Arqueologia

Engenho Jaguaribe resgatado por arqueólogos da UFPE em Abreu e Lima

Construído no século 16, o Engenho Jaguaribe faz parte do primeiro núcleo de povoamento de Pernambuco

Cleide Alves
Cadastrado por
Cleide Alves
Publicado em 29/08/2017 às 8:08
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Construído no século 16, o Engenho Jaguaribe faz parte do primeiro núcleo de povoamento de Pernambuco - FOTO: Foto: Guga Matos/JC Imagem
Leitura:

Arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que desenvolvem pesquisas na área do antigo Engenho Jaguaribe, em Abreu e Lima, município do Grande Recife, encontraram vestígios das primeiras construções feitas no terreno, no século 16. Os pesquisadores localizaram, no subsolo, restos do piso de taipa batido da casa-grande, uma base de pedra e uma canaleta, possivelmente da época da implantação do engenho, de 1540 a 1580.

Situado na zona rural, por trás do Hospital Miguel Arraes, Jaguaribe é um dos primeiros engenhos de açúcar de Pernambuco. Pedaços de parede, restos de pisos e alicerces, marcas de colunas e limites de portas e janelas identificados no local ajudarão os arqueólogos a reconstituir a configuração original do engenho, afirma a professora Cláudia Alves Oliveira, coordenadora da pesquisa. Ela levanta a hipótese de uma provável convivência entre índios e europeus, à época.

“É uma teoria a ser estudada”, afirma a arqueóloga, que identificou instrumentos indígenas (raspas de sílex em forma de raspador e furador) ao escavar um trecho próximo das ruínas da capela do Engenho Jaguaribe. Na mesma região, os pesquisadores recuperaram um pedaço de vidro lascado à maneira dos artefatos dos índios. “Seria um indício da presença indígena entre os europeus e da continuidade da tecnologia indígena de lascar pedra”, observa a professora.

Cláudia Alves Oliveira acrescenta que já recuperou material pré-histórico de morros próximos ao engenho, em pesquisas anteriores, além de objetos que sugerem contato entre índios e europeus, como faiança (louça de barro esmaltada) e cerâmica torneada. “No morro que estamos estudando no momento, distante 200 metros do engenho, achamos apenas material indígena”, declara. O trabalho é executado com alunos da pesquisadora, do curso de arqueologia da UFPE.

EVOLUÇÃO

Em 2016, o grupo desenterrou nesse morro uma vasilha indígena quase completa, cheia de areia, levada para o Laboratório de Estudos Arqueológicos da UFPE. “Há a possibilidade de ser um cemitério indígena, precisamos confirmar no laboratório”, diz ela. Com a pesquisa em campo, os arqueólogos procuram entender a utilização dada ao espaço, estabelecer uma cronologia mais segura e definir as atividades diferenciadas nas áreas, explica a professora.

A pesquisa nas ruínas do Engenho Jaguaribe começou em 2015, mas por falta de apoio financeiro teve de ser interrompida e só foi retomada em 2017, com verba do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura). O trabalho, com duração de um mês, termina nesta quinta-feira (31/08). “Fizemos o trecho da Capela de Santo Antônio, dois anos atrás, e agora nosso foco é a casa-grande”, declara.

De acordo com o arqueólogo Luiz Severino da Silva Júnior, doutorando na UFPE, havia uma capela interna na casa-grande, desde o século 16. O casarão do Engenho Jaguaribe passou por reformas nos séculos 18, 19 e 20, mantendo o oratório. A estrutura da moradia do século 16, informa Luiz Severino, está embaixo das construções mais novas. “A capela interna que avistamos hoje é do século 19”, observa o arqueólogo e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

Nas ruínas da casa-grande, ele identifica paredes de taipa do século 18, paredes da transição do 18 para o 19 e colunas do século 20. A Capela de Santo Antônio, diz Luiz Severino, é mais nova que o casarão. “A nave é de 1580, mas a capela-mor e a sacristia são de momentos posteriores.” A datação dos tijolos e da argamassa será feita com ajuda de um físico da universidade.

RELATO

Até o momento, não foram encontrados sepultamentos na Capela de Santo Antônio. Porém, no que sobrou da sacristia, ainda resta a base de um túmulo, sem ossadas. Uma estrutura de pedra recuperada no terreno, entre o casarão e a capela, pode indicar a localização da fábrica onde era feito o açúcar. Os achados confirmam a descrição do Engenho Jaguaribe feita pelo viajante inglês Henry Koster no século 19.

“Ele ficou hospedado na casa do capitão-mor e relata que via a capela à frente, a moita (fábrica) atrás e a casa-grande e a senzala à esquerda”, diz Cláudia Alves. A próxima pesquisa será em busca de vestígios da senzala, construções frágeis que não resistem à passagem dos séculos.

Além da pesquisa, a equipe fez uma ação de educação patrimonial em Abreu e Lima com exposição dos achados arqueológicos na Escola Polivalente. Também organizou oficinas de cerâmica e pintura nas Escolas Pedro Salviano Filho e Neusa Rodrigues. Para encerrar as atividades, será realizada uma palestra sexta-feira (1º/09) na Escola Francisco Barros.

O Engenho Jaguaribe faz parte da Sesmaria Jaguaribe, doada por Duarte Coelho, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, ao português Vasco Fernandes de Lucena, em 1540.

Últimas notícias