Planta pré-histórica

Cicadáceas: as plantas que resistem à passagem do tempo

O engenheiro aposentado Gileno Machado é considerado o maior colecionador de cicadáceas do País

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 25/06/2017 às 8:08
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Na Era Mesozoica, dinossauros herbívoros costumavam se alimentar de cones de cicadáceas. Os gigantes pré-históricos, todos sabem, desapareceram há mais de 65 milhões de anos. Enquanto isso, as plantas que testemunharam o período jurássico continuam espalhando sua linhagem sobre a Terra.

As cicadáceas são vegetais super-resistentes, podem viver até mil anos quando cultivados ou até dois mil anos no habitat natural e as folhas de algumas espécies duram até cinco anos. “Elas estão há 250 milhões de anos na Terra”, declara o engenheiro civil Gileno Machado, considerado o maior colecionador de cicadáceas do Brasil.

Gileno Machado é um catador de cicadáceas e em 12 anos conseguiu reunir 132 espécies, das 340 variedades existentes no mundo. A coleção, mantida numa propriedade em Sirinhaém, no Litoral Sul de Pernambuco, é composta de mais de 1.500 plantas (muitas delas são raras) com idades que variam de oito a 20 anos.

A quem interessar, nenhuma está à venda. “É uma coleção de interesse científico, paisagístico e educacional”, afirma o engenheiro. No futuro, ele pretende reproduzir as espécies num jardim botânico e reintroduzi-las em seus locais de origem. “Quero legar ao Brasil esse patrimônio genético de plantas de vida tão longa.”

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Cycas angulata, da Austrália, na maior coleção de cicadáceas do Brasil, em Sirinhaém (Pernambuco) - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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As cicadáceas, como a Cycas angulata da coleção de Sirinhaém, estão na Terra há 250 milhões de anos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Cicadáceas podem viver até 2 mil anos na natureza. Na foto, Encephalartos lehmanni, da África do Sul - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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A Encephalartos lehmanni, da África do Sul, é uma das 340 espécies de cicadáceas existentes no mundo - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Na coleção há 132 espécies de cicadáceas. Uma delas é a Encephalartos horridus, da África do Sul - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Encephalartos horridus, da África do Sul - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Macrozamia miquelli, da Austrália - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Macrozamia miquelli, da Austrália - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Zamia decumbens, de Belize, faz parte da coleção de cicadáceas do engenheiro Gileno Machado - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Zamia decumbens, de Belize, cultivada em Sirinhaém, no Litoral Sul de Pernambuco - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Cycas multipinnata, da China - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Encephalartos trispinosus, da África do Sul, tem as folhas azuladas - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Macrozamia miquelli, da Austrália - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Uma cera produzida pela planta dá o tom azulado à Encephalartos trispinosus, da África do Sul - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Ferox, de Moçambique - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Encephalartos princepis blue, da África do Sul - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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As folhas nascendo na Cycas armstrong, da Austrália, na coleção de cicadáceas de Sirinhaém - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Cycas armstrong, da Austrália - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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As folhas da Encephalartos hildebrandti, da Tanzânia e Quênia, exibem cor achocolatada - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Cones da Zamia sp jamaica giant, da Jamaica, uma cicadácea fêmea - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Cone da Zamia inermis, do México, uma cicadácea macho - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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As folhas da Dioon spinulosum, do México e Guatemala, duram até dois anos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Dioon spinulosum, do México e Guatemala, cicadáceas de folhas resistentes - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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A Cycas siamensis sp silver, da Tailandia, tem as folhas prateadas - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Cycas siamensis sp silver, da Tailandia, cultivada por Gileno Machado em Sirinhaém (Pernambuco) - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

 

Dos seis gêneros de cicadáceas, dois estão criticamente ameaçados de extinção na África do Sul, informa Gileno Machado. As três espécies nativas do Brasil, da Amazônia, são inexpressivas, diz ele. A vegetação é característica da faixa tropical e subtropical da África, Austrália, sudeste Asiático e Américas do Sul e Central.

A coleção de Gileno Machado tem origem nas plantas do botânico Tadeu Mendes Costa, da Universidade Federal de Pernambuco. E cresceu com o plantio de sementes que ele comprou, ganhou ou trocou. “O ideal seria manter todas no chão, num jardim botânico especializado, com acompanhamento de botânicos e biólogos”, observa o colecionador.

REPRODUÇÃO

O cone da cicadácea, explica Gileno Machado, é o instrumento reprodutor e está presente nas plantas machos e fêmeas. “Não é flor”, esclarece. É nele que fica o pólen, liberado quando o cone amadurece e se abre. Na época da reprodução, o cone da fêmea também se abre para receber o pólen, levado por besouros ou pelo vento.

Duas espécies da planta primitiva são cultivadas em sementeiras pernambucanas e usadas com frequência em projetos de paisagismo: Cycas revoluta e Cycas circinalis.“Apesar de muito comuns, elas são caras”, comenta Gileno Machado. Fatores climáticos e coleta para venda contribuem para a extinção, acrescenta.

Há cicadáceas com folhas duras feito cartão de banco, com folhas que se fecham como persianas de janelas, de coloração azulada, prateada e achocolatada e outras com espinhos. O tom azul vem de uma cera desenvolvida pela planta, diz Gileno Machado. O tamanho varia de 30 centímetros a 25 metros de altura.

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