Em meio aos jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx, em 1934, na Praça de Casa Forte, em bairro homônimo da Zona Norte do Recife, surgiu um equipamento inusitado. Um barraco feito em madeira, folhagens e lençóis foi montado, esta semana, por uma moradora de rua, sobre um dos bancos da praça, que faz o papel de cama para a mulher franzina, de olhar distante. Ela se apresenta como Alexandrina José do Carmo e diz ter 65 anos.
De fala mansa, no momento da abordagem (há denúncias de ela jogar pedras e xingar pessoas), a mulher afirmou que mora na rua “desde menina” e que antes de se instalar na histórica praça de um dos bairros mais nobres da cidade vivia em Jardim São Paulo, na Zona Oeste. “Mas lá me roubaram muito. Gostei mais daqui”.
RELEMBRE
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Alexandrina disse tomar banho e lavar roupa em um lava-jato da área e fazer suas necessidades em um saco para depois jogar no lixo. “Não gosto de imundície. Até o coco dos cachorros eu apanho”, revelou. Enquanto moradores falavam da necessidade de ela ser levada a um abrigo, a mulher rebateu: “Pra abrigo não vou. É bom, mas não gosto. Uma vez me puxaram à força e eu passei oito dias. Chorei tanto...”. Ela alegou ter um filho, que não vê há três anos. “Ele me trocou por uma mulher”. E salientou: “Não sou doida, tenho juízo”.
COMOÇÃO, SOLIDARIEDADE, INDIGNAÇÃO E CONSTRANGIMENTO
A situação vem provocando reações de comoção, solidariedade, indignação e constrangimento. A administradora Suzana Fialho, 38, diz já ter feito mais de vinte ligações para a prefeitura, na tentativa de buscar assistência para Alexandrina. “É muita burocracia e pouca prática. Como podem não fazer nada? Não é a questão de se transformar a praça numa favela, mas de humanidade. Essa senhora precisa de acompanhamento”.
“Eu tenho pena de reclamar. A gente tem casa, cama, comida boa. Mas não tem condições de ficar desse jeito. Eu me criei aqui, muita gente já usou os bancos da praça para dormir, mas é a primeira vez que montam um barraco. Também, a praça está abandonada. Falta fiscalização, iluminação, alguém que a adote”, declarou a aposentada Graciete Carvalho, 81. O engenheiro Gustavo Pontual, 66, reforçou a queixa de escuridão e o sentimento de pena. “É estranho ela aí, mas a mim não incomoda. Certamente, ela não tem aonde ir”.
PREFEITURA ACOMPANHA CASO DE PERTO
Por meio de nota, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos da Prefeitura do Recife disse que está acompanhando o caso junto com a Secretaria de Saúde. E que a mulher tem sido resistente à aproximação dos agentes, os quais buscam ganhar sua confiança para encaminhá-la a uma casa de acolhida.