Arquitetura

Palacete em Casa Amarela volta a exibir sua arquitetura eclética

Localizado na Estrada do Arraial, a palacete foi restaurado e abrigará residência funcional do consulado chinês

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 17/07/2016 às 8:08
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Localizado na Estrada do Arraial, a palacete foi restaurado e abrigará residência funcional do consulado chinês - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Na Estrada do Arraial, em Casa Amarela, bem na esquina com a Rua Ferreira Lopes, há uma casa daquelas que costumam atrair olhares. E não é para menos. O palacete de dois pavimentos tem as fachadas decoradas com jarrões, pinhas, estátuas, colunas e elegantes balaústres de ferro no guarda-corpo dos terraços.

Esses detalhes da arquitetura eclética andavam meio escondidos atrás da vegetação que crescia sem controle. Com as árvores podadas e o mato removido, a fachada restaurada e pintada da antiga casa de cidade grande volta a chamar a atenção no conhecido bairro da Zona Norte do Recife.

O palacete da Estrada do Arraial, número 3139, é uma construção do fim da década de 1940 ou início dos anos 50. “Não localizamos documentos nem plantas da casa. Sabemos que representa um ecletismo tardio, porque nessa época já havia uma produção mais moderna na cidade”, avalia o arquiteto Murilo Medeiros.

Por alguma razão, diz ele, a família proprietária fez opção pelo estilo, mas de uma forma mais suavizada. As fachadas não têm o rebuscamento característico da arquitetura eclética do século 19, observa Murilo Medeiros, que trabalha na restauração da casa desde dezembro do ano passado.

Ele assina a reforma interna e externa e as adaptações dos cômodos ao novo uso – o imóvel reabrirá este ano como residência funcional do Consulado da China. “Seguimos o projeto de restauração das fachadas elaborado pelo escritório Lopes e Valadares.”

A casa chama a atenção tanto pela beleza quanto pelas dimensões. Só de área construída são 1.200 metros quadrados, com três salas principais, quatro banheiros, dez quartos (apenas um tinha suíte), uma cozinha e um jardim de inverno. “Cada cômodo tem de 30 a 40 metros quadrados”, comenta o arquiteto.

Uma das salas, com 40 metros quadrados, é quase do tamanho de um apartamento dos tempos atuais. O banheiro principal tem 25 metros quadrados. “Eram quartos de banho”, diz. E como se precisasse economizar espaços, armários e cristaleiras de madeira eram embutidos nas paredes.

O dono do palacete era o usineiro Roberto Brito Bezerra de Melo, informa Reinaldo Carneiro Leão, pesquisador do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP). “É característico de uma época em que as pessoas ostentavam a riqueza em grandes casas e retrata um modo de vida”, observa.

Cinema

Então proprietário das Usinas Central Barreiros, Riuna (Rio Formoso) e Santana (Porto Calvo, Alagoas), Roberto Bezerra de Melo construiu o imóvel quando estava para se casar, no início da década de 1950, inspirado na fachada de um casarão do filme Forever Amber (Entre o poder e o pecado, 1947), afirma Reinaldo.

“Ele viu o filme e pediu para um engenheiro reproduzir o modelo da casa”, declara o pesquisador do IAHGP. “Forever Amber é uma produção norte-americana ambientada na Inglaterra da segunda metade do século 17.” Baseada em fatos reais, relata a história das amantes de Carlos II, rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda no período de 1660 a 1685.

Murilo encontrou a casa com árvores quase entrando pelo terraço, paredes mofadas, infiltrações, fungos e infestação de cupins. “Estava muito comprometida, porque ficou oito anos sem uso. Mas é uma moradia muito bem executada e trazia soluções construtivas modernas, como a laje de concreto armado fina”, diz.

Hoje, o palacete pertence a um grupo investidor e foi alugado pelo consulado chinês. O taco original do piso está mantido e as telhas cerâmicas do tipo canal foram lavadas uma a uma antes de serem colocadas de volta na coberta. A construção que está sendo recuperada, incluindo o terreno, ocupa um terço da Rua Ferreira Lopes. É classificada como Imóvel Especial de Preservação (IEP) do Recife e, agora, volta a fazer parte da vida do bairro.

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