O advogado Ubirajara Lopes de Carvalho, fundador do grupo Amantes do Recife, começou o ano de 2019 com uma meta a ser cumprida até o fim deste mês de janeiro: recolher mil assinaturas numa carta aberta ao prefeito da cidade, Geraldo Julio, para pedir a manutenção regular das praças localizadas na área central da capital pernambucana.
Na carta, que circula nas redes sociais desde a última semana de 2018, o advogado solicita a presença de, pelo menos, um jardineiro nas principais praças do Centro; cobra o replantio de grama, árvores e arbustos; e pede a limpeza de fontes e das esculturas pichadas nesses espaços públicos. Até a quinta-feira (03/01), ele tinha conseguido a adesão de 196 pessoas.
“Quem passa pelas praças vê a situação de abandono”, declara Ubirajara Lopes de Carvalho, que já organizou mutirões com voluntários para limpar as Praças Maciel Pinheiro (Boa Vista) e Dezessete (bairro de Santo Antônio). “O Recife tem 1,6 milhão de habitantes e certamente muita gente está indignada com essa falta de cuidado com as praças”, destaca.
Frequentador das áreas públicas, ele cita o uso das praças como sanitário, ponto de encontro de usuários de drogas, depósito de lixo e local de moradia de sem-teto. “Vi pessoas jogando fraldas de bebê no tanque da Praça da Independência (bairro de Santo Antônio) e flagrei pessoas cozinhando com fogareiros improvisados em tijolos na mesma praça.”
A ideia da carta, diz ele, é mostrar que nem todos são omissos. “Estamos insatisfeitos e não podemos ser coniventes”, comenta o advogado. Segundo ele, o abaixo-assinado será enviado de forma virtual a Geraldo Julio. “Mas, se conseguir reunir os mil nomes pretendo imprimir as folhas e entregar pessoalmente ao prefeito”, avisa Ubirajara Carvalho.
Interessados em aderir ao protesto podem acessar a carta pelo Facebook, nas páginas Amantes do Recife, Eu Amo o Recife de Coração, Ubirajara Amante do Recife e Amantes de Pernambuco.
A situação de abandono relatada pelo advogado pode ser verificada nas Praças Dom Vital (bairro de São José), Oswaldo Cruz (Soledade), do Campo Santo e 11 de Junho (Santo Amaro) entre outras. A Praça Dom Vital é cercada por barracas de vendedores de frutas e verduras, sem ordenamento. Na Praça do Campo Santo há moradores de rua dormindo em colchões, além de galos, galinhas e pintos ciscando o chão.
Com as pilastras pichadas, o coreto da Praça Oswaldo Cruz, serve de abrigo para moradores de ruas; os bancos de madeira estão quebrados; e os bancos de cimento foram pichados, assim como a base de sustentação dos bustos dos médicos sanitaristas Oswaldo Cruz e Amaury de Medeiros. E a Praça 11 de Junho, na Avenida Cruz Cabugá, teve brinquedos e gradis arrancados e levados.
Vândalos também cobriram de pichações o painel confeccionado para a praça pelo artista plástico Francisco Brennand em homenagem à Batalha do Riachuelo, ocorrida em 11 de junho de 1865, durante a Guerra do Paraguai. O piso está quebrado e falta grama. Na manhã de ontem, começo das férias de janeiro, não havia frequentadores nesses espaços, com exceção da Praça do Campo Santo.
“Os brinquedos até estão ajeitados, mas falta limpeza. A varrição é feita de 15 em 15 dias”, lamenta Rita Maria da Cunha, 68 anos. Ela vende cachorro-quente na calçada da praça, junto do Cemitério de Santo Amaro, há um ano.
A gerente-geral de Infraestrutura de Praças da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), Ana Lapa, reconhece os danos físicos e o mau uso das áreas de lazer e afirma que a prefeitura tem trabalhado nos reparos necessários. “Nós fazemos a manutenção das praças, mas enfrentamos um problema social grande na cidade com pessoas que não têm moradia e ocupam esses espaços com colchões”, pondera Ana Lapa.
Segundo ela, a questão específica dos moradores de rua, mais acentuada nas praças localizadas na área central, é tratada pela Emlurb de forma conjunta com outras secretarias. “Nós limpamos o lago da Praça Oswaldo Cruz há pouco tempo e a varrição é feita todos os dias. Porém, não conseguimos resolver a ocupação do coreto por moradores de rua, eles tomam banho lá”, declara.
A Praça do Campo Santo, informa Ana Lapa, estava toda recuperada em 2018 para receber o público em visita ao Cemitério de Santo Amaro no Dia de Finados, 2 de novembro. “Novamente enfrentamos o problema de moradores de rua.” Com relação à Praça 11 de Junho, ela disse que a Emlurb vai substituir a tela avariada no campo de futebol e que não está prevista a reposição dos brinquedos furtados.
“Como levaram partes do gradil eu pedi para tirar tudo e vou reaproveitar o que sobrou em outras quadras, a população não faz uso daquela praça”, diz Ana Lapa. Questionada sobre a grama seca, ela disse que áreas gramadas precisam de poço com água para a rega e isso cria um problema ambiental. “O poço é chamariz para lavadores de carro.”
Ela também relata o roubo das bombas, com frequência, e cita como exemplo a Praça Ministro Salgado Filho, no Ibura, bairro da Zona Sul, na frente do Aeroporto Internacional do Recife. “Toda semana botamos uma bomba na praça do aeroporto.” A cidade do Recife tem mais de 660 praças, parques e refúgios, afirma Ana Lapa.