INTERROGATÓRIO

Em depoimento, Ugiette admitiu ter falado com advogados presos na Operação Ponto Cego

Segundo ele, o que realmente aconteceu foi um ofício onde informava ao jurista responsável pelo caso a denúncia que recebeu

Thiago Cabral
Cadastrado por
Thiago Cabral
Publicado em 17/08/2018 às 7:00
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Segundo ele, o que realmente aconteceu foi um ofício onde informava ao jurista responsável pelo caso a denúncia que recebeu - FOTO: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Leitura:

No depoimento do promotor Marcellus Ugiette, da Vara de Execuções Penais, ao Ministério Público, realizado na noite da última quarta-feira (15) - sobre a suspeita da Polícia Civil dele ter favorecido advogados de detentos para a transferência dos clientes entre presídios, de forma que membros de uma mesma organização ficassem juntos -, Ugiette admitiu ter comunicado a um dos advogados presos na operação Ponto Cego que falaria com um juiz para agilizar uma transferência de um preso ameaçado de morte. Contudo, alegou que essa foi uma forma de se ver livre da importunação desses advogados que pediam a transferência de seus clientes. Segundo ele, o que realmente aconteceu foi um ofício onde informava ao jurista responsável pelo caso a denúncia que recebeu.

O interrogatório durou oito horas. Nele, o promotor ainda afirmou que essa interferência nunca chegou a ser feita e que sempre esteve sempre à disposição de todos da mesma forma, sem favorecimento pessoal. As informações do testemunho de Ugiette foram repassadas pelo advogado Emerson Leônidas, que defende o Ugiette nas investigações do Ministério Público sobre as alegações da Polícia Civil que Marcellus seria o “braço-forte” de uma organização criminosa. “Não foi apresentada prova nenhuma que justificasse colocar Ugiette como ‘braço forte’ no inquérito policial”, afirmou Leônidas.

De meia noite da quarta-feira o testemunho de Ugiette teve fim. Ao todo, as alegações ficaram transcritas em 20 páginas. Todo o conteúdo foi revisado por mais 3h após o término do depoimento, para corrigir questões textuais que poderiam dar cabimento a duplas interpretações. As perguntas do interrogatório foram feitas pelos procuradores que estão à frente do processo administrativo, o procurador Ricardo Lapenda e Frederico Guilherme, ambos do Grupo de Apoio Especializado de Enfrentamento às Organizações Criminosas do MPPE (Gaeco/MPPE). Ugiette está afastado do cargo por 60 dias, contados a partir do último dia 3, data da operação Ponto Cego, quando foi divulgado pela Polícia Civil a suspeita da participação do promotor numa quadrilha acusada de estelionato, furto qualificado, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e advocacia administrativa.

De acordo com o advogado de Ugiette, as alegações do promotor irão absolvê-lo das suspeitas levantadas pela polícia. “O depoimento dele foi esclarecendo o que os advogados presos na operação prometeram aos seus clientes usando o nome de Marcellus. Falam como se Ugiette estivesse participando da transferência, algo que não se comprovou no que foi apresentado. O que existiu é uma fala enviada a um desses advogados, em que Ugiette afirma que iria falar com um juiz para agilizar uma transferência, mas isso nunca aconteceu”, contou. “Ele não tem esse poder, o que ele fez foi um ofício em que falava da denúncia que recebeu. Ficou esclarecido que ele era muita assediado pelo advogado e que sentiu a necessidade de fazer essa falsa proposição para parar de ser importunado. A gente espera que o Ministério Público tenha a interpretação correta desses conversas e não a interpretação violenta e maléfica da Polícia”, completou.

TODOS POR UGIETTE

Uma manifestação de apoio a Marcellus Ugiette acontecerá nesta sexta-feira (17), às 10h, na avenida Visconde de Suassuna, em frente ao Ministério Público. A mobilização não conta com a participação do promotor, nem de ninguém ligado a sua defesa nas investigações. Ela é encabeçada por agentes penitenciários, advogados criminais e amigos do promotor, que acreditam na sua inocência. Num evento do Facebook, os manifestantes declaram “Acreditamos incondicionalmente na sua honestidade, integridade e profissionalismo”.

Últimas notícias