DITADURA

Laudo perdido ajudou a identificar preso político

Segunda matéria da série sobre os arquivos do IML destaca o caso de Ezequias Bezerra

Felipe Vieira
Cadastrado por
Felipe Vieira
Publicado em 04/04/2015 às 18:00
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Segunda matéria da série sobre os arquivos do IML destaca o caso de Ezequias Bezerra - FOTO: Foto: Guga Matos/JC Imagem
Leitura:

Ninguém no município de Escada, na Zona da Mata Sul do Estado, sabia de quem era aquele corpo que apareceu na Barragem do Bambu, dentro da Usina Massauassu, na manhã daquele 12 de março de 1972. Era um homem de cor parda, com 1,64 metro, trajando apenas cueca. Tinha marcas de agressões por todo o corpo e estava amarrado a uma pedra de 30 quilos. No ofício de remoção de corpos número 78, encaminhado naquele mesmo dia ao Instituto de Medicina Legal (IML), o delegado da cidade, tenente Bartolomeu Melo, lembrou-se de colher as impressões digitais do cadáver e fazer um minucioso relato da cena que tinha encontrado. Graças a ele e ao médico legista que fez a necropsia, no dia seguinte, a morte do geólogo Ezequias Bezerra da Rocha deixou de ser mais uma ocorrida sob as patas da ditadura militar (1964-1985) a ficar sem identificação.

Historiadores do Arquivo Público que estão organizando e digitalizando o acervo de laudos do IML entre 1925 e 1979 encontraram, em 2013, o laudo tanatoscópico correspondente ao ofício 78, de 1972. “O ofício de remoção já havia sido encontrado em 1991, e a família sabia que as digitais eram de Ezequias. Mas não havia o laudo correspondente, ou seja, oficialmente era como se a necropsia não tivesse sido realizada”, explica a coordenadora da pesquisa, a historiadora Carolina Cahu. O documento, que deveria estar entre os arquivos do mês de março de 1972, foi colocado no mês de fevereiro, o que o deixou escondido por 21 anos. “Suspeitamos que o legista fez isso intencionalmente, para identificação futura, uma vez que viu tratar-se de um caso de tortura”, acrescenta.


Últimas notícias