Urbanismo

Proposta prevê desenvolvimento com preservação no Centro do Recife

O assunto foi discutido por arquitetos e urbanistas em seminário internacional direcionado a quatro bairros do Centro do Recife: Santo Antônio, São José, Cabanga e Ilha Joana Bezerra

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 17/09/2019 às 12:30
Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
O assunto foi discutido por arquitetos e urbanistas em seminário internacional direcionado a quatro bairros do Centro do Recife: Santo Antônio, São José, Cabanga e Ilha Joana Bezerra - FOTO: Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
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A Ilha de Antônio Vaz compreende os bairros de Santo Antônio, São José, Cabanga e Joana Bezerra, no Centro do Recife. Com 5,75 quilômetros quadrados, ocupa 3% da área total da cidade e abriga apenas 1% da população residente na capital pernambucana. Lugar que viu o Recife nascer e se desenvolver, a chamada Ilha de Antônio Vaz desponta como laboratório para a implantação de um novo padrão de urbanismo.

“Aquele modelo antigo de fazer a cidade, voltado para carros, com muros altos fechando prédio e segregações, se esgotou”, afirma o arquiteto, urbanista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Roberto Montezuma. De acordo com ele, os bairros que compõe a ilha necessitam de investimentos, mas as ações precisam agregar a população, respeitar as edificações já existentes, ampliar a oferta de área verde e resgatar o contato das pessoas com rios e canais.

Uma proposta amparada nesses pilares, que em breve será lançada para a sociedade e apresentada à prefeitura, convida poder público, iniciativa privada e moradores a fazer um pacto com os quatro bairros, destaca o também arquiteto e urbanista da UFPE Fabiano Diniz. O pacto, diz ele, é a contribuição do seminário Exchange Amsterdã (RXA) para a cidade. O encontro reuniu arquitetos e urbanistas do Brasil, Holanda e França no Forte das Cinco Pontas, no Centro do Recife, na primeira semana de setembro de 2019.

Proposta

Depois de cinco dias de debates, oficinas e visitas aos bairros, os participantes do seminário sugeriram a criação de um caminho arborizado para ligar a Ilha de Antônio Vaz de uma ponta a outra, pela Avenida Dantas Barreto. O trajeto começa no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, situado na Praça da República, em Santo Antônio. A praça é o mais antigo jardim público do Recife e tem origem no período holandês, no século 17.

Na época do holandeses, a área hoje denominada Praça da República era um jardim renascentista no Centro do Recife, com plantas, viveiros de peixes e criação de animais, informa o arquiteto paisagista da UFPE Luiz Vieira. “O jardim ficava no Palácio de Friburgo de Maurício de Nassau, governador do Brasil holandês (1637-1644), e tinha um conceito moderno pois servia para produção, não era só ornamental”, destaca Luiz Vieira.

Saindo do Palácio do Governo, o caminho proposto no seminário internacional cruza o bairro de São José; segue pelo Cais José Estelita na direção da Cabanga margeando a Bacia do Pina, lugar onde os Rios Capibaribe (braço sul), Tejipió, Pina e Jordão se encontram; continua por baixo do Viaduto Capitão Temudo; envereda pelo Coque (Ilha Joana Bezerra) e desemboca defronte da Ilha do Zeca, em Afogados, Zona Oeste.

Novo olhar

“Seria uma travessia usando a Avenida Dantas Barreto como o grande eixo integrador”, explica Luiz Vieira. No percurso há igrejas históricas, praças, pátios, museus e outros atrativos culturais materiais e imateriais para serem explorados. Os urbanistas defendem a ampliação da cobertura vegetal e indicam trechos para construção de pontes que podem unir lugares hoje desconectados no Centro do Recife.

Coordenadores do seminário, os três arquitetos esclarecem que o produto final do RXA não são projetos, mas ideias que poderão nortear políticas públicas com equilíbrio entre o novo e o antigo. Eles propõem a consolidação das áreas pobres, como o Coque (Ilha Joana Bezerra e São José) garantindo a permanência dos moradores e as características populares desse locais, com melhoria na infraestrutura.

Para o trecho da Cabanga e de São José a sugestão é compatibilizar novos empreendimentos com as edificações antigas. E em São José e Santo Antônio a ideia seria dinamizar as atividades econômicas e estimular as ocupação de prédios desocupados ou subutilizados. “É uma visão macro para ser desenvolvida de forma coletiva no Centro do Recife”, reforça Roberto Montezuma.

O ponto principal, resumem os arquitetos, é tratar a Ilha de Antônio Vaz como um só lugar, sem setorização, mas respeitando as características individuais de cada localidade. “Esse é um lugar único no Recife, com registros da evolução urbana desde o século 17 até o século 21”, destacam Roberto Montezuma e Fabiano Diniz.

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