Entrevista

''Quase o perdemos'', relata mãe de ex-interno da Funase

Unidade está sendo desativada gradativamente, por conta de irregularidades

Margarette Andrea
Cadastrado por
Margarette Andrea
Publicado em 16/11/2018 às 8:43
Bobby Fabisak/JC Imagem
Unidade está sendo desativada gradativamente, por conta de irregularidades - FOTO: Bobby Fabisak/JC Imagem
Leitura:

A dona de casa Letícia (nome fictício), de 42 anos, vivenciou de perto os problemas do Case Abreu e Lima. Ela conta que o filho, de 17 anos, foi espancado de forma tão violenta, no segundo dia no local, que perdeu o baço. “Quase enlouquecemos”, diz ela em entrevista ao JC.

JC: O que levou seu filho a ser apreendido?
Letícia: Um rapaz de maior que aliciava os menores no bairro (Pina) chamou ele e mais dois amigos para fumar (maconha) e infelizmente ele caiu nessa. Eles não sabiam, mas o de maior resolveu assaltar um casal e o homem reagiu, então ele atirou. Graças a Deus sobreviveram. A própria vítima depôs a favor de meu filho, mas o juiz disse que ele sabia que o amigo era errado, então ia responder por tentativa de latrocínio e lhe deu sentença de três anos e meio, mesmo ele não tendo antecedentes.

JC: Como a senhora reagiu?
Letícia: Eu mesma entreguei meu filho pensando que o Estado ia cuidar, ia servir de lição. Mas não foi isso o que aconteceu. Com dois dias ele foi espancado porque se negou a lavar a roupa dos meninos. Estouraram o baço dele. Depois da cirurgia para retirar o baço, mesmo estando com suspeita de problema no rim, ele voltou para a Funase com apenas dois dias. Botaram ele numa enfermaria suja, sem porta, sem proteção alguma, sem medicamento, a gente quase enlouquece.

JC: E o que vocês fizeram?
Letícia: Contratamos três advogados. O médico disse que ele não podia ficar em local sujo, estava sem imunidade, mas a justiça não o liberou. Então eu levava água sanitária e lavava tudo lá, até os banheiros, três vezes na semana. Ele mesmo tirou os pontos da cirurgia, pois não tinha quem tirasse. Um absurdo.

JC: Houve mais algum problema maior com ele lá?
Letícia: Teve uma rebelião em que alguns saíram feridos. Ligaram me dizendo que ele levou uma pedrada. Eu corri para lá desesperada. Estava grávida de quatro meses e, infelizmente, acabei perdendo meu bebê. Aí conseguimos transferência para o interior. Foram nove meses de aperreio. Ele saiu da Funase em abril.

JC: O que mudou na vida de vocês nesse período?
Letícia: Isso desestruturou a vida da gente. Eu tinha comércio, mas larguei tudo para me dedicar só a meu filho. Sentia culpa por trabalhar demais. Eu e meu marido acabamos nos mudamos para o interior para ficar mais perto dele.

JC: E como ele está hoje?
Letícia: Ele está com a saúde debilitada, terá restrições pelo resto da vida. Tem que tomar três vacinas a cada cinco anos. Está em liberdade assistida e presta serviço em uma escola de corte de cabelo, mas ainda não voltou a estudar (estava no primeiro ano). Está mais tranquilo, pensa em botar um salão, mas não dorme direito. Precisa de ajuda psicológica e não posso pagar, gastamos tudo com advogados. Vaga no posto só Deus sabe quando tem.

JC: E a senhora?
Letícia:Eu fiquei abalada, não consigo retomar minha vida. Estou revoltada porque perdi meu bebê e quase perco meu filho. A Funase é uma escola de marginais, todo mundo sai pior. Dizem que eles estudam, é mentira, passam o dia se drogando. Eu pedi socorro à polícia, avisei que os meninos eram aliciados, implorei e ninguém apareceu. Só quando aconteceu. Eu vou processar o Estado. Tinham que ter cuidado do meu filho.

Últimas notícias