Estudo

VSR é maior causa de doenças respiratórias em crianças de até 2 anos no Recife

Levantamento foi feito em quatro capitais do Nordeste e avaliou oito tipos de vírus. O Influenza foi o menos frequente

Margarette Andrea
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Margarette Andrea
Publicado em 26/01/2017 às 17:11
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Levantamento foi feito em quatro capitais do Nordeste e avaliou oito tipos de vírus. O Influenza foi o menos frequente - FOTO: Divulgação
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O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é a principal causa de doenças respiratórias em crianças de até 24 meses hospitalizadas em quatro capitais nordestinas: Recife, Aracaju, Salvador e Maceió. O pico de infecção na região acontece um mês mais cedo do que se pensava, a partir de fevereiro, ao contrário do Sul, onde a incidência é maior em agosto. A descoberta sugere a necessidade de se antecipar o calendário de vacinação no Nordeste para janeiro.

Os achados são do mais novo estudo Previne (Prevalência, Fatores de Risco, Índices de Codetecção e Sazonalidade de Vírus Respiratórios em Crianças com Infecções no Trato Respiratório Inferior no Nordeste do Brasil), divulgado, em coletiva à imprensa, em São Paulo, na última sexta (20). 

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No Recife ­ onde o levantamento foi realizado no Instituto de Medicina Integral Doutor Fernando Figueira, IMIP - o índice de prevalência do VSR entre as viroses foi maior do que em todas as capitais: 60,2%, quando a média geral ficou em 40,2% (mais do que o dobro do segundo vírus mais frequente, o rinovírus, cuja prevalência foi de 17,2%). 

"Não há nenhuma característica relevante no Recife, o índice pode ter influência da época (os picos variam em cada região) ou do próprio local de coleta do material", salienta Ricardo Gurgel, coordenador do estudo e Professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe.

A capital pernambucana também teve um resultado diferenciado no que se refere ao diagnósticos das doenças provocadas pelo VSR. Um total de 52,9% das crianças estudadas tinham pneumonia; 28,2%, bronquiolite e 18,9%, outras doenças. Nas demais capitais prevaleceu a bronquiolite. O coordenador da pesquisa afirma que esse resultado também pode estar associado às características locais, inclusive a períodos chuvosos no momento da coleta. Segundo o médico, não há pesquisas sobre o índice de mortalidade no País, mas ele é baixo.

LEVANTAMENTO

O estudo, coordenado pela biofarmacêutica AbbVie, foi realizado com 507 crianças, entre abril de 2012 e março de 2013, com o objetivo de medir a prevalência do VSR e de outros sete vírus respiratórios em bebês de zero a 24 meses no momento da internação, além de observar o período de circulação desses vírus e fatores de risco associados. É a primeira pesquisa que contempla a região, até então só havia estudos individuais. 

"Os resultados podem contribuir para adoção de medidas preventivas mais eficazes, isto é, antes do pico de circulação do vírus”, salienta Gurgel. Entre os oito vírus pesquisados, o Influenza ficou em último lugar, com 3,2% de prevalência. O Coronavírus não apareceu (ver quadro).

SINTOMAS

Em crianças acima de dois anos e adultos saudáveis, os sintomas do VSR são semelhantes aos de um simples resfriado. “Mas nos bebês prematuros ele pode provocar infecções respiratórias graves (as mais comuns são bronquiolite e pneumonia) e hospitalizações recorrentes, com necessidade de ventilação mecânica, podendo levar a óbito quando há fatores de risco associados”, alerta o médico.

Ao longo do tempo, em geral até os 13 anos, contudo, é comum que a pessoa infectada tenha várias reinfecções, apresentando chiado recorrente no peito. “Até os 3 anos de idade, todas as crianças já tiveram contato com o vírus, que é transmitido por via respiratória (tosse e espirro) ou, em sua maioria, por contato (pelas mãos até uma hora e por objetos infectados até 24 horas)”, explica. 

IMUNIZAÇÃO

"Não há um tratamento específico para o VSR. A imunização é passiva. Não é uma vacina que leva a pessoa a fabricar anticorpos, nós aplicamos o anticorpo já pronto. E o medicamento (o palivizumabe) tem vida curta, é eliminado em cerca de 28 dias, por isso é preciso aplicar várias doses, no máximo de cinco", salienta Renato Kfouri, Presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. A vacinação deve ser feita um mês antes do pico, portanto, no Recife deve começar entre janeiro e fevereiro.

Segundo o médico, o palivizumabe tem uma eficácia de 55% a 70% na redução de hospitalizações. E é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para bebês prematuros nascidos com até 28 semanas de gestação, durante o primeiro ano de vida, assim como para bebês com displasia broncopulmonar e cardiopatias congênitas, até os dois anos de idade, como recomenda calendário de imunização específico, elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela Sociedade Brasileira de Imunização. 

A vacina também está disponível na rede particular, mas só pode ser aplicada com prescrição médica. "Não há indicação para crianças saudáveis. Mas é importante que os pais de bebês prematuros estejam informados sobre o assunto para cobrar", observa Kfouri. A vacina leva três semanas para fazer efeito e um frasco de 100 gramas, que imuniza três crianças, custa em torno de R$ 5 mil.

 

 

 

OBS: A repórter viajou a convite da Biofarmacêutica AbbVie 


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