Alguns desavisados pensaram que era sobre sexo, mas era sobre liberdade. Para defender a autonomia feminina e lutar por políticas públicas que inibam, efetivamente, a violência contra as mulheres, cerca de 1100 pessoas participaram da Marcha das Vadias durante a tarde deste sábado, no Recife. O grupo saiu da Praça do Derby, às 16h, em direção à Praça da Independência, no Centro, em protesto que abordou o tema delicado com humor. A mobilização é inspirada em um movimento canadense conhecido como "Slut Walk, e acontece anualmente em mais de 20 cidades do Páis.
Ao som de músicas brasileiras como Pagu, de Rita Lee, e Vai Vadiar, de Zeca Pagodinho, diversas manifestantes despiram a parte de cima do corpo, cobrindo os seios apenas com tinta e adesivos com dizeres anti-machismo. “Se ser livre é ser vadia, então preferimos ser vadias. Queremos criticar essa moral podre que culpabiliza a mulher quando ela sofre uma violência. Quem tem que ser punido é o agressor, não a vítima”, explica uma das organizadoras do evento, Paula de Andrade.
Muitas das pessoas que caminhavam pela Avenida Conde da Boa Vista no sábado não conheciam a marcha e algumas demoravam para entender o motivo do protesto. “É uma caminhada de prostitutas?”, questionou um rapaz. Mas os manifestantes não hesitavam em explicar o protesto. “A marcha é uma forma da gente se expressar e chamar a atenção das pessoas contra o machismo, estamos nos defendendo contra a violência”, disse a estudante Juliana Mazza.
A marcha é uma forma da gente se expressar e chamar a atenção das pessoas contra o machismo, estamos nos defendendo contra a violência
estudante Juliana Mazza
Na pauta do manifesto também estava a descriminalização do aborto e a criação de delegacias especializadas no interior do Estado para frear a violência. A manifestação durou cerca de duas horas e foi escoltada pela Polícia Militar. Duas faixas da Conde da Boa Vista, sentido Derby-Centro, foram fechadas, provocando lentidão no tráfego. Em trechos mais movimentados, como a frente do Shopping Boa Vista, a marcha parava para convidar as pessoas a entrarem na luta contra o machismo.
Na avaliação do poeta e compositor Tony Melo, a liberdade de expressão deve ser apoiada sempre, por todos, do mesmo modo que o combate à violência contra a mulher. “Tudo que for livre, tudo que for saudável, tudo que for pela quebra de tabus, estou apoiando. Liberdade acima de qualquer coisa”.