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Construções centenárias esquecidas em Jaboatão dos Guararapes

Imóveis seculares como a casa em que Paulo Freire viveu e a sede da Guarda Municipal precisam estão à espera da restauração no centro antigo da cidade

Marina Barbosa
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Marina Barbosa
Publicado em 11/11/2014 às 12:41
Foto: Hélia Scheppa / JC Imagem
Imóveis seculares como a casa em que Paulo Freire viveu e a sede da Guarda Municipal precisam estão à espera da restauração no centro antigo da cidade - FOTO: Foto: Hélia Scheppa / JC Imagem
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Quem passa desavisado pela Rua Vírgilio Lamenha Lins mal imagina que o patrono da educação brasileira morou na casa de número 70 daquela via do bairro de Santo Aleixo, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Nada informa que Paulo Freire passou a adolescência ali, na década de 1930. Pelo contrário, a casa só chama a atenção pelo mal estado de conservação. Com pintura desgastada, tijolos à mostra e telhado esburacado, é um dos edifícios mais deteriorados da área. O abandono surpreende, mas uma visita a Jaboatão Velho mostra que o descaso com o patrimônio não fica só na rua em que o maior pedagogo pernambucano viveu. É que toda a cidade convive com construções centenárias esquecidas.

A casa de Paulo Freire nem é a mais antiga, mas impressiona pelo valor histórico e cultural. Poderia abrigar um centro educacional ou um museu, mas nem uma placa faz referência ao ilustre morador. “Às vezes, aparecem estudiosos por aqui. Eles ficam impressionados com a situação da casa. E eu entendo, devia ser reformada mesmo”, diz o atual morador, Antônio Carlos dos Santos, 33 anos. Pedreiro, ele garante que o visual deteriorado não oferece risco, mas confessa que ajeitaria tudo, se pudesse. “Os donos não deixam que eu faça nada.” A casa ainda pertence à família de Paulo Freire, mas passou anos fechada e só foi alugada a Antônio há pouco tempo, por R$ 200 mensais.

O mesmo acontece no casarão da Rua Clóvis Beviláqua, que foi ocupado por usuários de drogas nos vários anos de esquecimento e há cinco meses é “protegido” pelo autônomo Ismael Teixeira, 50. “O dono deixou que eu ficasse aqui. Agora, estou ajeitando o que posso.” Outros proprietários não se preocupam nem em ocupar esses edifícios. Um dos ícones da desvalorização fica na esquina da Rua Duque de Caxias, Centro de Jaboatão Velho. Um sobrado centenário está entregue à própria sorte há anos. O telhado não existe mais e algumas paredes foram ao chão. As que restam estão tomadas por infiltrações e parecem a ponto de desabar, com grades enferrujadas, portas de madeira apodrecidas e um buraco que revela parte da estrutura de sustentação do subsolo. 

MEMORIAL - O problema é que esses imóveis são de propriedade particular e, por isso, são de responsabilidade exclusiva dos donos. “Estamos restaurando os prédios públicos, mas não podemos intervir nos privados sem a autorização dos proprietários. Como muitos estão abandonados, abrimos um edital para localizar os donos. Mas a maior parte dos imóveis é herança de vários irmãos e é difícil encontrar todos”, explica o secretário de Cultura de Jaboatão, Isac Luna. 

Ele ressalta que a biblioteca municipal, a antiga cadeia pública e a Casa da Cultura são alguns dos prédios públicos reformados nos últimos anos. Já a antiga sede da Guarda Municipal continua esquecida na esquina da Rua de Santo Amaro, uma das áreas mais antigas da cidade, apesar de uma placa anunciar a reforma. Rodeado por mato alto, cheio de infiltrações e janelas quebradas, o prédio deve ser revitalizado para abrigar o 6º Batalhão da Polícia Militar.

Segundo Luna, o projeto de reforma está em andamento, assim como o tombamento da antiga casa de Paulo Freire. “Queremos criar um memorial que conte a história do pedagogo, sirva como centro de formação e abrigue relíquias da vida dele”, conta. O pedido de tombamento será apresentado à Câmara no início de 2015 e foi aprovado pelos proprietários da casa, diz o secretário. Para Luna, primos distantes do pedagogo explicaram que descuidaram da manutenção do edifício por falta de recursos.

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