caso portinari

Leonardo se diz ''fruto da negligência do Estado''

Réu confesso diz que entrou no mundo do crime após milicianos invadirem sua casa no Rio de Janeiro

Carlos Eduardo Santos
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Carlos Eduardo Santos
Publicado em 30/06/2012 às 18:56
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“Eu sou fruto da negligência do poder público.” Dessa forma, Leonardo Jorge da Silva se descreveu após contar sua história para Célia Labanca, diretora do MAC. Morador “da área nobre do bairro de Ramos”, o jovem diz ter entrado para o mundo do crime em 2006, aos 20 anos, após o Estado virar as costas quando ele mais precisava.

Naquele ano, conta Leonardo, voltava do trabalho – era montador de bicicletas – quando encontrou a mãe chorando na esquina de casa. “Ela estava desesperada. Perguntei o que havia acontecido e ela disse que tinha sido expulsa de casa pelos milicianos”, relembrou, se referindo a integrantes das milícias cariocas, grupos criminosos formados por policiais.

“Eu, meus dois irmãos e meus dois sobrinhos estávamos sem casa, sem ter para onde ir”, afirmou. Segundo ele, por ter mais instrução na família, pois estudava na época, decidiu procurar o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, onde foi impedido de entrar por estar de bermuda.

“Desesperado, fui à Igreja da Candelária, onde contei o que estava acontecendo para uma senhora e ela arranjou uma calça para mim. Lá no tribunal, disseram para eu procurar o Ministério Público, mas lá não consegui entrar por estar usando sandálias.”

Após conseguir um sapato emprestado em uma construção, de acordo com Leonardo, outra decepção. “Fomos até bem recebidos. Nos deram água, café. Pedi proteção para mim e minha família, prestamos depoimentos para mais de um funcionário, mas a hora foi passando e quando o prédio fechou, fomos convidados a sair. Ou seja, a gente continuava sem ter para onde ir”, explicou.

Nesse momento, Leonardo resolveu recorrer a um amigo de infância, que era traficante. “No momento em que mais precisei do Estado, ele me virou as costas. Quem me ajudou foi um amigo traficante, que me deu abrigo e uma casa que temos até hoje. Mas um dia ele pediu para eu ir pegar droga em São Paulo e não tive como negar”, garante.

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