Localizado na Praça Machado de Assis, esquina com a Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife, o Edifício Santa Rita foi projetado em 1962 pelo arquiteto modernista Delfim Amorim. Como quase todo prédio antigo, tem problemas com as redes elétrica e hidráulica. E pouco dinheiro para executar as obras de melhoria.
“O que eu costumo fazer é providenciar o conserto assim que uma coisa se quebra para não deixar a avaria crescer, porque restaurar é mais caro”, declara Sônia Almeida, síndica do Edifício Santa Rita e moradora do prédio há 30 anos. O edifício tem 12 andares, mais a cobertura, onde estão distribuídos 72 apartamentos com tamanhos variados.
Os recursos para manutenção são provenientes do pagamento da taxa de condomínio dos moradores e dos comerciantes que ocupam o andar térreo da edificação. “São 12 lojas e eles pagam apenas R$ 72 por mês porque não usam o elevador, como o contrato é antigo não temos como atualizar esse valor”, diz Sônia Almeida.
Com o dinheiro disponível ela trocou canos de ferro de uma das colunas por outros de PVC, para reduzir vazamentos. “Temos 12 colunas e nas outras substituí só uma parte dos canos, o serviço não está completo”, afirma. Outra intervenção necessária no Edifício Santa Rita, destaca, é a transferência do transformador da área interna do prédio, no bairro da Boa Vista, para o lado externo do condomínio.
“Procurei a Celpe para nos ajudar e me pediram para providenciar um projeto. Só o projeto custa R$ 10 mil e a mão de obra com o material está estimada em R$ 60 mil. Somos um grande consumidor de energia, a Celpe poderia ser mais parceira e facilitar a nossa vida. Ela faria a transferência e a gente pagaria pelo trabalho. O prédio pode não ser tombado, mas é um patrimônio do Recife”, pondera Sônia Almeida.
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Um dos projetos da síndica é aproveitar a cobertura da edificação para captar energia solar e usar em áreas comuns do condomínio. “Não encontramos apoio”, reforça. Ela sente falta de mais fiscalizações no prédio por parte dos órgãos públicos. Aliado a isso, nem todos os moradores do Edifício Santa Rita colaboram com a preservação do residencial, diz ela.
“Alguns querem arrancar paredes em modificações internas, outros furam azulejos para botar ar-condicionado, falta delicadeza”, comenta. Os azulejos que revestem o Edifício Santa Rita foram desenhados pelo arquiteto português naturalizado brasileiro Delfim Amorim. “As pessoas não sabem valorizar o que têm. Estamos bem localizados, nossa quitinete tem 72 metros quadrados, é maior do que apartamentos construídos hoje”, comenta. A inadimplência é de 20% e ela negocia diretamente com moradores as dívidas atrasadas do condomínio.
APOLO
No bairro vizinho de Santo Amaro, no Centro do Recife, outra mulher se esforça para manter em bom funcionamento o Edifício Apolo XXI, construído em 1973 na Rua dos Palmares. Rúbia Duarte Seixas, síndica há três meses, divide com os moradores a responsabilidade de cuidar de um prédio de uso misto que tem 21 andares, 126 apartamentos para moradia (seis por andar) e oito lojas comerciais no térreo.
Foto: Leo Motta/JC Imagem
Apoiada pelo marido, Charles Douglas Seixas, síndico por quatro anos com mandato até o fim de 2018, ela está providenciando projeto elétrico para apresentar à Celpe, e pretende pintar as paredes das áreas comuns de todos os andares, em parceria com os moradores. “A pintura é o próximo desafio”, diz Rúbia Seixas, moradora do Apolo XXI há 19 anos. Nos últimos quatro anos o condomínio conseguiu corrigir problemas sem recorrer a taxa extra.
“Estamos nos encaixando nas exigências dos Bombeiros e da Defesa Civil. Colocamos rampa, corrimão e grade de proteção na entrada do prédio, organizamos a portaria, instalamos mais um elevador (agora são dois) e atualizamos todas as obrigações socais com os funcionários”, informa Charles Seixas. A fiação desordenada foi retirada e o Edifício Apolo ganhou interfone.
Rúbia e Charles arrumaram e deixaram em condições de uso duas quitinetes que estavam fechadas e pertencem ao condomínio. “Alugamos as duas, a menor por R$ 500 ao mês e a maior por R$ 800. O dinheiro nos ajuda nas despesas do prédio, precisamos encontrar alternativas”, diz Rúbia Seixas. “Quando os moradores começaram a ver as mudanças passaram a pagar o condomínio e a colaborar com as ações, eles viram retorno e hoje temos 30% de inadimplência”, completa Charles Seixas.
PREVENÇÃO
“Por enquanto, toda a manutenção feita é corretiva, mas já estamos começando ações preventivas”, afirmam Rúbia e Charles Seixas. A interdição do Holiday, segundo eles, deixa a todos preocupados.
A situação do prédio de Boa Viagem, na avaliação do arquiteto e urbanista Geraldo Marinho, que trabalha com consultoria, “pode ser prenúncio de outros (casos) que estão germinando.” O assunto, diz ele, requer um debate mais amplo na cidade. “A reabilitação do Holiday não será resolvida com a capacidade financeira dos condôminos”, alerta.