O sexto incêndio em quatro meses deixou em estado de alerta os moradores da Vila Sul, no bairro de São José, Centro do Recife. No início da manhã de ontem um dos cerca de 1.300 barracos da ocupação pegou fogo, mas não houve vítimas. Há um mês, outras duas residências improvisadas foram destruídas pelas chamas. Entre os moradores há a suspeita de que as ações sejam criminosas. Apreensivos, eles aguardam pela desocupação do local, que deverá acontecer ainda este mês, quando a Prefeitura do Recife e a Superintendência de Patrimônio da União (SPU) celebrarão um acordo e definirão o destino das famílias.
A Vila Sul está localizada num terreno pertencente à União e que por concessão deverá ser explorado pela Ferrovia Transnordestina Logística (FTL). Enquanto não acontece a desocupação, os moradores convivem com o medo, principalmente à noite. “Eu não durmo direito há um bom tempo. Ninguém sabe quem está colocando fogo nos barracos e graças a Deus ninguém se feriu. Mas pode acontecer uma tragédia aqui”, afirmou a dona de casa Marisa Ramos, que foi morar na Vila Sul por não poder pagar o aluguel de R$ 400 no Coque. Pelo mesmo motivo o reparador de instrumentos musicais Osvaldo Carvalho deixou o bairro de Águas Compridas, em Olinda, para morar na invasão. Hoje teme pela integridade física. “Além desses incêndios existe um problema muito sério de furtos por aqui. Qualquer coisa que é deixada num barraco é levada, e a gente não pode dizer nada.”
O cenário ainda é de extremo abandono: não existe água encanada nem esgoto, e a maioria dos barracos está desocupada. O soldador Suenildo Rodrigues afirma que a polícia não entra na Vila Sul, o que facilita ainda mais a ação dos supostos criminosos no local. “Nesses quatro meses de ocupação o máximo que vi foi um carro da Polícia Militar parado na Avenida Sul, isso é uma vez perdida. Aqui dentro a gente também sente insegurança”, disse.
Na comunidade, a maioria diz ter certeza de que os incêndios não são obra do acaso, mas todos evitam falar abertamente sobre quem pode ser responsável. “O que eu sei é que eles entram por aqui, fazem a arruaça deles e depois vão embora”, disse a doméstica Eunice Santos, que não respondeu à pergunta sobre quem eram as pessoas.
A Vila Sul surgiu em março deste ano, quando cerca de 300 famílias – a maioria proveniente do bairro do Coque – ocuparam o terreno que é cortado pela linha férrea do Recife, às margens da Avenida Sul. Hoje a ocupação tem pouco mais de mil pessoas e se estende por cerca de 400 metros, das proximidades da entrada para o Cabanga até o Cais José Estelita.
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