Monumento

Obra resgata o glamour de sobrado secular no Centro do Recife

Construído em 1840, imóvel em processo de restauração vai oferecer café-bar, bistrô, galeria de arte, capela e espaços para concerto e teatro

Margarette Andrea
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Margarette Andrea
Publicado em 13/04/2016 às 6:26
Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Para muitos, um problema. Para o empresário e art designer alemão Klaus Meyer, uma oportunidade. Bastou um olhar diferente para um dos decadentes casarões do bairro da Boa Vista se revelar uma verdadeira preciosidade. Construído por volta de 1840 e reformado em 1913, o sobrado de nº 35 da Rua da Soledade, Centro do Recife, transpira história. Pinturas de época; azulejos portugueses, belgas, ingleses e franceses dos séculos 18, 19 e 20; estuques decorados com frisos nos tetos e parte superior das paredes, entre outros detalhes arquitetônicos, fazem parte do cenário que está prestes a se descortinar aos recifenses.

Há 11 meses, o imóvel passa por um processo de restauração – sob comando do restaurador alemão Matthias Kjer – para oferecer ao público, gradativamente, um café-bar, um bistrô, uma galeria de arte, capela, sala para pequenos concertos e um palco para orquestras e encenações teatrais. “Vi a casa na internet e pensei: É minha! Comprei para morar, mas quando começamos a limpar as paredes os afrescos foram surgindo e decidi que tudo isso tinha de ser acessível ao público. Daí, surgiu o projeto”, conta Klaus, com empolgação.

A fachada – que mistura os estilos neoclássico do século 19 e eclético do século 20 – está recuperada e destaca o antigo nome do imóvel que foi mantido: Villa Ritinha, uma homenagem à esposa do senhor de engenho então proprietário da casa. A calçada precisou ganhar ares atuais com luzes no piso. Já na entrada, a desgastada cerâmica moderna foi substituída por piso quadriculado que remete à época. Lá mesmo já começam a surgir os primeiros afrescos, que se multiplicam pelos cômodos à esquerda, onde funcionarão o café-bar e o bistrô. Algumas dessas pinturas trazem a assinatura de Pires, pintor renomado de Lisboa na época.

Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
Fachada mistura estilos neoclássico do século XIX e eclético do século XX - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Afrescos são descobertos sob várias camadas de tinta em quase todos os cômodos - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Estuques dos tetos trazem ricos detalhes da época - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Pinturas do espaço onde funcionará o café-bar retratam figuras da época - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Capela que funcionava em anexo do sobrado será recuperada para pequenas cerimônias - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Corredor recebeu fachadas de parede, como antigamente - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Parte de trás do sobrado será recuperada num segundo momento - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Jardim localizado no quintal vai ganhar novas plantas e espaço para contemplação - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Klaus Meyer diz que a casa "é uma grande aventura" - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Fachada é rica em detalhes - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Antigo nome do imóvel, Villa Ritinha, foi mantido para o novo espaço - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Cômodo superior voltado pra rua será residência do novo proprietário - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Calçada ganhou iluminação voltada para sobrado - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
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Sobrado se destaca em meio a imóveis maltratados - Foto: Fernando da Hora/JC Imagem

Pela escada em madeira raríssima, uma sequência de pinturas que se estendem até o teto (são nove metros de altura) retratam a descoberta do Brasil pelos portugueses. Na parte de trás há um anexo, onde antes funcionavam uma capela, possivelmente uma senzala, jardim, canil, criadouro de galinhas e até uma jaula de leão. “Muitos nobres criavam leões (que representavam a nobreza) como bicho de estimação”, salienta o arquiteto e historiador Ricardo Guerra, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) que está fascinado pelo projeto.

Na capela, havia um elevador belga no estilo art nouveau, um dos primeiros do Recife, igual a um existente no Palácio do Campo das Princesas, da década de 1920. “Já encontrei um elevador do tipo que pretendo adquirir. Vou recuperar a capela e criar um espaço de contemplação do jardim, no primeiro andar, que dará acesso à galeria de arte onde teremos exposição de artistas nacionais e internacionais. No fundo do quintal será montado um pequeno palco para apresentações de teatro e música”, explica Klaus. 

Ainda há muita arte sob extensas camadas de tinta, mas o alemão teve acesso a fotos antigas do imóvel, com a família portuguesa da qual o comprou. E está se baseando nelas para recuperá-lo. “Vou modificar o mínimo possível. Quero manter as características originais para que as pessoas entrem e sintam que estavam naquela época. Até os empregados vão estar fardados com roupa art nouveau”, adianta.

Klaus pretende abrir o café-bar e o bistrô o quanto antes. Já alugou dois espaços com 80 vagas de estacionamento e vai contratar manobristas. À noite, o espaço funcionará apenas para membros. “Estou comercializando o cartão-membro, que pode ser adquirido por R$ 40 ao mês e dá direito a dois cafés mensais e desconto no valor dos concertos. Queremos um público de alto nível, que goste de cultura e música clássica”, destaca. Os interessados podem entrar em contato pelo endereço [email protected]

O empresário – que optou por morar em um dos cômodos do primeiro andar – também busca parcerias para dar continuidade ao restauro. “É um processo caro. Já gastei meio milhão e estimo precisar de mais R$ 1 milhão. É possível que ao final da obra seja um empresário feliz e falido”, brinca.

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