O domingo na Rua da Aurora, no Centro do Recife, foi dia de exercitar a cidadania. Moradores e simpatizantes da rua participaram ontem do Viver a Aurora, evento realizado para discutir a ocupação do terreno do antigo posto de gasolina desativado em maio deste ano. O evento começou às 10h e se estendeu até o início da noite. O Monumento Tortura Nunca Mais se transformou num “mural de desejos”, onde foram penduradas as sugestões dos participantes. Academia das Cidades, posto policial e praça de alimentação foram as alternativas mais votadas.
“A questão da cidadania no século 21 passa pela governança colaborativa. Não dá para ficar esperando pelo poder público, com orçamentos cada vez mais escassos. O cidadão precisa avançar no seu papel e não só participar (da discussão dos orçamentos, por exemplo), mas fazer parte da execução”, defende o arquiteto e professor da Universidade Federal de Pernambuco Ney Dantas. Morador da Rua da Aurora há oito anos, ele conduziu a dinâmica de grupo no local. A coleta das sugestões começou desde a última quinta-feira entre os moradores e comerciantes.
Depois de levantar as sugestões mais votadas, os participantes foram distribuídos em três grupos para responder à pergunta: “Por que não temos o desejo realizado?”. Cada grupo apresentou duas razões que impedem a realização e duas ações para viabilizar os projetos. “Dentro de uma semana vamos contabilizar as respostas e transformar tudo em um documento para encaminhar à Prefeitura do Recife. Vamos encaminhar as propostas, mas sem esperar que o governo toque o projeto. Queremos tocar nós mesmos, por meio de parcerias e colaboração. Se for necessário investir, vamos apelar para patrocínios e realização de quermesses e outras alternativas para levantar recursos”, observa Dantas.
Moradora da Aurora há 10 anos e integrante da Associação Amigos da Aurora, Séphora Silva, acredita que a sociedade deve se engajar para promover melhorias no espaço urbano. “Juntos podemos fazer muitas coisas. Esse evento aqui é um exemplo disso. Não tivemos nenhum apoio do poder público. Tudo foi iniciativa nossa. Precisamos saber o que queremos, planejar e realizar”, defende. O Viver a Aurora teve catação de lixo, feirinha de produtos orgânicos, barraquinhas de comida, pintura de camisas e plantio de mudas.
“Queremos uma boa solução pública para o espaço onde funcionava o posto de gasolina. Foi uma batalha para que o empreendimento saísse. Há cinco anos funcionava sem alvará e licença, além de ficar à beira do rio poluindo o meio ambiente”, recorda a moradora e outra integrante da Amigos da Aurora Marylia Santos. Com a mobilização, os moradores e simpatizantes de uma das ruas mais bonitas do Recife dão o exemplo de que mais do que discurso de engajamento é preciso colocar a mão na massa.