lavagem de olinda

Trinta anos de um ritual de fé

Com a reforma da Igreja do Bonfim, será o Alto da Sé que vai receber água de cheiro, a partir das 16h deste domingo

Betânia Santana
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Betânia Santana
Publicado em 12/01/2013 às 21:18
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Com a reforma da Igreja do Bonfim, será o Alto da Sé que vai receber água de cheiro, a partir das 16h deste domingo - FOTO: NE10
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Mais do que afastar a negatividade do ano que se foi, a Lavagem das Escadarias do Bonfim, em Olinda, serve para dar voz a praticantes de uma religião cercada de preconceitos. O evento, que acontece neste domingo, comemora 30 anos de história e representa o sincretismo religioso entre Candomblé e Catolicismo. Este ano, por causa da reforma na Igreja do Bonfim, a lavagem acontecerá no Alto da Sé, a partir das 16h. Um palco maior para milhares de adeptos das religiões de matriz africana.

Organizada pelos representantes do terreiro Roça Osún Opara Oxossy Ybualama, com o apoio da Secretaria de Patrimônio e Cultura de Olinda, a lavagem surgiu em Pernambuco a partir de uma promessa feita pelo babalorixá Tata Raminho, pai de santo do terreiro, em 1983. Com Jorge de Bessen, pai pequeno da casa, realiza orações pedindo proteção e bênçãos para o novo ano. O ritual acontece sempre no primeiro domingo após a Queima da Lapinha, que simboliza o fim do Ciclo Natalino. “As Águas de Oxalá afastam tudo o que é velho e negativo, do ano que se foi. Oxalá, no Catolicismo, é representado por Nosso Senhor do Bonfim, por isso carregamos a imagem dele no nosso andor.” A limpeza também limpa os caminhos para a folia.

A água é preparada, no próprio terreiro, com axés e perfumes. Para marca os 30 anos do ritual, a procissão terá dois andores. “Carregaremos a imagem de São Salvador do Mundo e do Nosso Senhor do Bonfim. Eles serão enfeitados de flores brancas e seguirão com a percussão, formada por 60 músicos do Afoxé Povo de Odé.” Os vasos com as águas de Oxalá são carregados pelas baianas. De acordo com Jorge, este ano passa de 60 o número das filhas da casa. “Elas utilizam traje de gala branco, colares e velas.”

Cerca de 20 mil pessoas participaram da procissão no ano passado. Neste domingo, são esperadas 25 mil. “Como o espaço é maior, certamente outros adeptos farão parte”, explicou Nelson Raimundo, coordenador do evento. Saindo do Alto da Sé, o cortejo segue pela Ladeira da Misericórdia, Rua do Bonfim, Quatro Cantos, Amparo, Joaquim Nabuco, cruza a Avenida Pan-Nordestina, chega a Jardim Brasil e continua em direção ao Culto Afro Nossa Senhora do Carmo.

De acordo com o secretário executivo do Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnicorracial (Cepir), Jorge Arruda, ainda há um medo por parte dos adeptos de assumir a sua religião. “São dois elementos alvos de preconceitos: negro e integrante da umbanda. Só no ano passado, foram 173 denúncias de intolerância religiosa.”

Em Pernambuco, acredita-se que existam de 5 a 6 mil terreiros de Umbanda e Candomblé, porém, oficialmente catalogadas, são apenas 1.750. Os dados são de uma pesquisa feita pelo governo federal, no ano passado. “Eventos como a lavagem fazem com que o preconceito diminua. O Brasil tem avançado em relação a isso, mas é preciso fazer valer as leis que garantem o direito de exercer a religião escolhida, além das que dizem ser preciso ensinar na escola a cultura e a história de um povo”, ressaltou.

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