Natal

Natal, a festa das luzes, celebra o nascimento de Jesus Cristo

Para pesquisadores e religiosos, Cristo está se tornando uma figura secundária na festa do Natal

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 23/12/2017 às 17:17
Ilustração: Thiago Lucas/ Artes JC
Para pesquisadores e religiosos, Cristo está se tornando uma figura secundária na festa do Natal - FOTO: Ilustração: Thiago Lucas/ Artes JC
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Na tradição religiosa cristã, a próxima segunda-feira, 25 de dezembro é o aniversário de Jesus. A data não é histórica. É simbólica, informa o professor do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Severino Vicente da Silva. E a escolha de 25 de dezembro para marcar o nascimento de Cristo (Natal) não é aleatória, acrescenta.

Os romanos, no passado, celebravam o deus Apolo, também chamado deus da justiça, em 25 de dezembro, afirma Severino Vicente da Silva. “Era o dia do sol mais forte e eles comemoravam o sol da justiça”, explica. Quando o Cristianismo começa a ocupar Roma, nos séculos 3 e 4, a prática é adaptada ao culto a Jesus e ganha novo sentido.

“Com a expansão do Cristianismo, Jesus passa a representar o princípio da Justiça, a luz do mundo, o sol da vida, o sol da justiça”, declara Severino Vicente da Silva, lembrando que 25 de dezembro é o dia da Festa da Cristandade. “É o momento em que se forma uma sociedade ligada à religião, quando Estado e religião se confundem.”

De acordo com o historiador, desde a segunda metade do século 20 o Natal vem perdendo a característica da festa que reunia a família para celebrar o aniversário de Cristo. “Hoje, é uma festa para se trocar presentes, Jesus virou uma figura secundária”, comenta Severino Vicente da Silva.

Igrejas

Pároco de Santo Amaro, em Jaboatão dos Guararapes, município do Grande Recife frei Damião Silva concorda com a observação feita pelo historiador. “Infelizmente, há um esvaziamento do sentido real da festa. Natal é o nascimento de Cristo, é a época de renovar no coração dos homens esse sentido de vida nova e traz uma mensagem de esperança para o mundo”, declara frei Damião.

Esse simbolismo, diz ele, acaba se perdendo na correria do comércio, na troca de presentes e nas confraternizações com muitas comidas e bebidas. “Quando a pessoa esquece o motivo principal da comemoração do dia 25 de dezembro, que é Cristo, a festa se torna pagã. Natal é acolher Jesus, que é a luz na escuridão”, destaca o frade.

Diferentemente dos cristãos, os adeptos do judaísmo não celebram o Natal. Os judeus comemoram a festividade de Chanuká, que tem outra origem, oito dias de duração e no mês hebraico deste ano correspondeu ao período de 13 a 20 de dezembro, informa a pesquisadora Beatriz Schvartz.

Na festa de Chanuká, os judeus recordam a vitória conquistada por guerrilheiros que lutavam sem armas, apenas no corpo a corpo, contra o exército sírio-grego que queria dominar a Palestina no século 2 a.C. “Celebramos a vitória desse pequeno grupo, os macabeus, e também o milagre do óleo”, declara a pesquisadora de origem judaica.

O milagre aconteceu quando o grupo reabriu o templo judaico, profanado, e só encontrou um vaso inteiro de óleo puro para acender a menorá (candelabro de sete braços). “O conteúdo era suficiente para um dia, mas a menorá ardeu por oito dias”, relata. Por essa razão, na festa de Chanuká a comunidade judaica acende um candelabro especial de oito braços e mais um acendedor, o chanukiá.

Beatriz acrescenta que, embora as comemorações sejam distintas, o judeu se integra à comunidade que o acolhe. “Nas casas onde há casamentos mistos, arde a chanukiá por oito dias ao lado da árvore de Natal. A coexistência com o diferente é possível, basta que o homem aceite”, reforça.

Para o pastor Ailton José Alves, presidente da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco, “o nascimento de Jesus deve ser lembrado pelas famílias como o maior dom de esperança, justiça, amor e salvação.” A mensagem de paz de Cristo, ressalta, precisa ser praticada o ano todo e não apenas no Natal.

Natal nas ruas

Questionada sobre o significado do Natal, a dona de casa Carmen Silva Gama da Rocha, 72 anos, responde que o Natal é o nascimento de Jesus. “Mas é também uma época de se gastar dinheiro, quem tem e quem não tem”, continua Carmen Silva, moradora da Comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, Centro da capital pernambucana.

O Natal, diz ela, é uma festa que costuma despertar a solidariedade com as pessoas mais pobres. “Meus vizinhos vão toda noite para a Rua do Imperador (bairro de Santo Antônio, no Centro), eles recebem doações de sopa, roupas e calçados. Não vou porque eu ando apoiada numa bengala e não tenho condições”, diz Carmen Silva, que vive com um auxílio repassado pelo governo federal equivalente a um salário mínimo mensal.

Troca de presentes, para a estudante Micaela Fonseca Zapata, 16 anos, faz parte da festa, mas não é o foco do Natal. “Se não tiver presente não tem problema porque o importante no Natal é a família reunida”, destaca. Micaela mora no Bairro do Recife e na temporada de verão vende sombrinhas de frevo para turistas na Praça do Marco Zero, na mesma região.

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