Com um déficit habitacional girando em torno de 70 mil unidades, o Recife verá o término da gestão Geraldo Julio (PSB)com, no máximo, 2,759 novas moradias entregues à população carente, segundo estimativas da própria prefeitura. Desde o início da administração, em 2013, 524 famílias conseguiram novo lar. Até o final de 2015, serão inauguradas outras 230 habitações, num total de 754 em três anos. O que deixa a gestão com a espinhosa missão de entregar cerca de 2.005 novas moradias apenas em 2016. Ou, em outras palavras, concluir em 12 meses quase o triplo do que foi feito em três anos. Com uma campanha eleitoral – e todo seu cortejo de restrições – no meio do caminho.
A julgar pelo estado da maioria dos 16 conjuntos atualmente em construção na cidade, a tarefa será complicada. Oito deles estão com menos de 50% das obras concluídas. Um dos maiores emblemas do atraso na política habitacional na cidade talvez seja o Conjunto R12, no bairro da Linha do Tiro, na Zona Norte. São 14 prédios de quatro pavimentos cada, num total de 224 apartamentos. O abandono das obras fez com que a vegetação chegasse ao topo de alguns dos edifícios. No Habitacional Vila Brasil I, na Ilha Joana Bezerra, área central do Recife, os cômodos de alguns dos 128 apartamentos estão repletos de fezes de cavalo.
O Habitacional H13, no bairro da Campina do Barreto, também na Zona Norte, está com apenas 14% dos serviços concluídos. A construção das 69 casas tipo duplex foi paralisada há quase um ano. No local, apenas um velho portão trancado com cadeado e o mato tomando conta do que restou da construção. A boa notícia é que a prefeitura promete retomar as obras – em dois conjuntos na Campina do Barreto e outros dois em Campo Grande(Zona Norte), no próximo mês.
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A comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, teve 36 apartamentos entregues no início da gestão. Outros 108, de um total de 588 previstos no projeto, estarão prontos em 2016, segundo cálculos da prefeitura. A insatisfação é grande, entre os que têm e os que ainda não conseguiram a sonhada moradia. “A gente já vê muitas rachaduras e infiltrações. E é uma construção nova. Dá um pouco de medo, né?”, comenta a doméstica Ângela Pereira. No segundo time, as pessoas que passam pela privação de morar de forma indigna, e acompanhar com apreensão os passos lentos da obra. “Hoje tem gente trabalhando. Mas será que chega ao final?”, pergunta a também dona de casa Clementina Bezerra. Na prefeitura, ainda há projetos para outros oito habitacionais, num total de mais 2.784 unidades. De acordo com o plano, serão atendidos bairros da Zona Oeste, como Jiquiá e Afogados, e da Zona Sul, como Imbiribeira.
A titular da Promotoria de Habitação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Betina Guedes, explica que a prefeitura se comprometeu, em junho, a elaborar um plano habitacional para a cidade. A promessa é em resposta a um provocação antiga do MPPE: desde 2011 – ainda na gestão João da Costa (PT) – foi instaurado um inquérito civil sobre a política habitacional da cidade, e um dos pedidos era um plano com diretrizes para o setor. Nos dois últimos anos da gestão petista e nos dois primeiros da administração de Geraldo Julio, nada de resposta. “A partir desse documento vai ser possível cobrar prazos e outras ações”, diz a promotora. O prazo dado pelo MPPE foi de seis meses e vence em dezembro deste ano.
Para o secretário de Saneamento da Prefeitura do Recife, Alberto Feitosa, a burocracia e a conjuntura econômica instável do País foram os maiores entraves à construção dos habitacionais. “A inflação promove altas nos preços de itens como cimento, areia e tijolos. Isso precisa ser reajustado nas planilhas e ainda passar pelo crivo do Tribunal de Contas do Estado. Os atrasos são inevitáveis nesse processo”. Apesar das dificuldades, a prefeitura se comprometeu a entregar os habitacionais no prazo estipulado (ver arte ao lado).