DROGAS

Fiocruz traça perfil do usuário de crack em Pernambuco

Pesquisa foi realizada em quatro cidades: Recife, Cabo, Jaboatão e Caruaru

Do JC Online
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Publicado em 15/04/2016 às 7:30
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Pesquisa foi realizada em quatro cidades: Recife, Cabo, Jaboatão e Caruaru - FOTO: Diego Nigro/JC Imagem
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O usuário de crack em quatro das maiores cidades do Estado tem um perfil bem definido: é, em sua maioria, homem, negro ou pardo, tem entre 18 e 34 anos, ganha entre um e dois salários mínimos, sobrevive de “bicos”, tem baixa escolaridade e começou a usar a droga por influência de terceiros, no meio onde vive. Ou em outras palavras, é o clássico exemplo de pessoa que vive em um ambiente de alta vulnerabilidade social.

O mapeamento foi realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que entrevistou 1.062 pessoas atendidas pelo programa Atitude, do governo do Estado, em quatro municípios: Recife, Joaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Caruaru, este última no Agreste do Estado. O Atitude é a principal iniciativa pública no tratamento dos dependentes do crack e atende 13 mil pessoas. A pesquisa foi feita entre agosto de 2014 e agosto de 2015, e divulgada ontem, durante um seminário realizado na sede da Fiocruz, no bairro da Cidade Universitária, Zona Oeste da capital.

No grupo de entrevistados, 77,1% são homens e 22,9%, mulheres. Os baixos níveis de renda e de escolaridade também acabam empurrando as pessoas ao consumo: 50,5% dos usuários não têm o ensino fundamental completo e 77,4% ganham entre um e dois salários mínimos. 

O primeiro trago, para 41,6% deles, veio por influência de pessoas ao redor, e 34,8% disseram apenas ter curiosidade de experimentar algo diferente. O turbilhão causado pelo consumo constante empurrou mais da metade dos entrevistados para a vida nas ruas: 54,8% deles estavam vagando pelas cidades, sem teto, quando foram integrados ao programa Atitude.

O uso prolongado da droga tem um efeito devastador sobre as relações familiares, segundo a pesquisa: 63,9% das pessoas dizem ter filhos, mas apenas 8,8% afirmam morar com eles. “A quebra dos vínculos familiares e sociais é um dos pontos mais preocupantes detectados na pesquisa”, afirma Naíde Teodósio, pesquisadora da Fiocruz.

Segundo ela, o trabalho também teve o objetivo de detectar a relação de vulnerabilidade dos usuários a doenças como aids, sífilis, hepatites tipos B e C, além de tuberculose. No caso do vírus HIV, a taxa de infecção entre os entrevistados foi de 6,9%, 17 vezes maior que a estimada para a população do País em 2014, que foi de 0,4%, segundo a Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde.

Mas nem tudo são más notícias na pesquisa. Alguns dados sugerem que a maioria dos usuários tem consciência de que o uso do crack tem consequências negativas em suas vidas. Segundo o trabalho, 89,1% dos entrevistados afirmaram terem vontade de se tratar do vício, e 74,2% das pessoas que procuraram o Atitude o fizeram, de acordo com a pesquisa, para “melhorar a saúde”.

“A redução no consumo após o ingresso no programa também foi significativa: de 24,5 pedras por dia para nove pedras. E muitos estão há meses sem usar nada”, explica a coordenadora geral do programa Atitude, Malu Freire.

O Recife ainda é a cidade que concentra a maior parte dos entrevistados (48,5%). De acordo com a Secretaria municipal de Enfrentamento ao Crack, nos últimos 12 meses, cerca de 1700 mil multiplicadores em prevenção às drogas foram habilitados pela prefeitura. Também foram realizadas 3.508 apresentações culturais, e outras 150 pessoas foram formadas em vendas e recepção hospitalar. Ainda de acordo com a secretaria, R$ 2 milhões foram destinados à compra de vagas para usuários em entidades terapêuticas. 

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