RECIFE

Moradores e comerciantes do Centro reclamam do patrimônio abandonado

Quem reside ou trabalha nas Ruas da Glória, Velha e da Matriz se queixa da falta de atenção do poder público

Da editoria de Cidades
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Publicado em 02/08/2017 às 7:00
Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem
Quem reside ou trabalha nas Ruas da Glória, Velha e da Matriz se queixa da falta de atenção do poder público - FOTO: Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem
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Cansaço e descrença. São as duas palavras que resumem o sentimento de moradores e comerciantes que vivem ou trabalham no Centro do Recife, entre as Ruas da Glória, Velha e da Matriz, na Boa Vista. Cansaço porque não aguentam mais reclamar da falta de atenção do poder público com uma região histórica da cidade. Descrença porque já viram inúmeras promessas de melhorias não se concretizarem. O sobrado que pegou fogo domingo passado, onde morreram duas pessoas, é apenas mais um entre tantos imóveis seculares que se deterioram a olhos vistos, colocando em risco a vida de residentes e transeuntes, e cada vez mais afastando investimentos da iniciativa privada.

“Essas tragédias vão se repetir, com a perda de patrimônio e arriscando vidas humanas. Continuarão enquanto o governo municipal não estabelecer uma política clara para retomada da qualidade de vida, moradia e trabalho nos bairros tradicionais do Centro do Recife. Infelizmente não existem ações de estímulo para ocupação desses lugares”, ressalta o economista ambiental Jacques Ribemboim, presidente da ONG Civitate. A entidade luta para resgatar espaços urbanos na área central da cidade.

O empresário César Bastos, 52 anos, circula pela Rua da Glória pelo menos três vezes por semana e critica o patrimônio abandonado. “A prefeitura esqueceu que essa região existe. Não há fiscalização nem controle algum. Outros prédios abandonados podem desabar a qualquer momento. Há estruturas com madeira molhada, se pegar fogo, alastra rapidinho. É uma bomba relógio”, comenta César.

Moradora da mesma via, a aposentada Maria Evânia Vasconcelos, 66, diz que tem medo. “Fico preocupada pois nem todos cuidam dos imóveis. Eu conservo minha casa. Mas tem casarões rachados, velhos, sem gente morando”, afirma Evânia, que adquiriu a residência cinco anos atrás.

Na Rua Velha, o comerciante Sérgio Tavares, 54, aluga o andar térreo de um casarão onde instalou sua loja de maçaricos. “Fico a maior parte do tempo do lado de fora pois tenho medo. Vale a pena manter negócio aqui pois o valor do aluguel é baixo e há muita circulação de pessoas. Só que a situação é cada vez mais precária”, observa Sérgio. A rua está situada na Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural da Boa Vista (ZEPH 8).

Para a ambulante Rosana Silva, 37, o incidente registrado domingo na Rua da Glória a fez lembrar da tragédia que vivenciou em junho de 2006, quando um sobrado na Rua Velha desabou e sete pessoas morreram. Ela morava em um dos três imóveis vizinhos que foram danificados. “Meu filho tinha quatro anos na época e ficou soterrado. Sobreviveu, mas tem um tumor na cabeça. A prefeitura interditou o casarão e depois deixou pra lá. Invadiram novamente e ocuparam”, conta Rosana.

PROVIDÊNCIAS

Ontem de manhã a Defesa Civil do Recife colocou tapumes na pensão que foi incendiada. Outros três imóveis vizinhos também permanecerão interditados. Laudo com as conclusões sobre o incêndio deve ficar pronto em até 30 dias e vai indicar se há necessidade de demolição ou recuperação do sobrado.

A prefeitura informa que instrumentos de incentivos fiscais que visam a manutenção, recuperação e preservação de imóveis históricos, como isenção parcial ou total do IPTU, ISS e ITBI, estão sendo estudadas para a ZEPH 8, como já ocorre no Bairro do Recife, por exemplo.

A gestão assegura que os órgãos municipais realizam fiscalizações nos prédios históricos (de rotina ou a partir de denúncias). Só este ano a Defesa Civil vistoriou 43 imóveis na Rua da Glória e adjacências, com recomendação para que 42 fossem recuperados.

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