INCENTIVO À LEITURA

Alunos da rede pública do Recife lançam livro na Bienal

Estudantes, com idades entre sete e oito anos, participam de programa de formação de leitores da Prefeitura da capital

AMANDA RAINHERI
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AMANDA RAINHERI
Publicado em 06/10/2019 às 7:14
Foto: Leo Motta/ JC Imagem
Estudantes, com idades entre sete e oito anos, participam de programa de formação de leitores da Prefeitura da capital - FOTO: Foto: Leo Motta/ JC Imagem
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Em uma tarde de terça-feira, uma garça chega à Escola Municipal Nossa Senhora da Penha, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, para dar aula sobre cuidados com o meio ambiente. O que acontece em seguida é uma aventura narrada coletivamente por 22 estudantes do 2º ano da unidade de ensino. O livro “O dia em que a Garça Gracinha veio à nossa escola” é fruto de um programa de incentivo à leitura desenvolvido nas instituições de ensino da capital, e será lançado pelos pequenos nesta segunda-feira (7), na maior feira literária do Nordeste, a Bienal Internacional do Livro. Mais do que um trabalho de sala de aula, a iniciativa busca despertar a paixão pelos livros e pela escrita, em meio a um mundo cada vez mais digital.

O livro escrito pelos alunos, com idades entre sete e oito anos, é uma continuação da obra “A Garça Gracinha”, de autoria de Mônica Coelho, professora de ciências e vice-gestora da Escola Ambiental Águas do Capibaribe, da Prefeitura da capital. Na história original, a ave fala sobre poluição dos manguezais e a importância de cuidar do meio ambiente. “A iniciativa de escrever uma continuação veio após uma contação de história que realizei na escola. Em seguida, eu e a professora do 2º ano B, Lídia Martins, começamos a reunir as ideias dos alunos e organizá-las em forma de texto”, conta a autora.

Os alunos ainda confeccionaram, em massinha de modelar, as ilustrações da obra que será lançada. “Eu gostei muito de ter feito esse livro. A história ficou muito boa; é bonita e fala sobre cuidar da natureza”, conta Angelina Silva, de oito anos. Venezuelana, ela chegou a Pernambuco em novembro do ano passado. “A expectativa deles está muito grande. Estão todos muito felizes e ansiosos para a Bienal”, revela Lídia Martins, professora da turma.

Dar aos estudantes protagonismo para escreverem suas próprias histórias é uma das estratégias adotadas pelo Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores, desenvolvido em todas as 312 instituições de ensino do município. Ao todo, o programa, que existe há 13 anos, envolve 91 mil alunos da rede pública, além de 233 professores e 11 técnicos. “É um desafio trazer a leitura para mais perto das nossas crianças. Elas se distanciaram muito devido à internet, com as redes sociais e o acesso à informação através do digital. Esse distanciamento aconteceu tanto da leitura quanto da escrita formal”, pontua Martha Azevedo, gerente de formação de leitores e educação ambiental da Secretaria de Educação do Recife.

Uma preocupação que se estende à organização da feira literária. “Por mais que os leitores estejam entrando no eixo da tecnologia, existe um público fiel, com um carinho muito grande pelo livro. A Bienal tem público que vai de idosos a crianças e sempre fazemos nessa época do Dia das Crianças também para estimulá-las. Muitas criam o hábito através dos pais, é uma herança que vai de pai para filho”, defende Guilherme Robalinho, produtor da Bienal.

GERAÇÕES LEITORAS

Formar eternos leitores é despertar nos pequenos o amor pelas letras, pelas histórias e pela experiência de conhecer mundos inteiros através da imaginação. Enquanto alguns são apresentados aos livros pela escola, para outros, a paixão pelo universo literário é uma herança de família, que atravessa gerações.

Os livros estão entre as grandes paixões da contadora Alessandra Albuquerque, de 47 anos. “Não abro não de ler no papel. A leitura me faz viajar e aprender mais sempre”, conta. O amor pelas histórias contagiou a filha Marina, de 11 anos. “Gosto muito de gibis e de livros de atividades. Prefiro ler no papel, porque dá para sentir o livro”, afirma a menina. Mãe e filha foram juntas à abertura da Bienal na última sexta-feira. A contadora ainda pretende voltar outras duas vezes à feira. “Vou trazer meu filho de 14 anos e depois vir sozinha. São gostos diferentes, então dedico um dia a cada um. Acho muito importante estimular isso neles.”

Foi Allan, de seis anos, quem despertou na dona de casa Michele da Silva, 25, o interesse pela leitura. Desde que o menino era apenas um bebê ela criou o hábito de ler para ele antes de dormir. “Agora que ele sabe ler, fazemos isso juntos. É um momento nosso, de troca”, conta ela. Os livros também ajudam a diversificar a rotina de Allan. “Ele gosta muito de usar aparelhos eletrônicos, então divido o tempo dele entre o tablet e a leitura. Acho muito bom para ele, estimula a imaginação, a criatividade”, justifica.

Aos nove anos, Davi já lê livros com centenas de páginas. O incentivo veio de casa. “Eu gosto muito de ler e sempre procurei despertar isso nele”, conta Erika Keila Souza, 30, mãe do garoto. A nutricionista, que também consome conteúdos através do digital, defende que os livros são uma fuga das telas que cercam o dia a dia. “A tela, muitas vezes, pode remeter a um jogo. Ele pode começar lendo e acabar ficando disperso. O livro é uma fuga desse excesso de tela, uma forma de adquirir conhecimento e também uma oportunidade de trocar obras entre os amiguinhos”, argumenta a mãe.

BIENAL

A 12ª edição da Bienal Internacional do Livro acontece no Centro de Convenções, em Olinda, Grande Recife, até o próximo dia 13 de outubro, das 10h às 22h. Com o tema “Histórias para Resistir”, a feira homenageia, em 2019, os escritores Solano Trindade e Sidney Rocha.

Os ingressos custam R$ 10 (inteira), R$ 7 (meia entrada social, mediante entrega de 1kg de alimento não perecível ou 1 livro não-didático usado) e R$ 5 (meia). Crianças com até 12 anos, estudantes da rede pública com uso da camisa ou uniforme escolar, professores, escritores associados da UBE, Policial Civil e Militar e Corpo de Bombeiros, portando carteira de identificação, não pagam ingresso.

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