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Famílias da Vila Sul resistem à espera de um lugar para morar

Moradores se espremem nos dois lados dos trilhos que margeiam a Avenida Sul temem o iminente despejo

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 21/06/2014 às 7:35
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Moradores se espremem nos dois lados dos trilhos que margeiam a Avenida Sul temem o iminente despejo - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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“Veja, não é bem um palacete, mas é o que eu tenho. Pode entrar”, diz Rodrigo Pereira Nunes, de 26 anos, pedreiro e instrutor de capoeira, duplamente desempregado. Aponta para a porta do barraco de pouco mais de três metros quadrados construído com sobras de madeira e lona achadas nas ruas do Pina e de Brasília Teimosa, na Zona Sul recifense. O primeiro dos 1.350 que foram construídos na Vila Sul, comunidade que surgiu há três meses, à beira da Avenida Sul e que hoje engole as duas margens da linha férrea que corta o Recife na altura do Coque, na Ilha Joana Bezerra, e na Avenida Recife, no Ibura. A Vila Sul praticamente faz limite com a área mais comentada da cidade no último mês: o Cais José Estelita, alvo de uma pendenga que envolve os proprietários do terreno e manifestantes contrários à construção do Novo Recife, empreendimento que prevê 12 torres de até 40 andares no local. A exemplo do que aconteceu no Cais, o dono do terreno – a Ferrovia Transnordestina Logística, que tem concessão da União para explorar a área – pleiteia na Justiça a remoção dos ocupantes. De diferente mesmo só o motivo da resistência de quem ainda está lá: um lugar para morar.

Rodrigo vive com a esposa Danielle, também desempregada, e os três filhos, Mateus, 7, Miriam, 4, e Mirielle, 2, na entrada da ocupação, embaixo do pontilhão do metrô. Por motivos óbvios, não há água encanada ou sistema de esgoto no local. A água consumida pelas famílias para cozinhar, lavar roupas e beber é coletada após uma caminhada de 30 minutos até o Coque. No retorno, mais 30 minutos, e com peso. “Não queira nem saber como a gente faz com as necessidades”, diz, com um certo bom humor. De tanto em tanto a entrevista é interrompida pelo barulho (muito forte) do metrô que passa logo acima dos barracos. Se incomoda? “A gente se acostuma. Pobre se acostuma com tudo”, completa Rodrigo. 

Como resquício de uma área urbanizada, as casas são todas numeradas artesanalmente e trazem o primeiro nome dos moradores, algumas até o número do celular de quem vive lá.

Igualmente desempregada, Sandra Saturnino, 42, também está na ocupação desde o início. Ela comenta que a alta nos aluguéis promoveu um verdadeiro êxodo no Coque. “É impossível ganhar um salário mínimo e pagar um aluguel de R$ 300 ou R$ 400, fora as contas de água e luz”.

Aos 53 anos e com deficiência no braço esquerdo, Iara Jane mora sozinha em um barraco mobiliado com apenas um sofá velho. O problema torna as viagens para buscar água no Coque mais tortuosas. “Mas tem que ser eu mesma, ninguém pode pegar por mim”. Cientes de que estão em uma área que pode ser retomada a qualquer momento, as famílias nem pensam em resistência no caso de uma eventual reintegração de posse. “O que a gente quer é um lugar para viver. Se a polícia vier, vamos sair pacificamente. Até porque a comunidade é cheia de idosos e crianças”, explica o pintor Robson Conceição.

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