável. O TRE informou que as datas da consulta acadêmica coincidem com um evento que envolverá o corpo técnico do tribunal, inviabilizando o suporte à universidade. Justificou ainda que o pedido impacta em recursos não disponíveis pelo órgão.

Últimas notícias