URBANISMO

Camelódromo agoniza no Centro do Recife

Estrutura precária, mobilidade deficiente e falta de clientes estão entre os problemas

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 05/05/2016 às 7:30
Guga Matos/JC Imagem
Estrutura precária, mobilidade deficiente e falta de clientes estão entre os problemas - FOTO: Guga Matos/JC Imagem
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O Calçadão dos Mascates – popularmente conhecido como camelódromo – foi inaugurado em 1994 como a solução para a desordem do comércio informal do Centro do Recife. Vinte e dois anos depois do investimento, à época, de R$ 1,5 milhão, o que ficou foi uma outra forma de desordem: o inchaço do local, a má distribuição dos boxes, mobilidade deficiente, a falta de fiscalização sobre o comércio e a estrutura a cada dia mais precária. Pouca coisa que lembre um centro comercial amigável ao consumidor.

Concebido e inaugurado durante a gestão do então prefeito Jarbas Vasconcelos (1993-1997), o Camelódromo é um complexo de seis módulos e capacidade para pouco mais de mil boxes encrustado na Avenida Dantas Barreto, no bairro de São José. Mas apenas o primeiro deles, que começa na esquina com a Rua Tobias Barreto, tem uma boa movimentação de clientes. À medida que se avança em direção à Praça Sérgio Loreto, no final da avenida, o número de boxes fechados e o vazio de consumidores aumenta.

O primeiro sinal de que o ordenamento urbano falhou ao longo dos anos pode ser visto já nos primeiros módulos. Alguns quiosques chegam a tomar quase toda a calçada, fazendo com que os pedestres desçam à rua. Carrinhos de lanche colocam, sem qualquer cerimônia, mesas e cadeiras em plena avenida, uma afronta ao tráfego e um desnecessário risco à vida dos pedestres. 

Dentro do complexo, a palavra de ordem é “improviso”. Da disposição dos boxes à precária rede elétrica, com o emaranhado de fios ao alcance de quem passa, tudo parece ter sido arranjado sem o menor critério. Para completar, várias partes da estrutura metálica que sustenta as cobertas está com grandes pontos de ferrugem.

No projeto original, os boxes que ficam na parte de cima do camelódromo deveriam ser utilizados como depósitos para os comerciantes. Hoje, são espaços vazios, cujas entradas são fechadas com cadeados e correntes.

No módulo dedicado à alimentação, também vence a política da gambiarra: refeições são cozinhadas e servidas em meio aos corredores, sem preocupação aparente com higiene. Em alguns trechos, para passar pela calçada, é preciso desviar de mesas onde as pessoas estão comendo.

Em vários pontos do Calçadão dos Mascates, a locomoção exige atenção por parte dos pedestres. Buracos no chão e pedras soltas provocam tropeções constantes. Durante a manhã em que esteve no local, a reportagem presenciou, por duas vezes, idosos se desequilibrando ao pisar em falso nas crateras.

“A ideia do camelódromo foi boa, mas com o tempo e falta de cuidado, isso aqui se acabou”, lamenta o comerciante Carlos Alberto da Silva, que há 17 anos trabalha no local. “Quando chove, cai mais água aqui dentro do que fora. Sem contar o movimento fraco nessa parte onde a gente fica”, relata ele, ocupante do quarto módulo, um dos menos frequentados. A atendente Maria Auzinete dos Santos, que cuida dos banheiros, cita parcela de responsabilidade dos próprios comerciantes. “Muita gente não liga para manter o ambiente organizado, aí acaba virando bagunça mesmo”.

Através de nota, a Companhia de Serviços Urbanos do Recife (Csurb) informou que irá realizar, no segundo semestre, “uma análise mais aprofundada da Avenida Dantas Barreto, com o objetivo de implantar um conjunto de melhorias no equipamento citado pela reportagem e em toda a área do entorno”. De acordo com a prefeitura, até lá, a Companhia vai continuar a realizar a manutenção emergencial corretiva do Camelódromo. Ainda segundo a nota, “o ordenamento da área faz parte do plano de melhorias que estão sendo implantadas na área central e em importantes largos comerciais da cidade, com o intuito de organizar o comércio e proporcionar mais mobilidade aos cidadãos”.

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