MUDANÇAS

Das ruas para a web: as formas de protestar após 200 anos da Revolução

Nesta terça, comemora-se a Data Magna da Revolução Pernambucana, marcada por manifestações. De lá pra cá, muita coisa mudou na forma de lutar

Julia Aguilera
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Julia Aguilera
Publicado em 06/03/2018 às 7:10
Foto: Thiago Lucas/Artes JC
Nesta terça, comemora-se a Data Magna da Revolução Pernambucana, marcada por manifestações. De lá pra cá, muita coisa mudou na forma de lutar - FOTO: Foto: Thiago Lucas/Artes JC
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Esta é a primeira vez que em Pernambuco o dia 6 de março, data em que aconteceu a Revolução Pernambucana em 1817, é considerado feriado. Há dois séculos, nossos conterrâneos estavam lutando pela liberdade e contra os abusos da Corte de Dom João VI. Por 75 dias, após muitas batalhas, Pernambuco tornou-se uma república independente. Mas, neste dia 6, pelo que as pessoas estão lutando?

Mais de duzentos anos se passaram e nesse tempo muita coisa mudou, inclusive nossas reivindicações e a maneira como lutamos por nossos direitos. Hoje em dia, as pessoas têm internet como mais um palco para manifestações. Mas, ao mesmo tempo que auxilia na disseminação de conteúdo, o mundo virtual pode acomodar as pessoas na hora de buscar mudanças.

Temas políticos e sociais estão sendo constantemente tratados nas redes sociais. As pessoas estão compartilhando e militando. Apesar do alcance que as coisas podem ter no mundo virtual, poucas vezes as chamadas ‘bolhas sociais’ permitem que esse conteúdo atinja pessoas que pensem de forma diferente ou que não façam parte do seleto grupo de amigos que o usuário mais interage em seus perfis.

Para Ju Dolores, facilitadora do Coletivo Marcha das Vadias Recife, toda discussão é importante, independente de onde ela aconteça. Para além da internet, ela diz que o Coletivo vem organizando atos unificados para que os participantes se conheçam e dialoguem fora das redes. Essas ações são para "tirar a cara do computador e humanizar essas pessoas", comenta. 

Percebe-se que ultimamente há mais pessoas conectadas do que nas ruas. Para o sociólogo José Arlindo Soares, parte desse esvaziamento das ruas deve-se a uma frustração coletiva do povo. “Há uma reivindicação da população e se essa manifestação não traz resultados, as pessoas ficam cansadas, frustradas. Elas são contrariadas e aquilo que revolta torna-se parte da paisagem, faz parte do dia a dia”, pontua. Apesar desse sentimento, ele acredita que isso seja passageiro e que as novas gerações possam sentir novamente o desejo de mudança.

Esse também é o pensamento da estudante de Economia e diretora de assistência estudantil da União Nacional dos Estudantes (UNE) Dyanne Barros, que afirma que o número de participantes nas manifestações tem aumentado desde 2016. “Em um cenário de tantos retrocessos as pessoas estão se conscientizando e começando a ir mais para as ruas”, afirma. Para a estudante, as redes sociais são uma ferramenta importante para a disseminação da causa estudantil.

Números e interações nas redes sociais

Segundo dados do Instagram, até outubro, o Brasil contava com 50 milhões de usuários mensais ativos. A participação na rede é tão grande que nesta mesma rede social, por exemplo, a hashtag #ForaTemer, usada como forma de protesto contra o atual presidente, foi compartilhada 705.477 vezes até a publicação desta matéria. Outra hashtag, a #TchauQuerida, criada no período do impeachment de Dilma Rousseff, foi publicada 110.046 vezes.

Doutora em Antropologia e participante da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans), a professora Cecília Patrício acredita que as pessoas estão temendo ir para a rua hoje em dia. “Na internet é muito cômodo ter identidades múltiplas. Na rua, você coloca sua cara a tapa”, pontua. Para ela, apesar de ajudar na organização e estruturação de movimentos, a internet costuma dispersar as pessoas. “Você perde tempo para coisas importantes como a luta social e o estudo de outras situações. Isso acomoda as pessoas”.

Tanto para Maria Cecília quanto para o sociólogo José Arlindo, a segmentação das pautas afasta as pessoas das causas reais e enfraquece os movimentos. O sentimento de dever cumprido é saciado durante a participação nas redes, mas as mudanças devem ir além do virtual. “É preciso uma grande causa que faça todo o povo se unir e lutar”, conclui o sociólogo.

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