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Grupo de Maracatu do Pina, no Recife, busca apoio para concluir sede

O grupo promove oficinas, rodas de conversa, aulas de percussão, capoeira, dança, além de reforço escolar e apoio pedagógico a crianças e adolescentes

Da editoria de Cidades
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Publicado em 26/09/2019 às 9:00
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O grupo promove oficinas, rodas de conversa, aulas de percussão, capoeira, dança, além de reforço escolar e apoio pedagógico a crianças e adolescentes - FOTO: Foto: Bianca Sousa/JC Imagem
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A Nação do Maracatu Encanto do Pina precisa de ajuda para concluir a reforma e ampliação da sede, na Comunidade do Bode, na Zona Sul do Recife. O local é onde acontecem os ensaios, oficinas, rodas de conversa, aulas de percussão, capoeira, dança, além de reforço escolar e apoio pedagógico a crianças e adolescentes. Não há espaço para os mais de cem membros nem para todas as atividades. Algumas são feitas na rua.

Para dar crescimento ao trabalho, a Nação lançou uma campanha de financiamento coletivo com a meta de levantar até R$ 63,5 mil. As obras começaram em junho, mas o dinheiro já arrecadado só foi suficiente para dar entrada no pagamento do serviço. Para ajudar, os interessados podem doar pelo site www.catarse.me/encanto.

A mestra Joana Cavalcante, que está à frente do Encanto do Pina, classifica a requalificação como um sonho. “Por ser mangue, as estruturas [da casa] não eram bem feitas, da forma que a gente queria. E como os moradores do lado sempre fazem construção, a nossa estava rachando, com risco de desabamento. Então a gente teve que de urgência iniciar essa reforma”, conta. 

Sempre presente nos carnavais do Recife, a Nação foi fundada em 1980. Nesses 39 anos, a sua atuação expandiu para além da música e hoje abarca também ações sociais. 

Exemplo disso é o braço infantil do grupo. O Encantinho promove atividades culturais pela semana, e, aos sábados, oferece orientação pedagógica aos cerca de 50 jovens. Para participar do programa, o requisito é um: ir bem na escola.

“A gente trabalha a questão de identidade, o resgate de afirmação cultural, de valorização pessoal e da comunidade onde moram”, explica a pedagoga Mariana Bianchi. “A gente acredita muito na visão de que eles podem ter de uma narrativa diferente, não só do futuro, mas do que eles estão vivendo agora. Eles precisam fortalecer essa base para poder ter esse caminhar, esse crescimento.” 

E, na sua visão, a ação tem gerado transformação social. “A nova geração já enxerga o mundo com outro olhar, começa a valorizar os estudos, o trabalho, a vida. A gente martela muito essa tecla de viver num coletivo, socialmente e igualmente”, afirma. “A gente também acredita no estímulo para não só para ver o maracatu como o tocar, mas como uma família”, diz. 

E é exatamente assim que eles enxergam. Dois anos atrás, o som do maracatu guiou Gabriel da Silva, agora com 13, até os ensaios. “Eu vim, fiquei olhando... e gostei. Aí comecei a vir”, relembra. O que chamou a atenção do menino? “O baque. O brilho. A emoção”, afirma com entusiasmo. Gabriel ainda faz capoeira, reforço escolar, e as aulas de percussão. Nesse tempo, formou um laço com o lugar. “Me sinto feliz em tocar maracatu. Aqui é minha segunda casa.”  

Fábio da Silva Melo, 15, chegou para o primeiro ensaio sete anos atrás, também atraído pelo barulho. Agora, é quem puxa o baque do grupo mirim. Com a experiência que tem, ensina percussão aos mais novos e os ajuda com os instrumentos. A reforma o anima. “Vai ficar melhor pra gente ensaiar, fazer as atividades”, fala.

Assim como ele, Doralicy Lima, 16, a mais velha do Encantinho, também auxilia as crianças. Para ela, fazer parte da Nação é gratificante. “Conheci o maracatu através da minha irmã. Quando cheguei, todo mundo me acolheu, toquei, e estou aqui até hoje.”

Doralicy toca com seus dois irmãos, Erivannia, de 18, e George, de 11. A tradição começou com sua mãe, Ana Paula Lima, 39, que há 11 anos frequenta o espaço. 

Ana Paula testemunhou de perto o impacto social da organização. “Minha vida mudou muito depois do grupo”, enfatiza. Emocionada, ela relembra um episódio que viveu com George, quando ele tinha só nove anos.

“A gente morava em outra rua, e ele via muita coisa lá de cima de casa. Chegou a época do Natal, e ele disse que tinha pedido uma pistola ao Papai Noel, de tanto que ele via”. A família precisou se mudar, e, com apoio da Mestra Joana Cavalcante, foi para perto da sede. “A pedagoga conversou muito com George, tirou isso da cabeça dele, que criança não brinca com arma. O Maracatu é muito família. É nossa família Encantada”, conta com gratidão.

Mulheres

Outra iniciativas da Nação é o Baque Mulher, grupo exclusivo para as batuqueiras.

“Ele iniciou com a necessidade de ter um espaço só nosso para a gente tocar junta e se empoderar. E a gente sabe que quando se reúne mulheres, vêm a tona toda as problemáticas do cotidiano. Com isso, a gente teve outra missão: a de trabalhar dentro da comunidade o empoderamento feminino”, cita.

A ramificação parece natural. Afinal, Joana é a única mulher mestra de Maracatu do baque virado do mundo. E é nesse espírito de orgulho e representatividade que ela conduz o grupo, inspirando outras pessoas. “Como a Nação atrai várias pessoas de fora, outras mulheres vêm acompanhando nosso trabalho e foram aderindo e levando para suas cidades. Já estamos com em torno de 40 filiais e em 30 cidades.”

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